SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um texto de opinião escrito pelo ativista israelense Jonathan Pollak para o jornal Haaretz foi censurado pelo governo e publicado nesta quarta-feira (29) com tarjas escondendo trechos da redação.
A reportagem trata da prisão arbitrária de palestinos por autoridades israelenses na Cisjordânia ocupada Israel veta com frequência a publicação de matérias sobre o tema na imprensa do país, sob a alegação de risco à segurança nacional.
O título do texto é “A Razão de Israel para a Prisão”, seguido de tarjas escondendo o restante da chamada. As tarjas foram acrescentadas pelo próprio jornal para omitir detalhes do caso. Elas aparecem tanto na versão impressa do veículo, considerado uma publicação mais alinhada à esquerda, quanto na versão online.
No texto, Pollak relata o caso do palestino Bassem Tamimi, que foi preso em 29 de outubro de 2023 na cidade de Nabi Saleh, próxima a Ramallah, na C. Tamimi é um ativista palestino conhecido por liderar protestos contra a ocupação de Israel e assentamentos israelenses nos territórios palestinos.
De acordo com a publicação, Tamimi foi levado a um hospital depois da prisão para tratar um pico de pressão alta. Os soldados permitiram que ele ligasse para a esposa, Nariman, e ele teria dito a ela que estava bem. O telefonema foi o último contato da família com Tamimi, de acordo com Pollak.
O restante do texto é fortemente censurado, prejudicando o entendimento do caso. Não se sabe do que Tamimi é acusado nem onde ele está preso. A publicação aponta que o pouco que se conhece do estado do ativista é por meio de um amigo que também foi preso e o viu na cadeia antes de ser solto.
Apesar do caso desse amigo não estar sob censura, o governo israelense proibiu que detalhes relacionados a Tamimi fossem publicados.
A chamada “detenção administrativa” de Tamimi, termo usado para Israel a prisões de palestinos em territórios ocupados com base em questões de segurança, foi decretada por seis meses e renovada por mais seis.
A medida dá a autoridades militares israelenses permissão para manter palestinos na cadeia sem prazo para apresentar acusações ou para um julgamento.
Esse tipo de prisão é aplicado a palestinos na Cisjordânia ocupada, que estão sujeitos à Justiça militar de Israel, enquanto israelenses na mesma região são julgados em cortes civis. A distinção é um dos principais argumentos de organizações de direitos humanos que acusam Tel Aviv de administrar um regime de apartheid nos territórios ocupados.
Pollak ainda afirma no texto, mencionando dados do governo israelense, que mais de 7 mil pessoas estão presas no sistema carcerário sem condenação. Destas, 60% sequer foram acusadas e aguardam em detenção sem saber o crime a que respondem.
Jonathan Pollak é um ativista israelense que já foi, ele próprio, preso por protestar contra o governo de seu país. Em janeiro de 2023, ele foi acusado de arremessar pedras contra um jipe militar, de acordo com a emissora Al Jazeera, e pediu para ser julgado na Justiça militar, como acontece com palestinos.
A violência tem aumentado na Cisjordânia desde o início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza em 7 de outubro. Mais de 5 mil prisões foram feitas por forças de segurança de Israel no território governado pela Autoridade Palestina desde o ataque terrorista do Hamas, e mais de 500 palestinos foram mortos em operações de Tel Aviv.
Ao todo, 1.200 israelenses morreram no mega-ataque terrorista contra Israel no ano passado, e mais de 36 mil palestinos foram mortos depois de bombardeios de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza.
VICTOR LACOMBE / Folhapress