SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Vibra Energia, que antes era chamada de BR Distribuidora mas mudou de nome após a Petrobras deixar de ser sócia da companhia em um processo de privatização, conseguiu levantar nesta semana R$ 1,5 bilhão com a emissão de debêntures de transição verde.
A operação foi considerada uma vitória internamente, após uma polêmica atrapalhar a captação.
Segundo pessoas próximas da operação, a compra de um prédio que a empresa alugava desde a época que ainda era estatal deixou investidores do mercado de capitais de dívida com o pé atrás.
O prédio em questão que fica no centro do Rio de Janeiro é da incorporadora Confidere, que celebrou em 2011 um contrato de aluguel do imóvel com a então BR Distribuidora.
Quando a Vibra foi privatizada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), a companhia solicitou uma revisão do quanto pagava de aluguel, já que o preço era considerado muito superior ao valor de mercado, segundo uma fonte próxima da empresa.
Nesse meio-tempo, a Confidere entrou em processo de execuções judiciais (pré-falimentar) e o prédio onde a Vibra está estabelecida no Rio de Janeiro foi leiloado. A companhia então decidiu comprar o imóvel, para manter sua operação ali sem pagar aluguel.
Para o mercado de ações, a novidade foi positiva já que a mudança vai melhorar as margens da companhia no longo prazo. O problema é que, no mercado de dívidas, a compra deixou investidores irritados.
Acontece que, antes do processo de falência, a Confidere emitiu CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) no mercado de longo prazo (18 anos) com lastro no aluguel da então BR Distribuidora.
O imóvel em si não foi colocado como garantia. Ou seja, o risco da operação não era a Confidere e sim a BR, que aceitou na época essa condição.
Contudo, com a compra do imóvel, a agora Vibra Energia, por lógica, deixou de pagar os aluguéis, única garantia de pagamento do título de dívida, o que prejudica os retornos dos investidores que compraram os CRIs.
A aquisição do imóvel gerou um clima hostil no mercado, que até acabou atrasando o cronograma previsto para a oferta dos títulos.
Mesmo assim, a operação foi bem-sucedida em parte pela intervenção dos bancos que coordenaram a emissão dos títulos de dívida, importante para o convencimento dos investidores. Contribuiu também a nota de crédito que a Moody’s local deu aos títulos -AAA.br, que é a mais alta dada pela agência de classificação de risco.
O valor levantado está dentro do que era esperado pela empresa. O encerramento da emissão das debêntures simples, ou seja, não conversíveis em ações, aconteceu em duas séries na terça-feira (7) e teve participação dos bancos UBS BB, Santander, Itaú BBA e Bradesco BBI.
Estava prevista também a emissão de um lote adicional, que somaria uma captação de R$ 2 bilhões, mas a companhia teve dificuldades para colocar os papéis no mercado.
As debêntures da primeira série serão remuneradas pela taxa DI (Depósito Interfinanceiro) de um dia mais 1,07% ao ano e vencem em sete anos, ou seja, abril de 2031.
As debêntures da segunda série serão remuneradas pela taxa DI de um dia mais 1,25% ao ano e vencem em dez anos, ou seja, em abril de 2034.
Procurada, a Vibra disse considerar “que seu objetivo de captar recursos a taxas e prazos competitivos foi plenamente satisfeito, tendo sido bem-sucedido mesmo em um cenário macroeconômico desafiador”.
A companhia ainda se disse lesada pela situação com a Confidere, assim como os tomadores dos CRIs da incorporadora. “Ressaltamos nossa solidariedade aos investidores que, assim como a Vibra, foram lesados nessa operação”, disse em nota enviada à reportagem.
O valor levantado com a oferta será utilizado pela Vibra em atividades relacionadas à transição energética, expostas em um framework pela companhia. Entre elas estão a diminuição de suas emissões diretas de gases de efeito estufa, “principalmente as de combustão móvel e fugitivas”.
Também está prevista a ampliação da parcela de uso de fontes renováveis, a substituição do modal rodoviário por ferrovia e cabotagem, utilização de caminhão elétrico na frota, aumento na oferta de biocombustíveis, como diesel verde, etanol e biometano, além da geração de energia verde, como a solar.
A Vibra afirmou em documento anexado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que a oferta dos títulos foi destinada exclusivamente a investidores profissionais.
Do total de 1,5 milhão de debêntures emitidas, no valor de R$ 1.000 cada, 89,7% estão com fundos de investimentos, e o restante foi adquirido por instituições financeiras.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress