Bolsa cai e dólar sobe, com Selic e divulgação da ata do Fed no radar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira tinha queda nesta terça-feira (21), conforme investidores analisavam projeções maiores para a Selic ao final do ano e mantinham a ata da última reunião do Fed (Federal Reserve), prevista para quarta-feira, no radar.

Às 13h29, o Ibovespa perdia 0,28%, a 127.318 pontos. Já o dólar subia 0,29%, cotado a R$ 5,119.

O mercado seguia atento aos debates em torno da política monetária doméstica, com apostas crescentes em uma taxa Selic mais alta do que o previsto para 2024.

Divulgado na manhã de ontem, o Boletim Focus passou a projetar que a taxa básica de juros feche o ano em 10% —um aumento de 0,25 p.p. (ponto percentual) em relação à estimativa anterior, de 9,75%. Essa foi a terceira semana consecutiva em que economistas consultados pelo BC (Banco Central) ajustaram as expectativas para cima.

O movimento segue a esteira de declarações recentes de diretores da autarquia, que, na ata da última reunião, concordaram em retirar a orientação futura para os próximos encontros, chamado no jargão econômico de “forward guidance”, diante de um cenário de maior incerteza na economia brasileira e global.

No encontro do início de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) optou por reduzir a Selic em 0,25 p.p., após seis cortes consecutivos de 0,5 ponto. O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ainda disse em entrevista na semana passada que não pode antecipar novas reduções, sob o argumento de que a autarquia precisa “de tempo, serenidade e calma para saber como as variáveis vão se desenrolar”.

“Após o relatório Focus de ontem indicar uma Selic de 10% no final de 2024, uma reunião de analistas com o BC no Rio de Janeiro sugeriu até a possibilidade de elevação da taxa básica de juros”, ponderam os especialistas da Guide Investimentos.

Uma possível alta na Selic “puxaria nosso diferencial de juros e favoreceria fortemente o real”, avalia Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

Em geral, quanto mais o Federal Reserve cortar os juros e menos o BC afrouxar a Selic, melhor para o real. Isso porque, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e EUA, mais interessante fica a moeda doméstica para uso em estratégias de “carry trade”, em que investidores tomam empréstimo em país de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercado mais rentável.

O mercado também se atentava ao calendário: nesta quarta-feira, está esperada a publicação da ata da última reunião de política monetária do Fed, que optou por manter os juros inalterados na faixa de 5,25% a 5,50% no encontro de maio.

A expectativa é que, no documento, as autoridades do banco central norte-americano comecem a dar mais pistas sobre a trajetória da taxa básica de juros do país, referência para os mercados globais.

Na decisão mais recente, a autarquia sinalizou que ainda está inclinada a eventuais cortes, mas avaliou que as leituras de inflação até aquele momento eram decepcionantes.

Desde então, em falas separadas na última semana, dirigentes demonstraram cautela com a inflação. Eles reconheceram uma virada positiva depois que números mostraram que os preços ao consumidor nos EUA subiram menos que o esperado em abril, mas a desaceleração não foi o suficiente para que começassem a antever um corte concreto nas próximas reuniões.

O clima externo, porém, é de otimismo: os investidores preveem uma probabilidade de quase 82% de que o Fed reduzirá os juros em pelo menos 0,25 ponto percentual em setembro, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.

As Bolsas dos Estados Unidos viveram ralis nos últimos dias, conforme as esperanças de um corte próximo cresciam. Nesta terça, os índices, porém, operavam com cautela, antes da divulgação da ata e à espera do balanço trimestral da Nvidia, fabricante líder em chips de inteligência artificial.

“O Ibovespa segue travado e sem aproveitar os bons ventos do mercado externo que atingiram novos recordes históricos recentemente”, destacaram analistas do Itaú BBA no relatório Diário do Grafista. “O momento é de esperar um rompimento para dar sinais mais claros do próximo movimento do mercado.”

Wall Street mostrava S&P 500, Nasdaq e Dow Jones com ganhos modestos, quase em estabilidade.

Na cena corporativa, era destaque positivo a YDUQS, que saltava 9,98%, tendo no radar previsão do grupo de educação de um lucro líquido ajustado por ação de entre R$ 1,6 e R$ 1,9 em 2024, segundo fato relevante ao mercado.

A companhia também projetou que em 2025 o resultado líquido ajustado será de entre R$ 2 e R$ 3 por ação, enquanto a previsão para o ano seguinte é de entre R$ 2,5 e R$ 3,5 por papel.

Vale subia 0,38%, com nova alta dos futuros do minério de ferro na China. Petrobras andava mista: os preferenciais subiam 0,22%, enquanto os ordinários recuavam 0,16%.

Do lado das quedas, Lojas Renner perdia 4,36%, tendo de pano de fundo relatório de analistas da XP cortando a recomendação dos papéis para “neutra”, com preço-alvo de R$ 18, diante da avaliação de que o clima e o macro serão obstáculos para o crescimento e expansão de margem da companhia, com o segundo trimestre sendo um potencial gatilho para uma revisão negativa no lucro.

Suzano recuava 3,88%, após notícias de que a companhia teria discutido a possibilidade de melhorar a oferta de aquisição da International Paper de US$ 15 bilhões, após a empresa europeia rejeitar a abordagem inicial.

Na segunda-feira, dólar teve leve alta de 0,04%, praticamente em estabilidade, cotado a R$ 5,104 na venda.

Já o Ibovespa, que oscilou entre o sinal negativo e positivo ao longo do dia, recuou 0,31%, a 127.750 pontos.

Redação / Folhapress

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