SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Policiais franceses enviados com urgência ao território ultramarino da Nova Caledônia, um arquipélago no oceano pacífico controlado por Paris, tentam recuperar controle da estrada que liga o aeroporto à capital, Noumea, depois de dias de manifestações violentas organizadas por manifestantes pró-independência do arquipélago.
Os agentes já removeram cerca de 60 barricadas que foram erguidas ao longo da via, que tem 60 quilômetros de extensão, de acordo com um comunicado deste domingo (19) feito pelo Alto Comissário do território, Louis Le Franc. Apesar disso, a estrada deve demorar dias para ser totalmente liberada, e o aeroporto segue interditado.
As manifestações começaram depois que a Assembleia Nacional da França aprovou uma emenda constitucional no último dia 13 alterando a legislação eleitoral da Nova Caledônia. O texto ainda precisa passar por uma sessão conjunta do Parlamento, mas ativistas pró-independência da etnia indígena Kanak dizem que a medida vai enfraquecer seus direitos políticos.
Isso porque a emenda vai acabar com o congelamento do eleitorado estipulado por um acordo de 1998 assinado entre o governo francês e movimentos armados pró-independência para encerrar os conflitos da época. O acordo dizia que o eleitorado não mudaria para refletir mudanças populacionais, excluindo das eleições locais pessoas que chegaram ao arquipélago depois de 1998, que hoje representam 20% da população.
Com o fim do congelamento, há uma estimativa que 25 mil pessoas vão passar a ter direito a voto –a maior parte delas, vindas da França metropolitana. Isso poderia alterar radicalmente a composição do governo local, que é liderado por partidos Kanak pró-independência. Toda a população já pode votar igualmente para presidente da França, Parlamento e Parlamento da União Europeia.
A emenda é criticada por grupos Kanak, que dizem que a população indígena vai ser marginalizada e vai perder poder político, e que consideram o congelamento do eleitorado uma medida definitiva. O governo francês, por outro lado, afirma que o acordo de 1998 estipulava uma revisão em 20 anos, e um referendo organizado em 2021 perguntando aos habitantes se são a favor ou contra a independência terminou com a vitória do “não” -mas esse plebiscito foi boicotado pelos partidos pró-independência.
Além disso, há uma decisão da Justiça reafirmando a necessidade do sufrágio universal, que em última instância poderia cancelar as próximas eleições locais, de acordo com o jornal francês Le Monde.
Seis pessoas morreram desde o início das manifestações, que também resultaram em lojas e carros incendiados, saques e bloqueios em rodovias. Dos mortos, três eram indígenas Kanak e dois eram policiais, e um não foi identificado.
Mais de 600 agentes de segurança foram mobilizados para reestabelecer o acesso ao aeroporto, incluindo 100 policiais de uma unidade especial e fortemente armada da polícia francesa. “Com as forças que temos à disposição, logo reestabeleceremos a ordem republicana”, disse o Alto Comissário Le Franc. Mais de 200 pessoas foram presas somente no último sábado (18).
O secretário-geral do principal movimento pró-independência da Nova Caledônia, Dominique Fochi, pediu calma mas exigiu que a emenda constitucional seja suspensa. “O governo precisa parar de colocar lenha na fogueira”, afirmou.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que não assinaria a lei imediatamente, mas que um novo acordo precisa ser negociado entre o governo e representantes indígenas até o fim do mês que vem.
Redação / Folhapress