SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Escolhido nesta sexta-feira (17) como a sede da Copa do Mundo feminina de 2027, o Brasil deve ter dez estádios que vão abrigar os 64 jogos do torneio, previsto para o período entre 24 de junho e 25 de julho.
Entre eles, está o estádio Beira-Rio, do Internacional, que foi alagado pela água das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias, deixando ao menos 154 mortos e 806 feridos, além de 98 desaparecidos, segundo boletim divulgado às 9h desta sexta.
Sem condições de atuar em sua casa nos próximos dias, o elenco do Colorado se deslocará até Itu, no interior de São Paulo, para manter a forma física até a retomada do Campeonato Brasileiro –a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), atendendo a um pedido de 15 clubes, adiou as próximas duas rodadas da série A do nacional, com a retomada prevista para o início de junho.
Acompanhando a delegação brasileira que esteve em Bangkok, na Tailândia, onde foi realizado o congresso da Fifa (Federação Internacional de Futebol) que sacramentou a escolha do Brasil após votação das 207 associações filiadas à entidade, o ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA), disse que, apesar da situação atual, o Beira-Rio deve estar entre os estádios do Mundial de 2027.
“Queremos dedicar essa vitória também aos nossos irmãos do Rio Grande do Sul, que certamente será um dos estados-sede da Copa feminina de 2027. Neste momento, quero reiterar o compromisso do presidente Lula e do governo federal em ajudar a reconstruir o estado”, afirmou Fufuca.
Maior jogadora de futebol da história do país, Marta publicou em suas redes sociais uma mensagem comemorando a escolha do país como sede da Copa e fazendo um pedido para que o Rio Grande do Sul seja priorizado pelos organizadores da competição.
“Se fosse possível, gostaria que a primeira partida da seleção brasileira [no Mundial] fosse no Rio Grande Sul. O estado do Rio Grande do Sul e o povo gaúcho merecem!! Meu coração e minhas orações estão com vocês”, escreveu a rainha em uma publicação no Instagram.
“Jogar uma Copa do Mundo em casa é o sonho de tantas meninas no Brasil. Por isso, quero agradecer a todos que fizeram parte dessa conquista. E vamos seguir juntas, construindo o futuro que o futebol de mulheres no Brasil, na América do Sul e no mundo merecem”, declarou a jogadora, visivelmente emocionada.
Nos comentários da publicação, internautas pediram que ela reveja a decisão de se aposentar da seleção brasileira no fim de 2024 para ter a oportunidade de defender a equipe no Mundial daqui a três anos.
Internacional e Grêmio
Pela decisão anunciada pela CBF, o retorno do Campeonato Brasileiro se dará a partir da 9ª rodada, quando o Internacional enfrentará o Vitória fora de casa, no dia 1º de junho.
Na rodada seguinte, em 12 de junho, o Inter receberá o Corinthians, em local ainda a ser definido.
“Nossos jogos como mandantes ainda não estão definidos quanto aos locais, pois estamos trabalhando com variáveis que dependem de aprovação da Conmebol [o time disputa a Copa Sul-Americana] e capacidade logística para tomarmos a melhor definição. Essa definição deve acontecer até o final de semana e, seja qual for, sabemos que nenhuma delas será igual a jogar na nossa casa”, afirmou Alessandro Barcellos, presidente do Inter.
No caso do Grêmio, o retorno à competição se dará como mandante contra o Botafogo. O clube informou que os treinos da equipe serão realizados até o dia 26 no CT (Centro de Treinamentos) do Corinthians, na zona leste da capital paulista. O tricolor gaúcho também está em negociações para mandar seus jogos pelo Brasileiro no estádio do RB Bragantino, o Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista.
Pela Copa Libertadores, os próximos jogos do Grêmio serão realizados no estádio Couto Pereira, em Curitiba.
O Juventude, por sua vez, que não teve o CT e o estádio Alfredo Jaconi em Caxias do Sul afetados, deve seguir treinando e jogando em casa.
“Não cogitamos [treinar e jogar fora do Rio Grande do Sul], jamais faríamos isso, pois não estamos pensando só no próprio umbigo. Seria como tirar uma pessoa próxima da sua família, com toda a família passando por dificuldade e sofrendo. Não faria isso com um funcionário da minha empresa, e o clube pensa desta maneira”, afirmou Fabio Pizzamiglio, presidente do Juventude.
Coordenador do departamento de saúde e performance do Paysandu, que disputa a série B do Brasileiro –que não foi paralisada pela CBF–, Junior Furtado avalia que a interrupção momentânea do torneio pode ser até benéfica para as equipes.
“O tempo não é tão longo e possibilita trazer ganhos físicos, tais como recuperação de atletas em reabilitação, condicionamento daqueles que estão fora da média do grupo e melhora de métricas que precisam ser trabalhadas para suportar os sete meses de campeonato”, disse Furtado.
“Até mesmo em tempos de pandemia encontramos soluções para manter ou pelo menos minimizar as perdas de performance. É fato que os clubes irão se ajustar a esta nova realidade. O maior problema seria o comprometimento das férias dos jogadores, caso a temporada se prolongue. Isso impactaria diretamente no planejamento do próximo ano”, disse Flávia Magalhães, médica do esporte com passagens por Atlético-MG e seleção brasileira.
Advogado especializado em Direito Desportivo do escritório Ambiel Advogados, Felipe Crisafulli entende que a possibilidade mais viável para remanejar os jogos adiados seria a remarcação para a mesma época em que a seleção brasileira disputará partidas no segundo semestre, nas chamadas “datas Fifa”.
“Setembro, outubro e novembro deverão ser os meses escolhidos, pois junho já foi selecionado pela Conmebol para os confrontos de Grêmio e Internacional pela Libertadores e Sul-americana”, assinalou Crisafulli.
Pelo cronograma, após a disputa da Copa América, entre 20 de junho e 14 de julho, o Brasil terá compromissos pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo nos dias 5 e 10 de setembro; 10 e 15 de outubro; e 14 e 19 de novembro.
“Reclamações poderão surgir dos clubes, em virtude de jogarem desfalcados dos jogadores porventura convocados para as suas seleções nacionais, mas será algo a se ter de lidar ante a situação de extrema excepcionalidade atualmente vivida em nosso país”, afirmou o advogado.
LUCAS BOMBANA / Folhapress