SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A aparição de Pablo Marçal (PRTB) no segundo pelotão de candidatos nas pesquisas eleitorais aumentou a pressão sobre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) para a escolha de um vice bolsonarista para sua chapa.
Próximo de valores ideológicos defendidos por eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o coach e empresário marcou 9% em um dos cenários testados pelo Datafolha e 7% no outro.
A chegada de Marçal na disputa mudou o quadro em que Nunes caminhava para ter maior liberdade para a escolha do vice. Até o momento, o prefeito tinha como principais adversários Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) e, por isso, aparecia naturalmente como herdeiro dos votos da direita.
Diante desse cenário, no início do ano, o PL de Valdemar Costa Neto e de Bolsonaro e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sacramentaram o apoio a Nunes com a expectativa de indicar ou, ao menos, avalizar a vice.
Agora, com a sombra do coach, que ameaça crescer entre os eleitores bolsonaristas, ganha tração a corrente que defende que Nunes faça um gesto que justifique o apoio de Bolsonaro. O ex-presidente indicou o ex-comandante da Rota coronel Mello Araújo para a vaga de vice.
Bolsonarista raiz, Mello Araújo também chefiou a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo).
Aliados próximos de Bolsonaro dizem que o ex-presidente faz questão de que a indicação seja seguida.
Segundo eles, Nunes precisa cumprir o acordo que o levou a ter o apoio do ex-presidente –ceder a vice para o bolsonarismo em troca de que esse campo não lance um candidato que possa roubar votos do prefeito entre a direita.
O problema é que o nome de Mello Araújo não agrada os demais partidos da aliança, principalmente o MDB. O coronel é considerado bolsonarista demais, sem experiência política e representante de um tema que Nunes pode querer evitar na campanha, a segurança pública.
Mesmo com Marçal no páreo, o entorno do prefeito avalia que, para vencer Boulos, ele deve seguir uma postura moderada na corrida eleitoral, evitando uma associação umbilical com o bolsonarismo. Na capital, o presidente Lula (PT) obteve 53% dos votos no segundo turno de 2022.
Na direita, há um grupo minoritário que acredita que Marçal deve crescer ainda mais por ter forte presença nas redes. Outros avaliam que sua entrada na disputa é “fogo de palha”, mas que pode funcionar como um pretexto para tornar mais caro o apoio do bolsonarismo a Nunes.
Bolsonaristas reclamam com frequência de políticos que usam Bolsonaro para conseguir votos, mas que depois não seguem a cartilha do ex-presidente. Por isso, a ideia seria garantir alguém fiel a ela em caso de vitória da chapa.
Correligionários de Nunes, que já esperavam maior pressão conforme se aproxima o período final de escolha dos vices, admitem que o fator Marçal pode ter antecipado esse movimento.
Embora publicamente o assunto seja tratado como distante, a escolha de um vice, que deve ocorrer só em julho, segundo os partidos da coligação, hoje se resume ao imbróglio de conseguir driblar ou não a indicação de Bolsonaro.
Se parte dos bolsonaristas diz que o ex-presidente não arreda o pé de sua escolha, outros políticos do círculo dele e de Nunes dizem acreditar que Bolsonaro está mais maleável e pode aceitar outro nome.
De acordo com eles, para Bolsonaro o importante é derrotar Boulos mesmo que isso signifique ter um perfil de vice diferente.
Entre emedebistas, apesar da pressão de deputados bolsonaristas por um vice à direita, a leitura é a de que Nunes precisaria de um vice mais moderado para alcançar um público maior –ainda seguindo a avaliação de que o eleitor bolsonarista será fiel ao prefeito de qualquer forma, já que ele é a melhor opção para vencer Boulos.
Durante a janela partidária, o MDB já garantiu uma carta na manga ao filiar o hoje secretário de Relações Internacionais da prefeitura, Aldo Rebelo. Ele é tido como um vice ideal por boa parte dos aliados do prefeito, por ser visto como alguém de bom trânsito, que poderia agradar a esquerda e a direita.
Além disso, tem boa relação com Bolsonaro, o que poderia levar o ex-presidente a deixar de lado a imposição de Mello Araújo.
A dificuldade, porém, é convencer os mais de dez partidos que apoiam Nunes a aceitarem uma chapa pura, já que PL, União Brasil e PP também apresentaram nomes para a vice.
Há ainda o entendimento de que a melhor forma de completar a chapa com Nunes é com uma mulher, contexto em que surgem como opções as vereadoras Sonaira Fernandes (PL) e Rute Costa (PL).
Na bancada do PL na Câmara, começa a haver pressão pela escolha de Nunes, dado que isso pode afetar a montagem da chapa dos vereadores.
Embora seja próxima de Bolsonaro e de Tarcísio, de quem foi secretária, a evangélica Sonaira tem um porém aos olhos do prefeito: foi contra a reforma da Previdência proposta por Nunes na Câmara.
O nome de Rute Costa, que também é evangélica, é defendido por uma ala do chamado “PL raiz”, anterior à chegada de Bolsonaro à sigla. Essa parcela do partido de Valdemar Costa Neto também cita a delegada Raquel Gallinati como opção, embora cada vez com menos frequência.
Rute Costa teria a vantagem de não desagradar muito a ninguém.
O mesmo não acontece no caso do presidente da Câmara de São Paulo, Milton Leite (União Brasil), que lançou a si mesmo na disputa pelo vice apesar dos obstáculos à sua escolha.
Uma delas é o fato de que o PL, maior partido da coligação, teria a preferência pela vaga de vice. Milton Leite ainda acabou aparecendo na investigação sobre a possível infiltração do PCC no transporte público da capital.
Promotores do Gaeco (grupo de combate ao crime organizado) do Ministério Público de São Paulo afirmam que o presidente da Câmara teve “papel juridicamente relevante na execução dos crimes sob apuração” envolvendo a Transwolff. O vereador diz que foi arrolado como testemunha no caso.
O prefeito chegou a falar em favor de Leite, ao afirmar ter ouvido dele que colocou contas bancárias à disposição da Justiça, acrescentando que quem faz isso “está tranquilo com relação à investigação”.
Se nos bastidores o nome de Leite era visto como distante da vice, agora o discurso é que nunca esteve de fato no páreo.
Outro concorrente a vice é o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos), que, no esforço para ocupar a vaga, tem acompanhado Nunes aqui e ali -de um jogo do Palmeiras à visita ao papa no Vaticano.
Na viagem à Itália, o bolsonarista Abduch pediu que Nunes o acompanhasse em um encontro com o vice-premiê e ministro da Infraestrutura da Itália, Matteo Salvini, líder da ultradireita europeia.
Abduch, porém, contrariou os interesses de Tarcísio ao não aceitar deixar a Assembleia Legislativa para ser secretário e, sem o apoio do governador, dificilmente será escolhido vice.
ANA LUIZA ALBUQUERQUE, ARTUR RODRIGUES E CAROLINA LINHARES / Folhapress