Coreia do Norte suspende envio de balões com lixo ao Sul após Seul ameaçar responder com k-pop

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Coreia do Norte afirmou, neste domingo (2), que vai parar de mandar lixo por meio de balões para o vizinho do sul horas após fazer o terceiro envio de infláveis em menos de uma semana e ser ameaçado por Seul com a transmissão de k-pop na fronteira. O país, porém, prometeu retomar a prática caso ativistas da Coreia do Sul enviem panfletos políticos ao Norte de novo.

De acordo com Seul, 720 balões levando sacolas com objetos como bitucas de cigarro haviam sido identificados desde a noite deste sábado (1º). “Cerca de 20 a 50 balões passaram pelo ar a cada hora”, afirmou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul em um comunicado.

Os carregamentos chegaram à região norte da Coreia do Sul, incluindo a capital, Seul, e a província de Gyeonggi, que abrigam cerca da metade da população do país, segundo a nota.

Desde o início da campanha de Pyongyang, na terça-feira passada (28), cerca de mil balões foram detectados, alguns deles com fezes de animais, de acordo com Seul. Os deste domingo tinham “resíduos como pontas de cigarro, papel, pedaços de tecido e plástico” e não levavam substâncias perigosas, disse o Estado-Maior.

“Instamos o público a evitar o contato com os balões e a relatá-los à unidade militar ou estação policial mais próxima”, acrescentou o comunicado militar.

De acordo com Pyongyang, o número total de balões enviados foi ainda maior: 3.500 infláveis que carregavam 15 toneladas de lixo, segundo o vice-ministro da Defesa da Coreia do Norte, Kim Kang-il. O funcionário disse, em um comunicado divulgado pela agência estatal, que agora a Coreia do Sul teve uma amostra de como é “sujo” coletar rejeitos.

Ao enviar os objetos ao espaço aéreo vizinho, Pyongyang afirma estar devolvendo “na mesma moeda” ações de desertores norte-coreanos que vivem na Coreia do Sul e espalharam “panfletos e várias coisas sujas” na fronteira. Ativistas sul-coreanos enviam regularmente infláveis contendo panfletos anti-Pyongyang, comida, remédios, dinheiro e pen drives com vídeos de música k-pop.

Na quarta-feira (29), um dia depois do primeiro envio, um funcionário do gabinete presidencial da Coreia do Sul afirmou que Seul responderia com calma à provocação. “Ao colocar lixo e objetos diversos em balões, eles parecem querer testar como nosso povo reagiria e se nosso governo de fato seria perturbado”, afirmou ele a jornalistas na ocasião.

Neste domingo, porém, o gabinete do presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol acusou o país vizinho de “provocações sujas que nenhum país normal imaginaria” e afirmou que Seul começaria a tomar “medidas que a Coreia do Norte consideraria insuportáveis”.

Tais medidas poderiam incluir a transmissão de propaganda e música k-pop por alto-falantes ao longo da fronteira, segundo o gabinete —ação que o ditador norte coreano, Kim Jong-un, considerou tão ameaçadora que certa vez chamou de “cancro cruel”.

Provocações entre os dois países são comuns —desde o armistício da Guerra da Coreia, em 1953, as duas nações permanecem tecnicamente em conflito e estão separadas por uma zona desmilitarizada.

No entanto, as ações normalmente envolvem exercícios militares e lançamentos de foguetes, como aconteceu na última quinta-feira (30), quando a Coreia do Norte disparou cerca de dez mísseis balísticos de curto alcance nas águas ao leste da península, segundo Seul.

A estratégia dos últimos dias remonta à Guerra Fria, quando a Coreia do Norte e a Coreia do Sul tentavam influenciar uma à outra por transmissões de rádio. Ao longo da zona desmilitarizada, alto-falantes bombardeavam soldados rivais dia e noite com canções de propaganda, e cartazes exortavam os militares a desertar para um “paraíso do povo” no Norte ou para o Sul “livre e democrático”.

Na época, o envio de balões ao espaço aéreo vizinho já acontecia em ambos os lados. Milhões de panfletos difamando o país vizinho foram espalhados pela Península Coreana —material que ambas as Coreias proibiram a população de ler ou guardar. No Sul, a polícia chegou a recompensar com lápis e outros materiais escolares crianças que denunciavam os panfletos que encontravam.

Redação / Folhapress

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