ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou nesta terça (4) que o resultado do PIB do primeiro trimestre, que subiu 0,8% em relação ao trimestre anterior, é uma demonstração de que a economia brasileira pode crescer com baixa inflação, de maneira sustentável.
“No ano passado, crescemos com a inflação caindo e, neste ano, continuamos crescendo com a inflação caindo. Esse deve ser o objetivo da política econômica. Não estamos descuidando de uma coisa ou de outra. Estamos gerando emprego e de olho na inflação”, disse Haddad em Roma, ao ser questionado se o resultado positivo, depois de dois trimestres de resultados próximos de zero, poderia restringir margens para corte de juros.
“O crescimento do PIB vem em linha com as projeções da Fazenda. O Banco Central tem meta de inflação, não tem outra. Se não, não poderíamos sonhar com a possibilidade de crescer com baixa inflação”, afirmou.
Segundo ele, a projeção de crescimento para o ano continua em 2,5%, acima dos 2,2% previstos inicialmente. Mas fez a ressalva de que o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul ainda é uma incerteza.
“A avaliação está em curso, com o fechamento do mês de maio, e vamos divulgar ao longo do mês, para tentar isolar o problema e saber como vai impactar a economia nacional. A economia gaúcha representa 7%”, disse.
O ministro está em Roma para participar, nesta quarta-feira (5), de conferência sobre a crise de débito dos países do Sul Global, promovida pelo Vaticano e pelo think tank Initiative for Policy Dialogue (IPD), ligado à Universidade de Columbia (EUA).
Nesta terçã, Haddad teve reunião bilateral com o ministro espanhol Carlos Cuerpo (Economia), também convidado do seminário. Em seguida, os dois concederam entrevista a jornalistas na embaixada do Brasil, na praça Navona, onde Haddad está hospedado.
Um dos temas do encontro entre os dois foi a proposta da criação de um imposto mínimo global a ser aplicado sobre grandes fortunas. Encabeçada por Haddad, no âmbito da presidência brasileira do G20, a ideia recebeu o apoio da França e da Espanha, mas encontra ceticismo dos Estados Unidos.
Haddad defendeu que a ideia de cobrar 2% sobre o patrimônio de cerca de 3.000 bilionários busca dar uma resposta aos desafios globais, como o endividamento de países em desenvolvimento, a fome e a crise climática. É o terceiro pilar de uma iniciativa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que inclui o imposto mínimo de 15% sobre o lucro de multinacionais e a tributação da economia digital.
“O mundo está indo bem em relação aos dois primeiros pilares. Temos uma convergência muito grande em torno daquilo que parecia impossível há dez anos. São cerca de 150 países que aderiram aos princípios da OCDE”, disse Haddad.
Nesta quarta, ele ainda encontrará o ministro da Economia e Finanças da Itália, Giancarlo Giorgetti. A Itália, que ocupa a presidência rotativa do G7, cuja reunião de cúpula acontece na semana que vem, ainda não se manifestou sobre a proposta, segundo o ministro.
“Esse processo vai decantando aos poucos. Não é simples, é uma novidade no mundo sem precedentes. É um processo lento”, disse.
Uma expectativa otimista, segundo Haddad, é concluir a presidência brasileira do G20, em novembro, com um comunicado endossado pelo grupo. “Penso que seria extraordinário um comunicado dizendo que é um tema que compensa discutir, porque o mundo vai precisar tomar medidas nessa direção. Acho que é um tema que não vai sair da mesa.”
Na quinta-feira (6), antes de voltar para o Brasil, Haddad deve ser recebido pelo papa Francisco.
MICHELE OLIVEIRA / Folhapress