RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – “Estou tendo que passar por esse constrangimento”, brinca o corintiano Gabriel Godoy, 40, sobre o palmeirense roxo Chicão, seu personagem em “Família É Tudo” (Globo). O ator conta que os amigos, claro, não perderam a oportunidade de zoá-lo, mas ele diz que tem levado na esportiva.
“Estou me sentindo como se fosse um jogador de futebol profissional, que troca de clube com facilidade”, compara. “Sempre fui corintiano, porque minha família toda é corintiana, meu avô falecido que me levava aos jogos do Corinthians nos anos 1990 e, de repente… ‘Quer ser palmeirense na novela?'”
Gabriel aceitou e tem chamado a atenção como o mestre de obras que vive uma relação cheia de idas e vindas com a patricinha Andrômeda Mancini (Ramille). A química do casal é um dos pontos altos da trama das 19h, escrita por Daniel Ortiz.
“Como ator, o jogo só acontece se você tem bons parceiros. Já me vi em trabalhos com cenas maravilhosas, mas onde o jogo não acontecia, e a Ramille é uma excelente parceira de cenas”, elogia ele, que destaca também a disponibilidade cênica do colega Daniel Rangel, que vive o atrapalhado Guto, irmão de Chicão. “É um ator fantástico, e isso facilita muito para quem também gosta de jogar”, diz.
Mas, para além dos parceiros, Gabriel também tem dado muito de si nas gravações. Na conversa, percebesse que ele está longe do tipo bronco que interpreta nas telas. “O personagem requer o encaixe vocal de uma prosódia, de ficar ‘e aí mano’, e também física, porque é um corpo também que se mexe muito, então saio muito cansado [das gravações]”, admite.
A facilidade com os tipos cômicos, ele diz, veio de nascença. “Minha família por parte de pai é argentina, meu pai é argentino, e eles sempre foram muito engraçados. Eu cresci muito com o riso’, conta. “Acho que o riso é um respiro para qualquer momento nessa vida louca que a gente tem, ainda mais nos tempos atuais.”
Talvez por isso mesmo, o ator acabou sendo mais requisitado para o horário das 19h, que costuma ter novelas mais leves e cômicas. Nessa pegada, “Família É Tudo” é a quarta que ele faz nessa faixa. “Sou um defensor de novela das sete, que muitas vezes não é muito respeitada no mercado audiovisual”, afirma ele. “Acho fazer produto popular muito desafiador.”
Mas se as risadas que Chicão provoca já eram esperadas, o mesmo não se pode dizer da reação das pessoas às cenas dele descamisado na novela, que renderam comentários assanhados nas redes sociais. “Quando foi que Gabriel Godoy ficou tão gostoso, meu pai?”, brincou o perfil Dan Pimpão no X (o antigo Twitter).
“Estou com 40 anos, então sou de uma geração que ainda tem que se adaptar às redes sociais”, diz ele. “Só que a minha namorada, Raíssa Xavier, é mais nova que eu. Ela também é atriz e tem habilidades de internet, e me mostra. Estou me divertindo com ela, achando muito legal. Acho que essa cultura da beleza faz parte do entretenimento também, não tem jeito, é uma realidade.”
O ator compara a trama com “Uga Uga”, novela de Carlos Lombardi exibida entre 2000 e 2001 e talvez o auge da cultura dos descamisados e dos corpos masculinos à mostra na faixa horária. “Eu assistia muito, peguei muito essas novelas”, conta.
Ele diz perceber muito da mistura de comédia com sensualidade que via ali em seu núcleo de “Família É Tudo”, e em especial nas cenas de Chicão e Andrômeda. “É uma explosão de desejo que os dois personagens têm, eu acho que o público gosta disso”, afirma ele, comparando os personagens aos protagonistas de “A Dama e o Vagabundo” e de “A Princesa e o Sapo”. “A gente já viu isso, é uma receita que funciona”, avalia.
Feliz com a repercussão do personagem, Gabriel agora quer mostrar que consegue dar conta de personagens com outros perfis. “Toda vez que a Globo me chama é para personagens assim, e eu gosto bastante, mas estou lutando aqui na casa para as pessoas notarem que eu também posso fazer outras coisas”, afirma.
Ele diz querer experimentar tramas em outros horários, em especial o das 21h, o mais nobre da TV brasileira, que ele nunca frequentou. “Se eu for para fazer um núcleo cômico, ok, eu vou fazer, porque não vou ficar recusando trabalho porque não é fácil ser artista nesse país, mas acho que isso falta para os produtores e para os diretores: olhar fora da caixa.”
O papel dos sonhos, no momento, é o de um galã que carregue a trama nas costas. “Estou com 40 anos, daqui a pouco não vou poder ser mocinho (risos)”, comenta. “Tenho um planejamento e uma meta de dar esse salto. Estou trabalhando para isso, para ter uma oportunidade também nesse lugar.”
“Esse mocinho neutro também é muito desafiador”, diz ele, que, fora da Globo, já protagonizou produções como “Desjuntados” (Prime Video) e “Homens?” (Comedy Central). “Estou me sentindo cada vez mais potente nesse sentido, pela maturidade e pela experiência de trabalhar bastante, graças a Deus.”
VITOR MORENO / Folhapress