SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Salários de homens chegam a ser 4 vezes maior que de mulheres, mostra um levantamento da Folha. Entenda aqui como montadoras chinesas desembarcam no Brasil para fugir de tarifas nos EUA e na Europa e outras notícias para começar esta segunda-feira (20).
IGUAIS, MAS DIFERENTES
A hora de trabalho de um homem no cargo de diretor financeiro pode valer até 3,9 vezes a hora de trabalho de uma mulher. A de um gerente financeiro, de crédito ou de vendas, ou de um diretor administrativo ou geral pode variar de 1,8 a 3,4 vezes entre os gêneros.
Entenda: essas são os cargos que registraram maior diferença salarial entre homens e mulheres, segundo uma análise da Folha com base na Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2022, divulgada em abril.
Os dados indicam que a disparidade aparece com bastante frequência em posições de liderança.
Os homens têm salário mediano maior em 77% dos casos em que exercem as mesmas funções;
O valor mediano do salário/hora de um diretor-financeiro, por exemplo, é de R$ 85 e o de uma diretora é de R$ 22.
Além da função de diretoria, economistas do setor público e gerentes de crédito e cobrança são outras profissões com grande desigualdade no país.
A diretoria-geral é a função em que há o maior salário registrado entre homens nas carreiras avaliadas, de R$ 103/hora. No entanto, a desigualdade é de 3,7 vezes, um pouco menor que na diretoria financeira.
A reportagem da Folha conversou com especialistas que veem duas causas principais:
Responsabilidade doméstica: a disponibilidade das mulheres é, em geral, menor que dos homens em função do peso maior de responsabilidade com a casa e de cuidados impostos.
Dificuldades na progressão da carreira. Ascensão costuma ser impactada por maternidade e sobrecarga de trabalho do cuidado, que, em geral, não é compartilhada. Pesquisas também mostram que as mulheres não negociam o salário e tendem a não pedir aumento.
↳ A carreira acadêmica é uma em que a produtividade costuma ser questionada. Nesta reportagem, mães cientistas relatam o impacto da maternidade.
O que diz a lei? Desde 2023, a Lei da Igualdade Salarial obriga empresas a divulgar relatórios com cargos e salários, separados por gênero. A regra é válida para companhias com mais de cem empregados. A paridade, no entanto, já era prevista na Constituição.
↳ Caso a companhia não publique o relatório, será obrigada a pagar multa. O governo também afirma que investigará casos de resistência à divulgação.
↳ Foram ao menos 58 processos no Judiciário trabalhista de julho de 2023 a março de 2024.
Empresas criticam a nova obrigação e citam riscos à LGPB (Lei Geral de Proteção dos Dados). Advogados também apontam riscos para reputação.
Mais sobre gênero e trabalho:
-> O que homens podem fazer pela equidade de gênero no ambiente profissional? Essas dicas apontadas pela newsletter FolhaCarreiras podem ser úteis.
‘MADE IN CHINA’? NEM TANTO
O Brasil se tornou uma porta de entrada para as montadoras chinesas no mercado da América Latina. Dominantes em vendas de veículos por aqui, a BYD e Great Wall Motor passarão a produzir no país.
Entenda: o movimento acontece enquanto os EUA e a Europa impõem tarifas a automóveis Made in China. O plano das montadoras é construir carros com 60% de produção local a partir do Brasil para exportar para a América Latina.
↳ Somos o sexto maior mercado automobilístico do mundo. México, Colômbia, Argentina e Peru são outros países-alvo dos chineses.
Domínio chinês: de cada dois carros elétricos comercializados no mundo, um é de uma marca chinesa. Só a BYD fez 20% das vendas, que totalizaram 14 milhões em 2023. A força do mercado interno do país explica o domínio.
↳ % do total de carros elétricos registrados em 2023*:
🇨🇳 -> 🔋🔋🔋🔋🔋🔋 60%
🇪🇺 -> 🔋🔋🔋 25%
🇺🇸 -> 🔋10%
(* dados da International Energy Agency)
Enquanto isso nos EUA e na Europa Líderes afirmam que os preços baixos praticados pelos produtores chineses são artificiais e geram potencial de concorrência desleal.
Joe Biden anunciou tarifas de 100% para diversos produtos, entre eles os carros elétricos, são para proteger empregos americanos;
Na Europa, nenhum anúncio concreto foi feito, mas a União Europeia investiga a suposta concorrência desleal de diversos produtos chineses.
Uma alternativa planejada pela BYD é de produzir carros no México, o que driblaria a tarifa dos veículos na América do Norte.
E aqui o governo vai subir imposto dos elétricos importados. A diferença é que as taxas elas não são especificamente destinadas aos modelos chineses, como nos EUA, e ficarão 35% em 2026.
Made in Brazil: a BYD deve inaugurar sua primeira fábrica em 2025, na Bahia, e a GWM quer iniciar as operações ainda este ano, numa antiga fábrica da Mercedes no interior de São Paulo.
↳ Os modelos da linha Haval, da GWM, serão os primeiros carros de uma companhia chinesa feitos no Brasil. A empresa diz que fará 50 mil carros por ano.
↳ A BYD pretende produzir 150 mil carros por ano e se comprometeu a criar 5.000 empregos. Uma reportagem do New York Times (traduzida aqui) explica a história da montadora.
MAIS SOBRE CARROS ELÉTRICOS
A cobertura da Folha do Salão do Automóvel de Pequim neste ano, realizado em abril, mostra por que as marcas chinesas tornaram-se uma ameaça às montadoras tradicionais e os detalhes do carro elétrico da Xiaomi.
Ferramenta da Folha ajuda a escolher o melhor modelo de carro elétrico, com base na autonomia da bateria.
DE OLHO NO CLIMA
As mudanças climáticas acenderam um alerta dentro dos escritórios. Com chuva, calor e seca inesperadas, empresas buscam consultorias climáticas para evitar prejuízo.
Entenda: com dados, empresas podem estimar o melhor momento de levar às lojas uma nova coleção; contratar mais motoboys para dias de chuva, quando o número de pedidos cresce; reforçar o estoque de aparelhos de ar-condicionado.
↳ Os serviços são procurados por clientes diversos, como do setor cosméticos, varejo, deliveries de comida e entretenimento.
↳ Apuração da Folha mostra que CCR, iFood, Renner, Nivea e GM são algumas das empresas de grande porte que demandam análises.
↳ A consultoria Climatempo afirma que os clientes mais tradicionais, como o agronegócio e energia, têm menos peso hoje no negócio (queda de 50% para 35%), justamente porque a diversidade de setores tem aumentado.
Um exemplo: no primeiro trimestre de 2023, a Renner teve uma má experiência com o clima, quando decidiu cancelar a coleção de transição entre primavera-verão e outono-inverno para seguir direto para as roupas de inverno. As peças de transição encalharam frente às temperaturas que continuaram altas.
Os possíveis prejuízos para as empresas podem somar uma perda de 19% na economia global, no cenário mais pessimista. Entenda por que aqui.
Neste caso, eventos extremos seriam mais comuns. As chuvas que caíram sobre o Rio Grande do Sul no início do mês, a seca sobre o Pantanal e a onda de calor na Europa em 2023 são apontados como efeitos das mudanças climáticas com fortes impactados sobre a economia.
Quem paga a conta? Por desconfiar que vai ter de pagar a conta, parte da população mundial ainda duvida do discurso sobre a urgência da transição energética.
↳ Pesquisa realizada pela consultoria multinacional EY aponta que apenas 31% dos entrevistados estão dispostos a investir mais dinheiro em nome da energia limpa.
↳ 69% afirmaram não estarem dispostos a fazer mais do que já fazem pela causa.
Caso gaúcho: cientistas explicam aqui qual a relação das mudanças climáticas com o desastre no RS.
↳ Quer doar para o Rio Grande do Sul? Veja instituições, empresas e ONGs que recebem doações
STARTUP DA SEMANA: NG.CASH
O quadro traz às segundas o raio-x de uma startup que anunciou uma captação recentemente.
A startup: é uma fintech com foco na geração Z, que oferece conta digital, cartão de crédito pré-pago, PIX e investimentos em criptomoedas. O aplicativo tem conteúdo sobre educação financeira, um dos diferenciais alegados pela empresa.
Em números: a captação Series A na última semana foi de R$ 65 milhões. Somado aos primeiros investimentos Seed, o aporte total passa de R$ 125 milhões. Entenda aqui as etapas de investimento e termos do mercado.
Quem investiu: a rodada foi coordenada pela gestora de venture capital Monashees, com participação dos fundos a16z, 17Sigma, Tekon e The Generalist.
Que problema resolve: a dificuldade dos jovens de lidar com o próprio dinheiro sem qualquer experiência. A plataforma usa linguagens mais próximas desse público, como gamificação, e oferece educação financeira.
Por que é destaque: a captação foi a maior deste ano na América Latina. A NG.CASH já bateu também 2 milhões de usuários e quer expandir e começar a oferecer crédito. No momento, ela tem a classificação de instituição de pagamento pelo Banco Central, mas espera alcançar o status de banco no futuro.
VICTOR SENA / Folhapress