Cresce o número de mulheres que deram à luz de 35 a 44 anos em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As mulheres do estado de São Paulo estão se tornando mães mais tarde. De acordo com uma pesquisa da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), a taxa de mulheres que deram à luz de 35 a 39 anos foi de 38 (a cada mil), em 2010, para 43, em 2021. Houve aumento, ainda, na faixa dos 40 a 44 anos, de 10, em 2010, para 12, em 2021.

Os dados são os mais atualizados, segundo a demógrafa Lucia Yazaki, responsável pelo estudo. O levantamento utiliza dados de mulheres de 15 a 49 anos, consideradas na idade fértil pelos pesquisadores.

A especialista em fecundidade afirma que essa é uma tendência observada há décadas, que acontece “praticamente ano a ano”. Nos anos 1990, o que chamava a atenção era a taxa de fecundidade elevada na faixa etária de 15 a 19 anos. Na pesquisa divulgada neste ano, a taxa registrada no grupo é de 33, enquanto em 2010, foi de 52.

“O pico está se deslocando para o grupo de 25 a 29 anos”, diz Yazaki. E, segundo a especialista, engloba também as mulheres de 34 a 39 anos como as protagonistas da fecundidade no estado.

O que se conclui a partir desses dados é uma tendência que se observa na prática: as mulheres estão tendo filhos cada vez mais tarde.

Os motivos são variados, mas, de acordo com a demógrafa, são muito relacionados com aumento de escolaridade e acesso à informação. Projetos pessoais também entram na conta.

Marina Silva Cunha, professora de economia da UEM (Universidade Estadual de Maringá), diz ainda que o conhecimento sobre métodos contraceptivos e a participação feminina no mercado de trabalho também contam pontos no adiamento da maternidade.

Fabiana Batistela, 42, é um exemplo desse cenário. Ela tem apenas um filho, Luiz, 4. Filha de pais que não viveram um casamento infeliz na sua percepção, ela não via na maternidade um sonho.

“Sou a primeira mulher da minha família a se formar e a primeira e única mulher da minha família a sustentar uma casa”, diz. Ela conta que, quando foi chegando perto dos 30 anos, veio a vontade de ter filhos. “Esperei aparecer uma pessoa assim para ter uma família. Só que isso nunca aconteceu.”

Aos 38 anos, sem perspectiva de um relacionamento, começou a se sentir pressionada pelos médicos a respeito da fecundidade. As informações que Fabiana ouvia eram sempre negativas. Enquanto um dizia que depois da sua idade o parto não poderia ser normal, outro afirmava que a cada mês suas chances eram reduzidas.

Buscou, então, uma clínica para fazer FIV (fertilização in vitro) e levar a cabo uma maternidade solo —e ouviu de sua médica que tal decisão se tornava cada vez mais comum.

Karina Gonçalves de Oliveira, 45, mãe de Carolina, 11, e Paulo, 5, também adiou a maternidade para que ocorresse em um momento mais oportuno. As duas gestações foram planejadas para acontecer em um momento em que ela e o marido, Marcos, estivessem preparados.

“Foi uma decisão muito pensada”, diz ela. “Eu e meu marido havíamos viajado muito, estávamos estáveis economicamente.” Ela conta que, antes mesmo de engravidar, já tinha até o nome do bebê decidido.

Aos 34, então, nasceu Carolina. Apesar da gestação tranquila, Karina teve um puerpério intenso, o que levou o casal a demorar mais para ter o segundo filho. Aos 40, deu à luz a Paulo.

O levantamento também aponta mudança na média de filhos por mulher. Hoje, fica em torno de 1,4 em SP, segundo Yazaki, apontando para queda. Com isso, o estado acompanha uma tendência que é observada em diversos países, inclusive no Brasil.

Segundo Cunha, dados do Banco Mundial mostram que a taxa de fecundidade mundial em 1961 era de 5 filhos por mulher. O número caiu para 3,7 em 1980 e chegou a 2,5 em 2015. No Brasil, chegou a 1,7 em 2017, número comparável ao de países desenvolvidos como Austrália, Inglaterra, Holanda e Noruega.

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BÁRBARA BLUM / Folhapress

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