RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Rio Grande do Sul volta a registrar fortes chuvas neste final de semana de Dia das Mães. Com o aumento do nível de rios, autoridades alertam para o risco de mais inundações a partir deste domingo (12).
O governo estadual e prefeituras de municípios ameaçados orientam a população a buscar ou permanecer em locais seguros. Alertas da Defesa Civil do Rio Grande do Sul apontam riscos de “inundações severas” em regiões como os vales do Caí e do Taquari.
Áreas como essas e a região metropolitana de Porto Alegre ainda amargam os impactos das enxurradas que deixaram um rastro de mortes e destruição nas últimas semanas. O cenário ganha contornos ainda mais dramáticos com a queda das temperaturas, o que aumenta os desafios da população em abrigos.
O IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) disse que todos os cenários reafirmam uma “cheia duradoura” para o lago Guaíba, em Porto Alegre, com elevação do nível de água para mais de cinco metros.
Segundo a instituição, o valor máximo entre segunda (13) e terça (14) pode ficar em torno de 5,5 metros, dependendo das chuvas adicionais e do vento sul. Isso renovaria mais uma vez o novo recorde histórico. Neste mês, o pico já alcançou em torno de 5,3 metros, aponta o instituto.
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul também afirmou na manhã deste domingo que o nível do Guaíba pode voltar a ultrapassar os cinco metros. O quadro é registrado com as fortes chuvas e a vazão da água de rios de outras regiões do estado.
O nível do Guaíba vinha em queda, mas voltou a subir neste final de semana. Segundo monitoramento divulgado pelo governo gaúcho, o patamar estava em 4,64 metros às 15h deste domingo.
O número é considerado alto. Quando o lago atinge 2,5 metros, é emitido um alerta. Quando chega a três metros, é registrada inundação.
Porto Alegre vive a pior enchente de sua história. Ruas e avenidas ficaram alagadas, e o aeroporto Salgado Filho está fechado devido ao acúmulo de água na pista e em áreas internas.
“O Guaíba voltou a apresentar elevação dos níveis, com expectativa de se elevar para valores acima dos 5 metros, conforme a chegada da vazão pelos rios contribuintes e a atuação dos ventos”, afirmou a Defesa Civil neste domingo.
“Em função dessa chuva volumosa, praticamente todos os grandes rios do estado apresentam tendência de elevação, com elevações rápidas em cotas de inundação nas bacias dos rios Caí e Taquari, e posteriormente no Jacuí, sendo que as cidades no delta das respectivas bacias ainda estão em cotas de alerta ou inundação”, acrescentou.
De acordo com a Climatempo, Porto Alegre registra o início de maio mais chuvoso desde o começo das medições regulares, em 1961. A empresa indicou que, de 1º de maio até as 9h deste domingo, a estação meteorológica do Jardim Botânico, na zona norte da cidade, registrou 306 mm. É quase o triplo da média (113 mm).
PREFEITOS ALERTAM PARA NOVAS CHEIAS
Em Lajeado (a cerca de 120 km de Porto Alegre), no Vale do Taquari, o prefeito Marcelo Caumo disse nesta manhã que o domingo de Dia das Mães será de “muito trabalho”. Ele indicou que a projeção é de uma nova cheia na cidade.
Lajeado é o município onde uma loja da rede Havan ficou tomada pela água na fase inicial desta crise climática. A fotografia da cena ganhou ampla repercussão nos últimos dias.
“O rio já ultrapassou a cota de 22 metros. Vamos ter mais uma grande cheia. A chuva se avolumou nas cabeceiras durante a noite”, afirmou Caumo.
Às 15h30 deste domingo, o nível do rio atingiu 24,25 metros. Segundo a Defesa Civil municipal, esse número pode chegar a 29 metros até esta segunda (13).
Conforme a Prefeitura de Lajeado, as primeiras residências são atingidas quando o Taquari alcança o patamar de 19,8 metros. A orientação é para que a população fique em locais seguros.
Também há alerta em outros municípios do Vale do Taquari. Em Muçum (a cerca de 150 km de Porto Alegre), o prefeito Mateus Trojan pediu nesta manhã que as pessoas em áreas de inundação se retirem de casa.
“Já estamos nos aproximando da cota de inundação. Vamos chegar, certamente, a pelo menos 20 metros. A tendência é de que tenhamos elevação maior”, disse.
“Ainda não parou de chover em algumas regiões mais altas. Tem muita água para vir das nossas cabeceiras. As vazões das barragens apresentam elevação muito significativa.”
A região do Vale do Caí é outra afetada pelas novas chuvas. A Prefeitura de São Sebastião do Caí (a cerca de 60 km da capital) afirmou que o rio continua em elevação no município vizinho de Feliz e disse que o nível vai ultrapassar os 16 metros.
Às 17h deste domingo, o nível do rio estava em 14,8 metros a partir de 10,5 metros é considerado está na cota de inundação.
A orientação local também é para que pessoas em risco deixem suas casas. Segundo a prefeitura, o entulho levado por inundações para as ruas dificulta o acesso de barcos que realizam salvamentos.
“Nos rios Gravataí e Sinos, continua o represamento das águas na confluência dos rios no delta do Jacuí com o Guaíba, com a manutenção dos níveis ainda elevados e retorno da elevação. No baixo rio Uruguai, já se observa uma estabilidade e declínio a partir de São Borja”, afirmou a Defesa Civil.
As novas chuvas deste fim de semana causaram temores de mais desastres. “Muita gente vê a chuva e está traumatizada. A gente nota o susto das pessoas. A gente sabe que quando chove acaba aumentando mais a água”, disse à agência AFP Enio Posti, bombeiro de Porto Alegre.
A preocupação com as enchentes chega a cidades do sul do estado. É o caso de Pelotas (a 260 km de Porto Alegre), onde a previsão é atravessar de segunda (13) a quarta-feira (15) o momento mais grave.
Conforme a prefeitura local, a projeção leva em conta o tempo necessário para movimentação das águas do lago Guaíba, em Porto Alegre, em direção à lagoa dos Patos. A lagoa banha municípios da chamada Costa Doce, inclusive Pelotas.
LEONARDO VIECELI E ISABELA PALHARES / Folhapress