SINIMBU, RS (FOLHAPRESS) – Duas semanas depois de terem suas casas invadidas e os móveis e eletrodomésticos destruídos pela maior enchente da história da cidade, os moradores Sinimbu (RS), a 177 km de Porto Alegre, conseguiram tirar o grosso da lama de suas ruas.
Nesta terça (14), muitos deles ainda continuavam limpando seus imóveis, removendo barro, entulho e o que restou de seus pertences.
A maior enchente de que se tem registro no município começou no dia 30 de abril e se estendeu por três dias, quando o rio Pardinho, que divide a área urbana em duas, transbordou e suas águas chegaram a três metros altura nas principais ruas da cidade.
Todas as residências, lojas e outros estabelecimentos da zona central foram inundados. Catorze dias depois, o grosso da lama foi retirado, mas as ruas continuam enlameadas, falta água e energia em muitos pontos e mais de 90% do comércio continua fechado, nenhuma agência bancária funciona e os imóveis ainda estão sendo limpos.
No último dia 4, a Folha de S.Paulo esteve na cidade, conversou com alguns moradores e comerciantes e registrou a situação de algumas ruas e casas. Entre eles, estavam o gerente comercial Eunísio Vitalis, 45, e seu pai, o aposentado Ernani Vitalis, 67. Desta vez, Ernani mostrou à reportagem sua residência, já sem o grosso da lama.
Enquanto caminhava pela casa, ia apontado o que cada aposento era antes da cheia. Pelos cantos, amontoados e enlameados, em cima de mesas ou pelo chão, panelas, pratos, copos, talheres, baldes, produtos e material de limpeza e muito mais.
“Esta é a única das nossas cinco televisões que escapou ilesa”, diz Ernani, mostrando o aparelho na parede. “Faltaram poucos centímetros para a água atingi-la. Além de quase tudo dentro de casa, a enchente destruiu uma fonte que tínhamos do lado de fora, com 23 peixinhos coloridos no laguinho formado por ela. Era a alegria das crianças das redondezas.”
Enquanto isso, não muito distante dali, na rua principal da cidade, seu filho se ocupava da manhã da limpeza e reorganização das loja de eletrodomésticos, da qual é gerente comercial. Ele e seus funcionários trabalhavam duro para deixar o estabelecimento em condições de ser aberto dentro de 10 dias. “Á água atingiu cerca de dois metros aqui dentro”, diz ele, apontando a marca na parede.
COMERCIANTE MOSTRA A LOJA APÓS A ENCHENTE
O prejuízo da loja, que pertence a uma rede da região, foi grande, mas Vitalis diz que não pode revelar. “Muita coisa se perdeu”, conta. “Os refrigeradores são fechados hermeticamente e a maioria resistiu, no entanto. Eles serão limpos, passarão por uma revisão da assistência técnica e depois serão novamente colocados à venda, agora com um grande desconto. Assim, também poderemos ajudar as pessoas que perderam os seus.”
O prejuízo de Samuel Schulz, 37, do supermercado do mesmo nome, foi de mais de R$ 4 milhões. Ele tem duas lojas, uma em Sinimbu, e outra em Rio Pardinho, a 8 quilômetros. No dia 4, ele estava na primeira, tirando a lama, tentando limpar e verificando o que havia sobrado dos estoques.
Depois de uma semana de trabalho, resolveu dar um tempo naquela loja e se concentrar na de Rio Pardinho, onde dá expediente atualmente. “Não fizemos nada, só limpamos, tiramos o que precisávamos para operar a daqui e a lacramos”, explica. “Na semana que vem, vamos retomar lá, para terminar a limpeza e verificar o que que ainda sobrou, o que se pode aproveitar e projetar os próximos passos. Em Sinimbu, nossas perdas chegaram a cerca de R$ 4 milhões.”
A loja de Rio Pardinho não passou ilesa à fúria da enchente, no entanto. Ela também foi invadida pela água, que chegou a um metro de altura, causando um prejuízo de mais de R$ 200 mil. “Tivemos perdas de produtos das gôndolas e de equipamentos de informática e de refrigeração. Mas em três dias conseguimos recuperar a loja e começamos a atender a população aqui na região de Rio Pardinho, Sinimbu e arredores, porque somos o único supermercado em funcionamento.”
Em frente à loja de Schulz em Sinimbu, Patric Feustler, 43, dono de quatro imóveis, um ao lado do outro, alugados para uma fruteira e lojas de roupa, trabalhava para limpá-los, tirando o barro e o entulho. “A água chegou a três metros aqui, com uma correnteza muito forte”, lembra. “Ainda não avaliei o prejuízo. Mas nossos inquilinos perderam tudo. A enchente levou, inclusive, os freezers da fruteira.”
Apesar dos transtornos e dos prejuízos, a maioria dos moradores da pequena cidade olha para a frente e pretende seguir adiante. “Estou vivo”, comemora Vitalis, o pai, resumindo o sentimento de muitos. “Chegamos até aqui com muita ajuda de pessoas de municípios e localidades vizinhas”, lembra. “Veio gente de Santa Cruz, Linha Santa Cruz, Passo do Sobrado, de toda a região, para ajudar a tirar a lama e a limpar. Também doaram algumas coisas. Isso vai tornar possível nos erguermos devagarinho.”
EVANILDO DA SILVEIRA / Folhapress