SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Queridinho da TV nos anos 2000 Sergio Hondjakoff ficou marcado pelo papel de Cabeção em “Malhação” (Globo). Após deixar a novelinha adolescente, no entanto, o ator viveu um período sombrio. Dependente químico, sumiu da TV, reapareceu em flagras constrangedores na internet e, depois de uma longa batalha contra o vício, está completando dois anos de sobriedade.
Nos últimos anos, Sérgio passou por várias internações em clínicas de reabilitação -a mais longa delas durou dez meses e meio. Durante o período, perdeu sua avó, de quem não pôde se despedir. “Foi muito difícil”, lembra ele, em entrevista ao F5, sobre o tempo recluso. “Mas as adversidades são feitas para a gente aprender com elas.”
“Estou me mantendo limpo e me prontificando a ser cada vez melhor, para cometer novos erros e não repetir os erros antigos”, diz, reproduzindo jargões de grupos de ajuda a adictos.
ATIVISMO POLÍTICO
Agora recuperado, Sergio vem tentando se dedicar a uma vida saudável e retomando a carreira como ator. Mas ainda quer ir além: pretende usar sua popularidade e seu lugar de fala para se tornar um ativista pelo tratamento de dependentes químicos no Brasil.
“Contribuo falando da minha experiência empírica e me mantendo sóbrio, mas ainda quero fazer mais que isso. Tem questões políticas que ainda preciso ter embasamento, encontrar meu posicionamento e minha narrativa”, diz. “Nesses ‘rehabs’ intensivos que passei de 2016 para cá, conheci terapeutas que me emocionaram com suas palestras falando sobre a causa social da dependência química”, conta.
Sérgio vê as políticas voltadas à redução de danos com bons olhos, mas acredita que a estratégia, sozinha, não é suficiente para resolver o problema da dependência química no país. “O CAPS [Centro de Atenção Psicossocial] é maravilhoso, mas não consegue atender toda a demanda”, avalia.
Inspirado pela própria história de superação, ele sonha com instituições públicas adequadas que pudessem receber e tratar adictos. Segundo ele, há uma proliferação de clínicas particulares e muitas “deixam a desejar em aspectos como acolhimento”.
“Muitas ainda têm aquela filosofia: ‘Se o cara aprontou e a família internou, ele tem que passar um veneno lá dentro para andar na linha’. Mas não deveria ser assim”, pontua. “O tratamento deveria despertar no adicto o real desejo de permanecer limpo.”
Sergio afirma que, desde os tempos de “Malhação”, sentia inclinação pela política, mas nunca foi adiante. Agora, beirando os 40 anos, “no auge do amadurecimento”, diz, se vê inclinado a uma atuação nesse sentido. “Quero ter a honra de poder melhorar a vida das pessoas.”
DE VOLTA AO SET
Em seu retorno à atuação, Sergio estará em breve nos cinemas com “Caipora”, um suspense-terror folclórico, como define o diretor Bellamir Freire. No elenco, ele contracena com Kayky Brito, Camila Camargo e Nill Marcondes.
Kayky e Sergio interpretam uma dupla de policiais atrapalhados que investigam o sumiço de um grupo de adolescentes em um território indígena. “Meu personagem é um alívio cômico. Pude matar as saudades de gravar com aquela energia do Cabeção, com um humor ingênuo. Ele é um policial medroso, morre de medo do chefe [Nill Marcondes] e dos eventos sobrenaturais que acontecem no filme”, entrega.
Nos bastidores, Sergio levava Kayky Brito às gargalhadas. “Ele tinha cada ataque de riso no set, que teve um dia que achei que ele fosse ter um colapso. Foi bom demais vê-lo bem, voltando a trabalhar e fazer ele rir”, conta Sérgio, que se solidarizou com o processo de recuperação do colega após sofrer um atropelamento em 2023.
Enquanto o filme não estreia, as fontes de renda de Sergio têm sido as “publis” em redes sociais e mensagens de aniversário personalizadas. Sua carreira musical também continua na ativa: após um momento de experimentação no funk, ele se voltou à música eletrônica.
“Sempre tive uma história com a música eletrônica. Apesar de eu estar limpo, não fazendo uso de nenhuma substância recreativa, continuo fã do eletrônico e de todas as suas vertentes, desde as músicas dos 1990 até as contemporâneas”, diz ele, que, em breve, fará turnê pelo interior de Minas Gerais em festas de estilo “rave”.
“É muito bacana tocar nesses eventos, não só para gerar uma renda, mas também pela energia transcendental da galera. Recebo muito carinho do pessoal, desperto essa memória nostálgica afetiva”, conta. “Isso ajuda na minha recuperação e no meu despertar espiritual.”
Pai de Benjamin, de 4 anos, Sérgio está solteiro e “focado nos estudos e na recuperação”, segundo conta. Ele também tem uma pendência importante para resolver: reparar a relação com sua mãe, que ficou abalada após anos de dependência química. “Quero tentar ser um bom filho. Por muitos anos deixei isso de lado”, confessa. “Ainda estou descobrindo essa nova maneira de viver.”
ANAHI MARTINHO / Folhapress