MARINGÁ, PR (FOLHAPRESS) – Terceira maior cidade do Paraná, Maringá, na região noroeste do estado, tem o melhor sistema de saneamento básico do país. De acordo com levantamento anual do Instituto Trata Brasil, o município saiu da 14ª posição na última edição para assumir a liderança do ranking de 2024.
O foco em reduzir as perdas e a facilidade garantida pela topografia plana da cidade, que ajudou na expansão da coleta de esgoto, explicam em parte a nota maior da município.
O saneamento básico é executado pela Sanepar, empresa de economia mista que atua em 344 dos 399 municípios paranaenses e um catarinense.
Também estão no ranking Cascavel (9º), Ponta Grossa (10º), Foz do Iguaçu (13º), Londrina (14º), São José dos Pinhais (22º) e Curitiba (23º). À exceção das duas últimas, todas subiram no ranking.
Maringá tem 409.657 habitantes, segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com a Sanepar, a água tratada chega a todos os imóveis da cidade, e a rede de esgoto, a mais de 99,9%. Todo o material coletado é tratado.
O período avaliado foi de 2018 a 2022. No quadriênio, o investimento em Maringá foi de R$ 136,2 milhões, o que equivale a R$ 62,41 per capita.
No mesmo período, na pesquisa anterior (2017-2021), o valor avaliado foi de R$ 117,18 milhões, o que equivale a R$ 57,21 por morador. E o PPI (planejamento plurianual de investimento) da companhia prevê R$ 300 milhões de investimentos em saneamento básico entre 2024 e 2028.
O índice de perda na distribuição caiu de 25,13% no relatório divulgado em 2023 para 23,39% na pesquisa deste ano.
O índice de perdas por ligação também caiu, de 157,28 litros por ligação por dia para 143,56 litros. Os indicadores de perda estão abaixo da média da própria companhia e bem abaixo da média nacional, que chega a 217,57 litros/ligação/dia.
Os níveis também estão bem acima do Marco Legal do Saneamento Básico, que prevê a universalização da distribuição de água potável e 90% de coleta e tratamento dos esgotos até 2030.
Segundo o gerente regional da Sanepar em Maringá, Vitor Gorzini, a vazão de distribuição de água tratada nas 30 zonas de abastecimento do município é monitorada em tempo real por meio de um software, o que permite checar a pressão nos locais mais desfavoráveis.
“Assim, caso seja identificada uma vazão muito maior para o horário, significa que há um vazamento e podemos fazer a manutenção rapidamente”, diz Gorzini.
O rastreio da vazão também permite verificar onde é possível reduzir a pressão da distribuição, também diminuindo os vazamentos ou as fugas de água que ocorrem na rede.
Além disso, o acompanhamento noturno é outro aliado, já que, enquanto a cidade dorme, um aumento no consumo indica perdas no sistema de abastecimento.
O software que permite acompanhar os níveis de abastecimento por toda Maringá funciona 24 horas por dia no CCO (Centro de Controle de Operações), onde profissionais checam diuturnamente os níveis de produção de água potável e o abastecimento dos 15 reservatórios distribuídos por toda a cidade.
Ao detectar qualquer alteração nos indicadores, pelo próprio software, os técnicos podem reduzir, suspender ou aumentar a vazão, de dentro do CCO.
REDUÇÃO DE PERDAS COM AÇÃO SOCIAL
O diretor-presidente da Sanepar, Claudio Stabile, afirma que a contenção de perdas, principal influência no posicionamento da companhia no ranking, não é apenas no cuidado com vazamentos na distribuição, mas, também, nas residências, em um trabalho social.
“Também há a redução de ligações clandestinas, trazendo essas famílias para o programa que chamamos de Água Solidária, Hoje, no Paraná, passamos de 361 mil famílias inscritas, que pagam 77% a menos que a tarifa normal”, diz.
Além da redução no valor do boleto, essas famílias também recebem recursos financeiros para a instalação de caixas-dágua.
Stabile afirma que o trabalho da Sanepar em Maringá não é diferente do executado em outros municípios. Entretanto, por ser uma das maiores cidades do estado e por outros facilitadores, como a topografia com poucos obstáculos, o saneamento básico está mais próximo da universalização total.
Porém, com o avanço dos investimentos nas cidades menores, o presidente diz que, em breve, mais localidades devem entrar no ranking.
“Quando chega a um certo ponto [de oferta dos serviços], não tem mais o que investir, a não ser no crescimento vegetativo. Mas pega um município que tinha 0% e teve 30% de esgoto [coletado e tratado], ele passa a ter um posicionamento melhor”, diz.
Algumas dificuldades encontradas são topografia e a obtenção de licenciamentos ambientais. “Mas são transponíveis. O problema, às vezes, é o tempo [para superar os obstáculos]”, afirma. Os investimentos em todo o estado para os próximos quatro anos chegam a R$ 11,5 bilhões.
Cidades pequenas, com 5.000 habitantes ou menos, nem sempre têm serviço de esgoto, mas a companhia criou uma política de PPP (parceria público-privada) para ampliar o serviço. Em maio, mais três lotes serão leiloados na B3 para implementar a coleta de efluentes.
LUÍS FERNANDO WILTEMBURG / Folhapress