CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Homenageada desta edição do Festival de Cannes, Meryl Streep participou nesta quarta-feira (15) de um painel com os presentes no evento, em que lembrou do começo da carreira e reconheceu que muita coisa mudou na indústria, em especial para as mulheres.
“Filmes são uma projeção dos sonhos das pessoas, e até executivos de estúdios têm sonhos. E como é muito difícil para homens se enxergarem em personagens femininas, filmes protagonizados por mulheres acabavam não sendo aprovados”, afirmou a atriz sobre o começo da carreira.
“Nem sempre [aprovar um filme com uma protagonista feminina] é uma questão de dinheiro, às vezes esses executivos só não entendem. O primeiro filme que eu fiz e que um homem me disse que entendia a personagem foi O Diabo Veste Prada.”
No longa de 2006, Streep interpretou a autoritária editora de uma revista de moda, que passava boa parte do longa dando ordens às suas funcionárias, até percebermos que por trás da fachada de poderosa havia uma pessoa solitária e cheia de inseguranças.
A atriz chegou para o painel cansada, disse mais de uma vez, já que foi dormir às três da manhã e, confessou, estava com um pouco de ressaca. Nesta terça, durante a cerimônia de inauguração do Festival de Cannes, Streep recebeu a Palma de Ouro honorária, e foi comemorar depois da sessão de abertura, “The Second Act”.
Quem lhe entregou o prêmio foi Juliette Binoche, que não economizou nos elogios e chamou a colega americana de “tesouro internacional”, reivindicando como patrimônio de toda a cinefilia esta que é uma das maiores atrizes da história do cinema.
“Quando eu te vejo na tela, eu não vejo você, eu vejo um movimento”, disse Binoche, às lágrimas ao refletir sobre a importância de Streep para a mudança na percepção do cinema em relação às mulheres, em especial quando ficam mais velhas.
“Ver esses filmes é como olhar pela janela de um trem bala. Da juventude, para a maturidade, para onde estou agora. Há 35 anos, quando estive aqui pela primeira vez, eu já era mãe de três, ia completar 40 anos e achei que minha carreira estava no fim”, respondeu a homenageada.
“As únicas coisas que me fizeram estar aqui hoje foram a arte das pessoas com quem trabalhei, incluindo a da presidente do júri deste ano, Greta Gerwig [que a dirigiu em ‘Adoráveis Mulheres’], e vocês. Passou muito rápido. Menos o meu discurso, que foi bem longo. Então obrigada”, finalizou ela, rindo.
Esta é a segunda vez que Streep rouba os holofotes na Riviera Francesa. Em 1989, ela já havia sido laureada com o prêmio de atuação feminina por “Um Grito no Escuro”, em que viveu uma mãe que tenta provar sua inocência após a morte repentina da filha.
Sobre a primeira passagem por Cannes, disse não se lembrar de muita coisa, só do assédio dos cinegrafistas, fotógrafos e fãs, numa época em que a segurança do festival era mais relaxada.
“Foi insano, eu quase não me recuperei daquilo. Do momento de receber o prêmio eu acho que nem lembro. Sei lá, eu estava com medo, eu não sou uma estrela do rock. A minha vida é muito chata, eu não sou de viver por esses momentos hiperbólicos.”
Streep também passeou por alguns outros marcos da carreira na conversa com fãs, que teve ingressos esgotados poucos minutos depois da abertura das reservas. Lembrou, em especial, dos longas que lhe garantiram suas três estatuetas do Oscar, “Kramer vs. Kramer”, “A Escolha de Sofia” e “A Dama de Ferro”.
Sobre o segundo filme, em que vive uma mãe judia, mandada a um campo de concentração nazista, diante da macabra escolha entre salvar um filho ou outro, quis falar pouco. A história ainda a emociona, 42 anos depois. “Não há treinamento ou técnica suficientes para cenas tão pesadas quanto aquelas. O ator precisa se despir de tudo para entregar uma performance crua, sem qualquer proteção.”
LEONARDO SANCHEZ / Folhapress