Dev Patel estreia na direção e recupera origens indianas no filme ‘Fúria Primitiva’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem via aquele Dev Patel magrelo, de 17 anos, encarnando o alívio cômico da polêmica série “Skins”, sobre adolescentes britânicos que passam os episódios bebendo, se drogando e transando, não imaginaria que sua ascensão a nome sério de Hollywood seria tão bem-sucedida.

Hoje aos 34, Patel já protagonizou um vencedor do Oscar de melhor filme, “Quem Quer Ser um Milionário?”, foi ele próprio indicado pela atuação em “Lion: Uma Jornada para Casa” e agora faz sua estreia na direção de um longa-metragem, com “Fúria Primitiva”, que chega aos cinemas nesta semana, também com participações suas no roteiro e na produção.

Vencedor do prêmio do público do festival South by Southwest, o SXSW, o filme vem sendo descrito pela crítica estrangeira como uma estreia sólida na direção, e um sinal de amadurecimento de Patel em sua jovem, mas já consistente carreira.

“Eu estava pronto para ir para casa e encerrar esse sonho, então só o fato de eu ter assegurado um lançamento para o filme nos cinemas já significou o mundo para mim”, diz o ator-diretor sobre o evento, uma vitrine que ajuda a garantir distribuição para produções que não são bancadas por grandes estúdios.

Em “Fúria Primitiva”, ele também aparece diante das câmeras, como o morador de um vilarejo indiano que vê a mãe ser assassinada por um homem influente e corrupto. Ele toma para si a missão de vingá-la e, sem pressa, vai arquitetando seu plano de assassinato ao longo de muitos anos.

Kid, como é chamado, ganha a vida vestindo uma máscara de macaco, que usa no ringue de um clube de boxe onde é encorajado a perder, servindo de escada para lutadores mais influentes. Em paralelo, treina um cachorro para carregar suas armas e turbina um tuk-tuk, sempre pensando no dia em que enfim vai confrontar o assassino de sua mãe.

É uma história de justiça social que pode estar distante da realidade de Patel, nascido e criado em Londres, no Reino Unido, mas que ele faz questão de levar às telas numa reverência às suas origens –seus pais fazem parte de uma comunidade indiana que se fixou no Quênia nos anos de colonização britânica.

Não é uma trama exatamente nova, mas traz uma roupagem original para o cinema de ação feito no Ocidente, ao se prender aos cenários e à cultura da Índia, distantes do que se vê no gênero quando ambientado nos Estados Unidos, e ao hinduísmo, uma presença forte na jornada do protagonista.

“Como fã de filmes de ação, eu estava me coçando para ver um filme como esse nas telas. Por isso, era prioritário encher a trama com a minha cultura, a minha mitologia, a extravagância de Bollywood e com elementos do próprio gênero, e fazer dela um cavalo de Troia para discutir assuntos profundos que esse público não necessariamente quer discutir.”

Visualmente, Patel concilia o film noir americano com menções contidas a Bollywood. Surge em cena um contraste interessante entre o chiaroscuro e a sobriedade do primeiro e a energia e a fantasia do segundo. Por vezes, Kid parece de fato se transformar no homem-macaco que batiza o filme lá fora, “Monkey Man”, e as cenas de ação, hiperbólicas, canalizam o exagero da indústria cinematográfica indiana.

“Apesar de ser alguém que cresceu mantendo certa distância das raízes, por medo de ser hostilizado, eu percebi que precisava entrar no molde para quebrá-lo”, diz Patel, que passou boa parte dos últimos anos na Índia, gravando filmes estrangeiros, mas ambientados ali. Ele também aprendeu hindi e fortificou sua relação de berço com o hinduísmo.

“Ainda assim é uma história universal, sobre como a fé das pessoas pode ser manipulada e virar uma arma e, ao mesmo tempo, ser algo lindo, uma bússola moral”, diz. “Não queria que esse filme fosse apenas sobre socar pessoas, mas que tivesse algo a dizer.”

FÚRIA PRIMITIVA

– Quando Estreia nesta quinta (23), nos cinemas

– Classificação 16 anos

– Elenco Dev Patel, Makrand Deshpande e Sobhita Dhulipala

– Produção EUA, Canadá, Singapura e Índia, 2024

– Direção Dev Patel

LEONARDO SANCHEZ / Folhapress

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