SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os soldados de Vladimir Putin avançaram neste domingo (12) na nova frente da Guerra da Ucrânia, no norte do país invadido em 2022. “A situação é difícil, mas as forças de defesa estão fazendo de tudo para manter as linhas defensivas, inflingindo danos ao inimigo”, disse o chefe militar de Kiev, general Oleksandr Sirskii.
Ele escreveu no Telegram que seus militares estão “lutando batalhas defensivas ferozes” na região de Kharkiv, que sofre uma invasão terrestre a partir da fronteira com a região russa de Belgorodo desde a sexta (10).
Neste domingo, o Ministério da Defesa russo disse que conquistou mais quatro vilarejos, após ter tomado cinco no sábado (11). A Ucrânia não confirmou a informação, corroborada por observadores militares da Rússia, mas determinou a evacuação de civis da área.
A ação de Putin pode expor Kharkiv, a capital regional e segunda maior cidade do país após Kiev, a um novo cerco. Em 2022, os ucranianos conseguiram expulsar os invasores russos da região, mas desde o fim do ano passado eles voltaram a avançar –primeiro, lentamente pelo leste ocupado da Ucrânia, e agora com essa ação de grande porte ao norte.
O objetivo primário parece ser o de criar uma zona tampão na fronteira, afastando os sistemas de mísseis ucranianos do alcance do sul russo, particularmente Belgorodo, a capital da região homônima que vem sendo bastante afetada por ataques.
Neste domingo, as defesas russas abateram um míssil balístico Totchka-U sobre a cidade, mas os destroços atingiram um edifício, que teve toda uma seção destruída. Ao menos 7 pessoas morreram e 15, ficaram feridas, segundo o governo local.
Foi um dos mais mortíferos ataques ucranianos na região. A Rússia disse ter localizado os dois lançadores dos projéteis e os destruído com ataques aéreos. O Totchka-U é um sistema soviético operado pela Ucrânia –a Rússia o retirou de serviço em 2020, mas há relatos de seu emprego na guerra.
A criação da zona tampão havia sido prometida por Putin após a intensificação de ataques contra solo russo, incluindo sua infraestrutura energética. Também neste domingo, um drone de Kiev atingiu e provocou um incêndio em uma refinaria em Volgogrado, a pouco mais de 900 km da fronteira ucraniana.
Enquanto a tomada de Kharkiv, cidade de 1,3 milhão de habitantes hoje, parece algo que demanda uma operação maior, há o risco de ela voltar a ser sitiada. Aí, os bombardeios que hoje são feitos majoritariamente com mísseis e drones sobre o local podem ser substituídos por mais baratas e fartas munições de artilharia.
Um objetivo da campanha russa já foi alcançado: o de desviar forças defensivas de outras partes da frente de batalha, que tem mais de 1.000 km. Os avanços da Rússia no leste a partir de fevereiro, quando já estava morta e enterrada a contraofensiva de 2023 dos ucranianos, já colocam a tomada total da região de Donetsk no horizonte.
No papel, Putin anexou quatro regiões ucranianas de forma ilegal em 2022: Donetsk e Lugansk no leste, Zaporíjia e Kherson ao sul, formando assim uma ligação terrestre entre seu território e a Crimeia, anexada em 2014 nos primórdios do conflito que explodiu em 2022.
De todas elas, Donetsk era a mais disputada: até a virada do ano, talvez 45% do território estava em mãos ucranianas. Isso foi reduzido sensivelmente desde a queda de Avdiivka, cidade que resistiu por dez anos às investidas de russos e separatistas aliados a Moscou.
Zaporíjia e Kherson são casos mais complexos, contudo, já que o rio Dnipro forma uma barreira natural entre as forças rivais. A especulação de que Putin quer a região de Kharkiv, que em tempos soviéticos era um importante centro de produção militar, e toda a costa sul da Ucrânia até a região étnica russa da Transdnístria, em Moldova, paira sobre as análises do conflito.
Por ora, contudo, não parece haver força para tanto e, tendo aprendido a lição com o fracasso em tomar Kiev no começo da guerra por falta de pessoal, táticas erradas e resistência imprevista, tudo sugere que Moscou aposta no desgaste múltiplo da frente, em especial enquanto a nova ajuda ocidental prometida em armas não chega.
IGOR GIELOW / Folhapress