RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Sete meses depois das enchentes no Vale do Taquari, região do Rio Grande do Sul, abrigos criados para a ocasião ainda têm moradores. A mesma realidade deve ser a de parte dos 770 locais de acolhimento para os desalojados pelas chuvas das últimas semanas que afetaram a maior parte do estado, segundo Beto Fantinel, secretário de Desenvolvimento Social.
A pasta planeja estruturar parte dos abrigos para atender às pessoas que ainda não tiverem conseguido encontrar onde morar.
“[Abrigos voluntários] estão lá em solidariedade, mas também têm a expectativa de retomar suas atividades. Precisamos realocar essas pessoas, então estamos trabalhando para que os municípios identifiquem espaços estratégicos que tenham melhores condições”, diz o secretário.
O Rio Grande do Sul tinha mais de 500 mil desalojados e 77 mil pessoas vivendo em abrigos nesta terça (14), segundo dados da Defesa Civil.
Além da estruturação dos espaços que recebem quem perdeu a casa, o governo estuda a possibilidade de ampliar a política de aluguel social, de acordo com o secretário. A iniciativa, que hoje abrange apenas pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza, pode ser expandida para outras categorias, com o objetivo de ajudar na desmobilização dos abrigos.
Políticas de auxílio financeiro e assistência à moradia serão adotadas para recuperar as residências perdidas. Fantinel diz que, nesta semana, o governo vai autorizar a construção de casas em cidades que foram afetadas, mas já têm condições para tocar a obra. Ainda não há informações da quantidade de moradias.
“Temos tentado construir um cardápio de opções para que as pessoas estejam em local seguro, mas talvez não seja de onde elas tenham vindo, se for um lugar de inundação frequente.”
Com o censo dos abrigos, a pasta coleta dados que indiquem quais são as demandas urgentes e as direcionam às secretarias competentes. Nesta semana, o governo do estado anunciou a destinação de R$ 12 milhões para atender os alojamentos
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Social, isso envolve desde recursos materiais como alimentos e cobertores até a necessidade de profissionais de segurança e saúde. A última parcial analisou 197 abrigos em 21 municípios.
Em 64%, o fornecimento de água vem principalmente de garrafas mineralizadas, e 59% precisam de materiais de limpeza.
Entre os ocupantes dos alojamentos, 42% têm gestantes ou puérperas e 4,6% têm indígenas ou quilombolas. Crianças e adolescentes são 22% dos ocupantes, enquanto idosos são 13%.
Fantinel afirma que, nos abrigos, não faltam profissionais ou voluntários nas equipes de saúde. Parte dessas pessoas atuava em postos inundados pela chuva, e foram realocadas por não terem mais onde trabalhar.
Também há psicólogos tanto servidores quanto voluntários auxiliando nas demandas relacionadas à saúde mental nos abrigos. A expectativa é que a procura por atendimento psicológico cresça, segundo o secretário. Por isso, a pasta solicitou ao Ministério do Desenvolvimento Social apoio com equipes de atendimento.
A segurança também é uma preocupação dos gestores de alojamentos. “Muitos lugares pedem algum tipo de reforço. São situações variadas: nos primeiros dias, as pessoas vão se tolerando. Com o passar do tempo, começa a ter problemas”, diz Fantinel.
O governo do estado convocou mil soldados da reserva da brigada militar para fortalecer a segurança dos abrigos.
Na última quinta-feira (9), seis pessoas foram presas por suspeita de cometerem estupros nos alojamentos. Em meio ao surgimento desses casos, cresce também o número de locais exclusivos para mulheres e crianças.
Nesses abrigos, a maior parte dos voluntários é formada por mulheres, inclusive na área de segurança.
“Eles têm equipes muito boas e as mulheres se mobilizam para cuidar umas das outras. Estamos apoiando a movimentação para as que quiserem ir para esse tipo de acolhimento para ter melhor condição, privacidade e cuidado. Todos os abrigos [femininos] que visitei tm condições muito superiores de estrutura que a média.”
LUANY GALDEANO / Folhapress