SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em 2024, o outono começou mais quente e seco do que o normal, atrasando a chegada dos casacos ao vestuário do brasileiro. Agora, com uma onda de frio se aproximando em dez estados, segundo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), as tradicionais doenças de outono voltam a preocupar.
Julio Croda, médico infectologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), lembra que o tamanho continental do Brasil implica diferentes riscos para cada região. “Na região Norte, houve a volta da febre oropouche. Mas o esperado é que tenhamos um aumento de doenças causadas por vírus respiratórios no geral”, diz.
De acordo com o último boletim InfoGripe, da Fiocruz, o VSR (vírus sincicial respiratório) ainda é responsável por 56% dos resultados positivos para vírus respiratórios nas últimas quatro semanas no Brasil.
O VSR é o maior causador de infecções do trato respiratório inferior em bebês e crianças e pode gerar, em conjunto com outros vírus respiratórios, sobrecargas no sistema de saúde. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a cidade está com 90% dos leitos hospitalares ocupados atualmente.
“Esse vírus causa 80% dos casos de bronquiolite e 40% dos de pneumonia nas crianças. Além dele, temos outros enterovírus como a roséola”, afirma Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Ele completa dizendo que é importante se atentar aos sintomas para saber quando é preciso recorrer à emergência dos hospitais: “Casos agudos de crise respiratória, febre alta e persistente, mal-estar muito grande precisam de tratamento”.
Sobre as pneumonias, o médico diz que o risco dessa doença é maior no inverno do que no outono, mas lembra que elas podem ocorrer durante todo o ano.
O boletim da Fiocruz mostra que, apesar de corresponder a apenas 4,6% das novas infecções, a Covid-19 ainda é responsável por 30% dos óbitos relacionados a Srag (síndrome respiratória aguda grave). O vírus influenza A, causador da gripe, está ligada a 27,3% das infecções e 48% dos óbitos.
A vacina da gripe, que imuniza contra os vírus Influenza A e B, já está sendo aplicada no estado de São Paulo para os grupos prioritários, a expectativa é que a campanha dure até o dia 31 de maio. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), de 41 mil a 72 mil pessoas morrem em consequência da gripe todos os anos nas Américas.
Desde o dia 22 de maio, a capital paulista aplica a vacina atualizada da Moderna contra a Covid-19. O público-alvo são crianças entre 6 meses a 4 anos, gestantes, puérperas, imunocomprometidos e idosos. Para se vacinar, basta procurar uma UBS (Unidades Básicas de Saúde) ou AMA (Assistências Médicas Ambulatoriais).
Croda indica a tomada de cuidados básicos, como ficar em casa se houver algum sintoma, lavar as mãos, utilizar máscara e se hidratar. Além disso, ele afirma que é necessário que as prefeituras revejam suas capacidades hospitalares para o período. “Em São Paulo, vivemos uma elevação da dengue e vamos ter um aumento de casos de vírus respiratórios.”
Para o infectologista, essa situação pode ser descrita como uma sindemia, termo criado pelo médico americano Merrill Singer para designar um período de coexistência entre duas ou mais epidemias, ampliando os impactos das doenças.
A chegada do frio pode representar também a chegada de crises alérgicas para quem sofre de rinite, sinusite, bronquite e outros “ites”. Kfouri afirma que o outono é o período em que essas alergias se exacerbam por causa das mudanças climáticas, além de poderem acontecer em conjunto com uma das infecções virais que também estão em alta no período.
“Para o alérgico, o principal mecanismo de defesa é se afastar do que causa a alergia. É preciso também manter a higiene dos ambientes, para evitar poeira, ácaros e outros alérgenos, além, é claro, de fazer tratamento médico, seja com imunoterapia ou com uso de medicamentos”, diz.
Outro ponto de atenção são as mudanças climáticas. Ainda de acordo com a OMS, o fenômeno pode intensificar epidemias de arboviroses (doenças causadas por vírus transmitidos principalmente por mosquitos), como a dengue, mesmo fora do verão.
“Não temos mais sazonalidade, especialmente comparado ao período pré-pandêmico. Hoje temos uma distribuição mais constante dessas doenças ao longo do ano, também por causa das mudanças climáticas, que afetam como os organismos que causam as doenças funcionam”, afirma Kfouri.
Ele ressalta o impacto que a pandemia de Covid teve na distribuição dos ciclos das doenças ao longo do ano, visto que, no período de “volta ao normal”, pessoas que estavam isoladas havia meses ou até anos voltaram a circular, causando epidemias fora de época, como a influenza no verão deste ano em São Paulo.
Hábitos para combater doenças respiratórias
– Ter o calendário vacinal em dia. Isso inclui as vacinas contra a gripe, Covid-19 e, se aplicável, a dengue.
– Não deixar os ambientes totalmente fechados
– Manter a higiene e limpeza dos locais.
– Realizar atividades físicas de forma constante
– Manter uma boa hidratação e comer alimentos saudáveis
– Observar a qualidade do sono e dormir bem
BRUNO XAVIER / Folhapress