Rússia prende general que criticou estratégia na Ucrânia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Autoridades militares russas prenderam nesta terça (21) um general que, após perder o comando que detinha no sul da Ucrânia, disse que havia sido perseguido por criticar a estratégia do Ministério da Defesa na guerra e o tratamento dispensado a soldados.

Segundo a agência estatal Tass, Ivan Popov, 49, está envolvido em um “grande esquema de fraude”. Não foi divulgado nenhum detalhe acerca da acusação ou mesmo das circunstâncias da prisão, apenas que o general já apresentou sua apelação para ser solto.

Em 2023, Popov havia sido promovido de coronel a major-general, ranking com uma estrela que inexiste em forças como a brasileira, e enviado de Kaliningrado para comandar o 58º Exército de Armas Combinadas em Zaporíjia.

Lá, em junho, ele conseguiu derrotar a contraofensiva ucraniana que acabou, por fim, fracassada de forma integral no fim do ano. Sem muita explicação, ele foi destituído do cargo poucos dias depois, e uma explicação acabou sendo divulgada na Duma (Câmara baixa do Parlamento) pelo deputado Andrei Guruliov.

O político leu uma mensagem na qual Popov dizia ter sido demitido pelo chefe do Estado-Maior russo, Valeri Gerasimov, porque havia criticado a estratégia das forças invasoras e o fato de que os soldados estavam lutando além dos limites, sem rotação.

Ele disse que faltava apoio às tropas na linha de frente, com “ausência de radares de artilharia e a morte e em massa de nossos irmãos pelo fogo inimigo”. O general pedia, contudo, que a luta continuasse “em nome do sangue derramado de soldados e oficiais”.

A declaração caiu como uma bomba nos meios político e militar russos, e Gerasimov acusou Popov de “disseminar desinformação e pânico”, efetivamente jogando o general no ostracismo. Já alguns deputados afirmaram que as palavras do militar deviam ser ouvidas.

A prisão de Popov, desta forma, será lida como uma vingança tardia, caso não sejam apresentados dados concretos acerca da suposta fraude. O general Gerasimov permaneceu como número 2 do Ministério da Defesa após a queda do chefe, Serguei Choigu, que estava havia quase 12 anos no cargo e supervisionou a invasão da Ucrânia em 2022.

O general era visto como o estrategista militar da operação, que falhou em conquistar rapidamente a Ucrânia, como até o governo dos Estados Unidos previa. Após diversos ajustes, as forças de Vladimir Putin agora estão na ofensiva novamente, com ataques numa nova frente ao norte do país, além de pressão renovada no leste e no sul ucranianos.

Sua permanência sob a batuta do economista Andrei Belousov, indicado por Putin para incrementar o esforço de guerra, sugere que o time de Choigu segue com influência —o ex-ministro virou secretário do Conselho de Segurança da Rússia, que lida diretamente com questões militares, mas sem poderes executivos.

Se Popov for culpado de corrupção, contudo, pode haver um movimento em curso. Em abril, pouco antes da queda de Choigu, um de seus vice-ministros mais próximos, Timur Ivanov, foi preso sob a acusação de desvios bilionários na pasta.

Ivanov foi o mais alta autoridade russa detida por esse motivo desde que o ex-ministro da Economia Alexei Uliukaiev foi preso, em 2016. Mas o militar, um general de três estrelas, era muito mais importante, administrando verbas polpudas e representando um grupo de poder bastante influente.

Até aqui, Putin tem tratado tudo com aparente normalidade, buscando evitar a ideia de um expurgo ou de crise no meio militar. Essa avaliação agora depende da extensão de eventuais novas medidas.

IGOR GIELOW / Folhapress

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