Pimenta diz que apoio do PT foi fundamental para Leite ser eleito no RS e minimiza divergência política

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Nomeado ministro do governo Lula para o Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta afirma que é uma visão muito “mesquinha” e “extremamente maldosa” acreditar que o presidente criou a estrutura para controlar a narrativa da reconstrução do estado.

Político gaúcho cotado como pré-candidato ao Palácio Piratini, o ex-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social) rebate as críticas de politização da calamidade com a sua indicação.

Acrescenta que não há ruídos com o adversário político Eduardo Leite e cita que há até alguns pontos em comum, em particular nas eleições de 2022. “Eu era presidente do PT, e o nosso apoio foi fundamental para que ele fosse eleito”, afirmou à Folha.

Pimenta evita falar sobre os comentários de que a sua ida para o Rio Grande do Sul tem como efeito tirá-lo da comunicação e assim resolver um foco de críticas dentro do governo.

“É uma pergunta que deve ser feita ao presidente”, afirma.

PERGUNTA – O governo rebate críticas de politização da tragédia, mas a indicação de um político, do estado, adversário do governador não fortalece isso?

PAULO PIMENTA – Acho que é uma crítica de quem não me conhece, quem não conhece o Rio Grande do Sul, e a forma como a gente trabalha, de forma institucional, respeitosa e harmônica.

Não há nenhuma possibilidade e com certeza também não há do governador e da sua equipe, dos prefeitos, de não compreender a relação necessária nesse momento. E isso é uma crítica de pessoas que não convivem no nosso dia a dia, não conhecem a nossa realidade, e ela é totalmente infundada.

P. – Mas só o fato de ela existir não cria ruído e divisão num momento de calamidade?

PP – Eu acredito que não. Pelo contrário. Trabalhamos hoje e ontem, o dia inteiro, de forma muito harmônica, com toda a equipe do governo do estado, com a equipe dos prefeitos. A relação está muito positiva, os resultados estão acontecendo com uma velocidade muito importante, e eu estou muito satisfeito com a forma que o trabalho está acontecendo.

P. – O senhor fala em relação harmônica com o governador Eduardo Leite, mas nos bastidores falam o contrário.

PP – Olha, eu votei nele para governador. Eu era presidente do PT, e o nosso apoio foi fundamental para que ele fosse eleito. E acredito, inclusive, que ele votou no mesmo candidato que eu para presidente da República.

Isso mostra que nós temos muitas convergências, apesar de estarmos em partidos diferentes e termos referências sobre outras questões. Mas a minha relação com ele eu considero excelente, funcional, respeitosa, harmônica e extremamente positiva para o Rio Grande do Sul nesse momento.

P. – A indicação do senhor não pode ser vista como uma tentativa de controlar a narrativa, contrapor um adversário que pode ser catapultado na reconstrução, com parte de recursos federais?

PP – Isso seria uma visão muito mesquinha. Seria quase incompreensível alguém pensar uma coisa dessas num momento como esse, quando o presidente Lula tem feito um esforço grande de solidariedade, de parceria, de união, de reconstrução. Então, passa longe de nós qualquer pensamento nesse sentido.

P. – Há também uma visão de que o ministério está muito ligado ao senhor, personalista, ou mesmo à tentativa do governo federal de fortalecer imagem e marcar presença no estado.

PP – Repito que é uma visão mesquinha e extremamente maldosa imaginar que o presidente Lula montasse uma estrutura de governo num momento dramático como esse, onde é fundamental mobilizar todo esforço do governo federal para ajudar na reconstrução do Rio Grande e nós fôssemos ter como objetivo coisas tão pequenas e tão baixas como essas.

P. – Qual será a missão do ministério?

PP – Coordenar as ações de todas as áreas do governo federal no sentido de dar agilidade, encurtar caminhos, facilitar o acesso das prefeituras e do governo do estado às políticas públicas, estabelecer relações com todos os setores da sociedade gaúcha no sentido de ouvi-los e, a partir desse diálogo, melhorar ainda mais o trabalho que a gente está fazendo e encontrar outras iniciativas necessárias para dar a resposta que o Rio Grande do Sul precisa nesse momento.

Por enquanto, esse é um ministério de duas pessoas. A estrutura dos ministérios é definida por decreto e não pela medida provisória. Os dois cargos que são necessários criar por lei é o do ministro e o do secretário executivo e os demais são definidos por decreto.

P. – O senhor já tem uma ideia da equipe do senhor?

PP – Estamos discutindo e no decorrer da próxima semana, com certeza a gente vai, já no início, ter uma estrutura e definir claramente a equipe que a gente precisa e a forma que ela vai trabalhar.

Não tive condição de pensar porque o volume de trabalho está tão grande. Nas últimas 48 horas, eu estou 100% focado na necessidade da gente trazer para o Rio Grande do Sul bombas que consigam expulsar esse volume enorme de águas que estão aqui na região metropolitana.

Nós temos mais de 80 mil pessoas em abrigos, mais de 200 mil gaúchos e gaúchas desalojados.

P. – Agora no estado, vai dar sequência aos esforços para combater fake news, reportando casos à PF?

PP – Se eu fosse responder a todas as fake news que foram produzidas desde o momento em que eu fui nomeado até agora, eu não teria tempo para fazer tudo o que eu preciso fazer.

É uma avalanche de mentiras, de desinformação, muitas delas de caráter criminoso, que são produzidas diariamente. Então eu não vou poder, até pelo menos por uma questão de capacidade física e de tempo, me dedicar para responder a todas as mentiras que são produzidas de forma a prejudicar o trabalho de reconstrução e de união do Rio Grande do Sul.

P. – O governo não busca controlar a narrativa, colocando selo de fake news em fatos críticos ao governo, como o caminhão e a ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] ou o caso do avião do Uruguai?

PP – O fato da ANTT é um fato mentiroso, é um fato totalmente mentiroso. Nenhum caminhão foi impedido de chegar no Rio Grande do Sul, ninguém foi impedido de transitar por exigência de nota fiscal. Essa informação de que a Polícia Rodoviária Federal e que a Polícia Federal estavam fiscalizando e exigindo nota fiscal de donativos, de doações, é uma mentira, uma fake news mentirosa que foi desmentida.

Depois, tentaram criar um factoide de que alguns caminhões que foram paralisados por excesso de peso, que logo em seguida foram liberados, tivessem a ver com a história original que era a exigência de notas fiscais para doação, o que eu repito, é mentira.

Em relação à questão do Uruguai, nós caracterizamos [como falso], mas desconheço que tenha sido feita qualquer representação criminal ou civil por conta desse episódio, o que aí é normal, são versões diferentes a respeito de um determinado fato.

Não incluo esse fato no rol das mentiras criminosas que eu imagino que devem ser investigadas pela Polícia Federal e pelos órgãos de controle.

P. – Mas o governo cravou o selo fake news para isso e o senhor mesmo cita ‘versões diferentes’.

PP – O fato de que, de forma deliberada, o governo teria tomado uma decisão de não aceitar uma oferta de apoio do Uruguai, é falsa essa afirmação.

Então, se em determinado momento foi caracterizado como fake news, talvez por conta dessa avalanche de mentiras que tem sido divulgada, esse caso que foi simplesmente um caso falso tenha sido carimbado também como fake news.

P. – O senhor pretende permanecer no RS por quanto tempo?

PP – Pela emergência, o prazo para que todos os convênios e contratos estejam firmados na área da saúde, da educação, da habitação, os planos de recuperação do estado, por lei, na emergência, são seis meses. Então, o prazo que eu me estabeleço é o prazo que a lei estabelece. A partir disso, cada um dos ministérios acompanha a execução.

P. – Pretende voltar para a Secom?

PP – Olha, o presidente me pediu que eu cumprisse essa missão e que, posteriormente, retornasse para o meu trabalho 100% focado na Secom.

P. – A comunicação do governo é criticada e uma ala considera que o remanejamento foi uma forma de mudá-la.

PP – Essa pergunta deve ser feita para o presidente da República. Mas eu particularmente acredito na política de comunicação do governo. Assim como o presidente disse que nós temos um tempo para plantar e um tempo para colher. Isso se refere também à comunicação.

Eu tenho certeza que, em pouco tempo, os índices de aprovação do governo estarão bem melhores, porque as entregas estarão chegando de forma muito mais definida. Nós temos hoje um resultado que é absolutamente dentro daquilo que nós imaginamos, do planejamento estratégico das ações do governo e das ações da comunicação.

Eu tenho certeza que, em pouco tempo, os resultados serão sentidos de uma forma muito mais efetiva.

RAIO-X

PAULO ROBERTO SEVERO PIMENTA, 59

Nascido em Santa Maria (RS), é jornalista e técnico agrícola formado pela UFSM. Foi vereador e vice-prefeito de sua cidade, deputado estadual e depois eleito para seis mandatos na Câmara dos Deputados. Assumiu em janeiro de 2023 como ministro da Secom. Foi nomeado na quarta-feira (15) como titular do Ministério Extraordinário para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul

RENATO MACHADO / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS