SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O responsável do Vaticano para as migrações incentivou, nesta segunda-feira (3), que os eleitores da União Europeia “se lembrem de suas raízes migratórias”, dias antes das eleições que podem consolidar a crescente influência da ultradireita.
“Frequentemente, a propaganda e a ideologia sugerem que os migrantes fogem por prazer ou aventura: isso é falso. É lamentável que tenhamos que seguir insistindo nisso”, afirmou o cardeal canadense Michael Czerny, chefe do escritório de desenvolvimento humano do Vaticano, em entrevista coletiva. “É importante compreender o que significa se ver empurrado pela realidade, pela história, a fugir”.
As eleições para o Parlamento Europeu acontecem de 6 a 9 de junho nos 27 países-membros da UE. O Vaticano normalmente não toma partido político, mas durante os 11 anos de seu pontificado, o papa Francisco tem consistentemente defendido os direitos dos migrantes e pedido uma abordagem mais humanitária por parte dos governos ocidentais.
“É fácil dizer: ‘A migração é uma crise mundial’. É falso e estúpido, mas dá medo”, alertou Czerny.
O cardeal estava respondendo a uma pergunta sobre sua preocupação com a vitória de partidos de ultradireita e usou a oportunidade para apresentar a mensagem papal para o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados da Igreja Católica, que ocorrerá em 29 de setembro.
Czerny, filho de imigrantes tchecos no Canadá que usa um crucifixo feito da madeira de um barco de migrantes que chegou à ilha de Lampedusa, na Itália, disse que era importante não desumanizar os migrantes.
“[Devemos] reconhecer essas pessoas como irmãos e irmãs, podemos repetir as palavras infinitamente para entender seu significado… reconhecê-los como irmãos e irmãs muda tudo”, disse.
O cardeal também observou que muitos europeus têm uma história familiar de imigração. “É uma vergonha, realmente uma vergonha, que após uma ou duas gerações, uma família possa esquecer suas próprias raízes de migração”, disse.
As pesquisas preveem um grande crescimento das forças nacionalistas, eurocéticas e de ultradireita. Alguns dos movimentos pertencentes a essas forças realizam campanhas de desinformação online, especialmente sobre a imigração.
Em sua mensagem, o papa argentino de 87 anos, que não deixou de defender a causa dos refugiados desde sua eleição em 2013, instou mais uma vez a ajudar e a acolher “aqueles que tiveram que abandonar sua terra em busca de condições de vida dignas”.
Redação / Folhapress