PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Para conseguir acessar nos últimos dias o Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), que concentra todas as 27 secretarias do governo do estado e outros órgãos importantes como a Procergs (empresa estadual de processamento de dados), gestores e servidores públicos tiveram de ir de barco. O motivo são as enchentes em Porto Alegre causadas pelas fortes chuvas.
Como o complexo onde funciona para valer o Executivo do Rio Grande do Sul o palácio Piratini é a residência oficial do governador continua impraticável, o governo montou em poucos dias uma sede provisória no terreno que um dia abrigou a CEEE, a antiga companhia energética gaúcha, privatizada em 2021. O prédio escolhido estava sem uso.
É lá que o governador Eduardo Leite (PSDB) começa a despachar a partir desta quarta (15), ainda entre obras. O espaço improvisado foi batizado de Complexo Administrativo de Contingência (CAC).
“Como esse prédio não estava operacional, tivemos de fazer uma força-tarefa descomunal, porque é importante que o governo esteja bem centralizado. Aqui estarão o governador, o vice, todas as secretarias que dão vazão às demandas, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar etc, para que as necessidades sejam atendidas de forma mais rápida”, afirmou a secretária de Planejamento, Governança e Gestão do governo estadual, Danielle Calazans.
No final da tarde da última segunda (13), trabalhadores se apressaram para tornar o lugar funcional, colocando mesas e material de escritório. As repartições são identificadas por papéis afixados a divisórias de fórmica.
Segundo a secretária, uma dificuldade adicional foi conseguir quem ajudasse a tornar o lugar habitável, uma vez que grande parte dos funcionários terceirizados de empresas de limpeza e manutenção que têm contrato com o governo foi atingida pelas cheias.
“Muitas dessas pessoas que trabalham para essas empresas estão hoje atingidas, estão em abrigos, em situação de vulnerabilidade, então até para isso a gente teve uma dificuldade muito grande, mas conseguimos fazer uma mobilização dos servidores, passamos o final de semana praticamente todo aqui”, contou Danielle Calazans.
A secretária observou que a preparação a jato da estrutura só foi possível por meio de parcerias com a Caixa Econômica Federal órgão do qual ela é funcionária de carreira e já foi vice-presidente, que permitiram obter mobiliário, computadores e manutenção de ar-condicionado. O governo também recebeu doações de equipamentos da iniciativa privada.
“É uma estrutura enxuta, um ambiente de coworking, espaços compartilhados, porque a intenção é que a gente tenha todo mundo do governo no mesmo lugar. Então não trabalhamos aqui com grandes gabinetes, com estruturas separadas, pelo contrário, há uma grande área de colaboração entre as secretarias, para que a gente tenha uma comunicação mais efetiva. Temos hoje os meios digitais, que podem facilitar as reuniões, mas nada como todo mundo junto, próximo, tomando as decisões.”
Como a estrutura elétrica do Centro Administrativo anterior foi afetada, muitos sites de empresas públicas que funcionam no local ficaram fora do ar. Até a noite desta terça (14), quem tentava acessar a página do Ministério Público do RS, por exemplo, recebia um aviso de que a energia havia sido desligada preventivamente por causa dos alagamentos e que, por isso, o site estava indisponível.
O problema atinge igualmente empresas privadas cujo serviço neste momento é essencial, como a plataforma de meteorologia MetSul. Em nota publicada na semana passada, a empresa escreveu: “Grande parte dos profissionais da MetSul Meteorologia, residentes na Grande Porto Alegre, está com suas casas inundadas pela enchente catastrófica. Em razão da situação extrema e inédita, de calamidade quase generalizada, informamos que manteremos o atendimento dos nossos clientes e a oferta de informação ao público dentro do que for possível”.
FABIO VICTOR / Folhapress