PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O cenário visto em uma concessionária de veículos da Kia Motors na zona norte de Porto Alegre (RS) dá uma dimensão dos prejuízos causados pela enchente em empresas da capital gaúcha.
Grandes vidros que contornavam a loja foram arrancados pela água, deixando o ponto comercial sem a proteção da vitrine. Os cacos estavam espalhados pelo chão na sexta-feira (31), quando a marca barrenta da inundação ainda era visível em pilares e paredes.
“O impacto maior para a gente foi na estrutura do prédio. Os vidros foram arrancados pela força da água”, afirma Juliana Furstenau, diretora da concessionária. “Temos de montar o prédio praticamente do zero.”
Ela projeta um prejuízo na casa de R$ 4 milhões devido aos danos estruturais. A perda só não foi maior porque a empresa conseguiu salvar os carros que estavam à venda no local.
Os veículos foram levados para uma loja livre dos alagamentos no começo de maio, quando Porto Alegre amargou o início da cheia do lago Guaíba.
Em outras concessionárias da zona norte, próximas ao aeroporto Salgado Filho, o cenário também é de destruição. Vidraças foram estouradas pela água e estão sendo substituídas por tapumes, enquanto os imóveis acumulam barro deixado pela enchente.
No Rio Grande do Sul, fala-se em 200 mil veículos atingidos pelas inundações, considerando situações diversas, como carros alagados em ruas, garagens, estacionamentos e lojas, segundo o Sincodiv/Fenabrave-RS, que representa concessionárias e distribuidoras.
A entidade empresarial estima danos em mil veículos zero-quilômetro no estoque das concessionárias. Além disso, também houve impacto em seminovos, destruição de prédios, mobiliário, sistemas e outras estruturas, o que leva o prejuízo do setor para a faixa de R$ 1,5 bilhão, aponta a instituição.
De acordo com a entidade, a recuperação dos carros danificados depende muito da quantidade de água que atingiu os bens e do tempo em que permaneceram submersos. Veículos com baixa tecnologia poderiam ser reparados, mas a maioria possui mais componentes tecnológicos, o que dificultaria o processo.
“O impacto foi muito violento. Sabemos de concessionárias com estoques de centenas de carros danificados ou com perda total. As empresas também têm muitos colaboradores que moram nas zonas afetadas”, afirma Viviane Maglia, vice-presidente do Sincodiv/Fenabrave-RS.
“Além da preocupação com o estoque e as peças, também existe a preocupação com o bem-estar dos colaboradores”, acrescenta.
O Sincodiv/Fenabrave-RS representa 720 concessionárias. Desse total, estima-se que 300 tenham sido atingidas pelas inundações. A rede emprega diretamente cerca de 18 mil trabalhadores –a projeção é de que 6.000 famílias tenham sido afetadas.
Dependendo da localização das lojas, há empresários que só conseguiram retornar para os endereços com a trégua da enchente na última semana.
“Sendo muito franca, é até difícil avaliar o impacto, porque ninguém viveu nada parecido antes”, diz Maglia. “A grande interrogação é como o mercado vai reagir nos próximos meses.”
Perto do aeroporto Salgado Filho, que está paralisado devido à enchente, a redução do nível da água revela que locadoras de veículos também foram atingidas em Porto Alegre. Na sexta, era possível observar os pátios das empresas repletos de carros com marcas de alagamentos.
LEONARDO VIECELI / Folhapress