SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Lucas Penteado estava em Porto Alegre quando as enchentes causadas pelas chuvas intensas começaram em todo o estado do Rio Grande do Sul. Ele havia acabado de filmar “A Banda”, filme de Marcela Mariz, dirigido por Hsu Chien Hsin, com Luísa Perissé, Lucas Salles, Mônica Carvalho e Werner Schünneman.
Ao fim das gravações, o ator e sua mulher, Nayara Zabele, se viram presos em um quarto de hotel, sem poder retornar ao Rio de Janeiro.
Em uma ida à farmácia, Lucas presenciou uma mulher recebendo a notícia do falecimento de familiares. “O impacto das perdas me pegou antes da televisão. Eu sou ex-dependente químico e ex-depressivo. Tenho facilidade em ficar mal com as notícias”, disse ele em entrevista à reportagem. “Meu psicólogo e meu psiquiatra me ligaram e ficaram pedindo para que eu voltasse, porque, psicologicamente, eu não tinha condições naquele momento e precisava estar perto deles”, contou.
Foi por isso, explica, que não participou ativamente da ajuda aos gaúchos desabrigados. Ele voltou à sua casa, no Rio de Janeiro, sobretudo para manter a sobriedade. Lucas conseguiu largar o vício em álcool e drogas há sete meses, quando foi internado em clínica psiquiátrica para tratar de uma crise. “A Banda” foi seu primeiro convite para o cinema após deixar a clínica, em dezembro.
Lucas passou por períodos de depressão após desistir do BBB 21, quando se envolveu em brigas com Karol Conká, Nego Di e Projota. Ele também enfrentou períodos de vício em drogas, que o levaram a buscar ajuda em uma clínica psiquiátrica por alguns meses.
O ator disse que as crises são impulsionadas pelos problemas familiares com seus pais e não citou a ex-namorada, que o acusou de agressão e violência, e cujo inquérito foi arquivado pela justiça.
Agora, sóbrio, ele reclama da dificuldade de voltar a trabalhar, seja no cinema, no teatro ou na TV: “O mercado não compreende que as pessoas ficam doentes. Já é o terceiro ano seguido que eu estou enfrentando um cancelamento”.
Antes da crise em outubro, ele esteve nas telas dos cinemas com “Nosso Sonho”, a história de Claudinho e Bochecha, que fez sucesso e agora está disponível no streaming. O longa foi filmado durante período de sobriedade.
“De que adianta nós fazermos políticas contra as drogas, quando não nos preocupamos com as pessoas que estão doentes, com doenças ligadas diretamente às drogas, doenças psicológicas? Que estão impedidas de trabalhar e, quando se recuperam, nós não ajudamos na sua reinserção profissional?”, questiona o ator.
A Globo, com quem tem contrato de atuação e apresentação desde 2020, seria um exemplo disso. Ele contou que a emissora o tem apoiado em seu tratamento durante todo esse tempo, mas trabalho que é bom, por quanto, nada.
“A Rede Globo me deu um grande apoio por meio do plano de saúde e acompanhamento psiquiátrico. Fico aguardando para saber qual vai ser o próximo produto que as pessoas vão me colocar para trabalhar”. Lucas disse à reportagem que o convite para “A Banda” fez com que se sentisse “um ser humano de novo”. Quer ser exemplo para outras pessoas que lutam contra a dependência química.
“A pessoa que está em casa fechada, que está assistindo à televisão e vê uma notícia do filme ‘Nosso Sonho’ e ela sabe que o Lucas Penteado é um adicto em recuperação, vê que ele se recuperou e que ele consegue trabalhar, que ele tá bem, casado e feliz, isso é esperança, isso é uma porta de saída desse lugar escuro que é a solitude das doenças psicológicas”.
O ator foi premiado pela atuação em “Nosso Sonho” no Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF) em outubro, quando ainda estava internado na clínica psiquiátrica. Ele espera poder comemorar o lançamento de “A Banda”, que acontecer em breve.
LUÍSA MONTE / Folhapress