Usada por millennials e em festas, droga do caso Djidja pode tirar usuário da realidade

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A morte da empresária Djidja Cardoso, que atuou de 2016 a 2020 como a personagem sinhazinha do Boi Garantido no Festival Folclórico de Parintins, chamou a atenção para o uso irregular da cetamina.

A droga, também chamada de ketamina e special key, é conhecida por ser consumida em festas, principalmente por millennials (na faixa de 25 a 40 anos). A Polícia Civil do Amazonas suspeita que a morte de Djidja esteja ligada exatamente ao uso abusivo da substância.

O uso terapêutico da droga, que é regulamentado, ajuda no combate à depressão crônica. O problema, dizem os especialistas, é o uso recreativo da cetamina, feito sem supervisão e que pode gerar riscos para a saúde do usuário.

“Veneno ou remédio? A diferença é a dose e a maneira que se usa”, resume o psiquiatra Vinicius Benício, professor da Universidade Municipal de São Caetano. “[O uso recreativo] pode piorar bastante episódio depressivo”, explica ele. “Por outro lado, é usada para tratamento de refratários de depressão grave com ideação suicida, mas em ambiente hospitalar com uso endovenoso, subcutâneo ou spray nasal”.

De acordo com o psiquiatra Dartiu Silveira, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a droga causou uma verdadeira revolução no tratamento de depressão crônica.

Apesar de apresentar um risco menor do que drogas como cocaína e opioides, o uso sem controle da cetamina cria uma série de problemas, diz ele: pode deixar o usuário em estado de vulnerabilidade, ou causar uma dissociação profunda.

No caso do uso e manutenção diária da substância, a pessoa pode acabar vivendo uma espécie de realidade paralela fantasiosa. “Foi isso que aconteceu com a Djidja e a família. Eles estavam na brisa o tempo inteiro de cetamina”, diz Uno Vulpo, médico especialista em redução de danos.

Segundo ele, a substância é utilizada principalmente por millenials e rejeitada pela geração Z, que não costuma procurar substâncias inaláveis.

Benício afirma que a substância entra na categoria das “club drugs”, mais comuns em casas noturnas, assim como também HGB, MD, LSD e lança perfume.

“A cetamina é mais associada ao público LGBT, principalmente homens gays e mulheres trans”, diz. Ele aponta ainda que a população trans marginalizada ou em situação de rua também tem feito o uso, apesar do custo proibitivo.

Em grupos de WhatsApp, traficantes oferecem a substância por caixas com 30 unidades por R$ 6.900, R$ 230 por frasco. Também é comum encontrar sua venda em aplicativos como Grindr.

O psiquiatra aponta que a droga também cria um distanciamento afetivo e, por vezes, dissociativo. Por isso, acaba sendo muito usada por quem está passando por algum tipo de sofrimento, além de profissionais de sexo.

Levantamento realizado pela Polícia Federal aponta que a apreensão da substância cresceu no pós-pandemia. Em 2021, por exemplo, foram realizadas 4 apreensões, com um total de 351,47 g de cetamina. Em 2023 foram 22 apreensões, com mais de 4 kg da substância.

A maior parte desses casos aconteceu em São Paulo –das 37 apreensões da droga de 2021 a 2024 (até março apenas), 23 foram na capital paulista.

“Na pandemia aumentaram muitos casos de depressão e de ansiedade e quando aumenta casos de depressão e ansiedade, aumenta o uso de substâncias, tanto o álcool quanto ilícitas, como ketamina”, afirma Silveira.

Apesar disso, o delegado Carlos Castiglioni, do Denarc Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes de São Paulo) considera que o uso da substância não virou uma “praga”.

Procurado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma que o Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos) acompanha com atenção o uso de cetamina e ressalta os riscos do uso não terapêutico da substância.

A pasta avalia a elaboração de um boletim específico sobre o uso não terapêutico de cetamina.

A droga usada para fins recreativos costuma ser ligeiramente diferente daquela usada nos tratamentos contra depressão, apontam os especialistas. Isso porque a substância consumida em festas em geral é a versão da cetamina utilizada como sedativo de cavalo –ou seja, não é o mesmo medicamento usado nas clínicas para tratamento de humanos.

Porém, é preciso cuidado no caso do uso recreativo e irregular. “É uma cetamina um pouco modificada, porque é a veterinária. Embora a molécula seja muito parecida, tem características um pouco diferentes nos efeitos”, afirma Silveira, da Unifesp.

ISABELLA MENON / Folhapress

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