RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro gerou dois polos opostos dentro do Flamengo, clube com a maior torcida do país, e na cidade.
Os dois principais pré-candidatos ao cargo, o prefeito Eduardo Paes (PSD) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), se alinharam a dirigentes do clube, provocando um racha na diretoria.
O diretor de Relações Externas, Cacau Cotta (MDB), se aliou ao atual mandatário, enquanto o vice-presidente de futebol, o vereador Marcos Braz (PL), tem participado de atos de seu correligionário.
Cotta tem conseguido ampliar sua exposição ao lado do prefeito com a longa novela sobre a intenção do clube de construir um estádio próprio na zona portuária da capital. Paes anunciou, mencionando o diretor na fala, a intenção de desapropriar o terreno alvo de interesse caso a Caixa Econômica Federal, dona da área, não avance nas negociações.
Segundo o Datafolha, o Flamengo atingiu o maior índice de torcedores no ano passado, representando 21% dos brasileiros. Não há um recorte específico para o peso na capital fluminense.
A proliferação de candidatos na diretoria rubro-negra não é inédita. Em 2012, a então presidente Patrícia Amorim tentou uma vaga na Câmara Municipal pelo MDB, enquanto Braz disputou pelo PSB. Os dois, que não foram eleitos, estavam na chapa de Paes.
A polarização rubro-negra se intensificou em abril, quando Braz publicou em suas redes sociais uma imagem ao lado de Ramagem no Ninho do Urubu, centro de treinamento do clube, em Vargem Grande (zona oeste).
A foto foi divulgada um dia após uma reunião entre Paes e o presidente do clube, Rodolfo Landim, na qual o prefeito se comprometeu a contribuir com a construção do estádio próprio do Flamengo.
Após a publicação da imagem de Braz e Ramagem, Paes passou a incluir Cotta nas conversas sobre a construção do estádio. Ele havia se filiado dias antes ao MDB, embora tenha negociado a candidatura pela PSD.
Um dos principais representantes da prefeitura nas discussões sobre o estádio do Flamengo junto à Caixa é o deputado federal Pedro Paulo (PSD), preferido de Paes para ocupar a vice na chapa de reeleição.
Cotta afirma não haver um racha na diretoria. “Não tem divisão da diretoria. A diretoria é uma só. Eu, como pessoa física, tenho direito de ser candidato, como outros têm direito.”
O diretor rubro-negro afirmou não ser correta a associação entre o empenho da prefeitura na construção do estádio com a proximidade das eleições.
“O prefeito também ajudou Fluminense, Vasco e Botafogo a ter seus terrenos fora da época eleitoral”, disse ele.
“Sei que é óbvio que ninguém vai desvincular isso nesse momento. O eleitor não está conseguindo desvincular a boa política da política de momento. Mas é um bem que vai ficar. Vai depender ainda de construção, viabilização financeira.”
Cotta afirma conhecer Paes desde o período em que trabalhou na Câmara Municipal como assessor do vereador Sami Jorge, presidente do Legislativo carioca morto em 2015.
“Sempre trabalhei com política. Assessorei alguns candidatos. Coordenei a campanha do Sami Jorge. Era um sonho antigo e vi a possibilidade de ajudar a instituição Flamengo e o esporte”, disse ele.
Paes não quis comentar o vínculo entre o projeto do estádio e a eleição. Em seus discursos, tem dito que o empenho para a iniciativa é o mesmo que investiu no projeto de lei para ampliação do estádio do Vasco (seu time), e nas melhorias para o estádio das Laranjeiras, do Fluminense.
Procurado, Braz não respondeu aos pedidos de entrevista. Ele e o prefeito mantêm uma relação amistosa. O vice-presidente do Flamengo foi secretário de Esportes no segundo mandato de Paes, entre 2015 e 2016. A Polícia Federal, inclusive, apura desvios de verbas indicadas por um delator no período, o que ele nega.
No PL, a pauta é vista como eleitoreira, mantendo Ramagem distante do tema.
Os três principais candidatos ao Palácio da Cidade (Paes, Ramagem e Tarcísio Motta) são vascaínos.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress