Como é ‘Tipos de Gentileza’, estranho filme de Yorgos Lanthimos com Emma Stone

CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Não demorou muito depois de despertar paixões com seu “Pobres Criaturas”, que saiu do Oscar há pouco com quatro estatuetas, para Yorgos Lanthimos, Emma Stone e Willem Dafoe causarem frenesi com uma nova parceria. O filme mal havia deixado os cinemas quando “Tipos de Gentileza” foi anunciado na seleção do Festival de Cannes deste ano.

Um dos títulos mais aguardados da competição pela Palma de Ouro, “Kinds of Kindness”, no original, passou pelo tapete vermelho nesta sexta-feira (17), quarto dia de programação. E, depois da grandiosidade de “Pobres Criaturas” e de seu antecessor, “A Favorita”, pareceu um retorno de Lanthimos às suas origens de orçamento menor e esquisitice maior.

Não que a estranheza tenha abandonado seus longas mais recentes. Mas a atenção internacional, o envolvimento de estrelas do alto escalão de Hollywood e o dinheiro de estúdios americanos fizeram com que o cineasta grego segurasse um pouco a onda -dentro dos limites possíveis para ele, claro.

Agora mais estabelecido, Lanthimos conseguiu retornar aos delírios mais insensatos de “Dente Canino” e “O Lagosta” -do mesmo corroteirista, Efthimis Filippou-, muito menos palatáveis que “Pobres Criaturas” e “A Favorita”. Tanto que estes chegaram, ambos, à corrida de melhor filme do Oscar, em sua aparente adequação à indústria.

No novo longa, o grego dá vazão total à inventividade desconjuntada de seu trabalho seminal, responsável por criar para ele um grupo de fãs fervorosos e outro de detratores igualmente apaixonados. A polarização certamente vai ressurgir com “Tipos de Gentileza”.

O longa é uma antologia dividida em três partes. O elenco, formado ainda por Jesse Plemons, Margaret Qualley, Hong Chau, Hunter Schafer, Joe Alwyn e Mamoudou Athie, vai trocando de personagem conforme um novo ato começa. Numa primeira análise, pode ser difícil entender a ligação entre as histórias narradas em cada um deles.

Os tipos de gentileza do título explicitam a ênfase que Lanthimos dá à interação entre seus personagens. Mais do que seu desenvolvimento pessoal ou suas ações, é a relação que se estabelece entre eles o que realmente importa -sejam elas de fato gentis ou de qualquer outra natureza.

Há de tudo no filme, de atos de amor e proteção a violência, traição, morte e até estupro. Todos observados com a mesma lente de uma câmera que não busca tecer qualquer comentário que seja em relação àquilo que enquadra, numa plasticidade comum em seu cinema.

Em linhas gerais, “Tipos de Gentileza” eleva à enésima potência conceitos que poderiam ser básicos, em prol da narrativa afetada e hiperbólica de Lanthimos. Na primeira das partes, ele fala do não conformismo de seu protagonista, que não quer a vida que lhe foi imposta. Na segunda, acompanha um casal que se distancia conforme se transforma. E na final, mostra uma busca obsessiva por espiritualidade.

Mas claro que o cineasta não opta pela obviedade e o formalismo de um drama padrão para narrar essas histórias. Ele impregna as três de estranheza e de um humor nonsense, preferindo não dar muitas explicações para os absurdos que sustentam as três situações em foco.

“Às vezes você só precisa ser ridículo para alcançar aquilo que está tentando alcançar”, diz Lanthimos no material promocional do filme, que contou ainda com um vídeo de Emma Stone fazendo uma dança que daria vergonha alheia em qualquer um se acontecesse na vida real.

Pois bem, assim sendo, “Tipos de Gentileza” é coerente em relação à filmografia de Lanthimos, unindo a piração mais excêntrica de seu cinema seminal aos holofotes conquistados em Hollywood -é a Searchlight, da Disney, que financia a empreitada.

É um filme de longuíssima digestão, que de tão absurdo faz o espectador questionar, muito mais de uma vez, a que está assistindo.

LEONARDO SANCHEZ / Folhapress

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