Mapa mostra que áreas mais pobres foram as mais atingidas pelas enchentes em RS

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Núcleo do Observatório das Metrópoles sediado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) mapeou as regiões alagadas na região metropolitana de Porto Alegre e identificou que as áreas mais pobres foram as mais atingidas em decorrência da calamidade climática que assola todo o estado.

O levantamento divulgado nesta quarta-feira (15) cruzou dados de renda per capita do Censo Demográfico de 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com o mapa das áreas urbanizadas inundadas pelas enchentes.

“Tivemos que usar o Censo de 2010 porque ainda não foram divulgados os dados de renda do Censo 2022. Em geral, apesar de algumas alterações pontuais na cidade, as áreas mais ricas e mais pobres em 2010, continuam as mesmas”, afirmou o pesquisador do Observatório, André Augustin, responsável pela elaboração do mapa.

Em relação a área de inundação mapeada, Augustin explicou que é uma estimativa feita por vários pesquisadores da UFRGS sobre as áreas alagadas no dia 6 de maio e, portanto, pode não incluir algumas regiões que alagaram após a data.

De acordo com o mapa, bairros da zona norte como Sarandi, Humaitá e Navegantes foram diretamente afetados, assim como o Centro Histórico, Cidade Baixa, Menino Deus e Praia de Belas na região central, onde a infraestrutura do sistema de manutenção de enchentes falhou.

“Regiões como Cidade Baixa e Menino Deus, mais próximas ao centro, concentravam a maior população negra e pobre de Porto Alegre até o século 20, quando essas famílias começaram a ser expulsas dali e obras para conter as cheias foram iniciadas. Fazia muitas décadas que esses locais não enchiam por causa da infraestrutura que chegou assim que as populações mais ricas ocuparam aquele espaço”, explicou o pesquisador André Augustin.

“Isso mostra que o problema não foi algo exclusivo, mas em geral. Ainda assim, pessoas mais pobres estão nas áreas que foram as primeiras a serem atingidas. E as outras, com mais estrutura, alagaram porque o sistema de proteção contra enchentes falhou”, completou.

Porto Alegre conta com um sofisticado sistema de prevenção contra inundações. São 68 km de diques de terra; 2,65 km de muro na avenida Mauá, no centro da cidade; 14 comportas e diversas casas de bomba espalhadas pelo município. Esta reportagem mostra o que funcionou e o que falhou no sistema.

A capital gaúcha está nas margens do lago Guaíba, onde desembocam os principais rios que nascem no interior do estado, na área de planalto. O rio subiu até 5,33 no dia 5 de maio, o maior recorde desde 1941. Nesta quinta-feira, o nível do Guaíba chegou a 4,86 metros às 17h15, no cais Mauá.

Áreas próxima ao rio dos Sinos também ficaram praticamente embaixo d’água, como o bairro bairro Mathias Velho, em Canoas, uma das regiões mais pobres do município.

A inundação histórica provocada pelas recentes chuvas no Rio Grande do Sul alagou ao menos 303 mil edificações residenciais e 801 estabelecimentos de saúde em 123 cidades, indicam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da UFRGS.

As fortes chuvas do Rio Grande do Sul causaram ao menos 151 mortes, de acordo com boletim divulgado às 18h desta quinta. O número pode aumentar nos próximos dias, já que ainda há 104 desaparecidos.

As mortes ocorrem em 44 cidades, conforme a Defesa Civil, e há 806 feridos.

No total, 461 municípios foram afetados, sendo que 77.199 pessoas estão desabrigadas e 540.192 ficaram desalojadas.

ALÉXIA SOUSA / Folhapress

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