SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A água perdida no Brasil durante a distribuição em 2022 daria conta de abastecer o Rio Grande do Sul por cinco anos. O dado foi divulgado pelo Instituto Trata Brasil em pesquisa com informações do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento).
Cerca de 7 bilhões de metros cúbicos de água foram perdidos no país em 2022. Isso equivale a sete vezes a quantidade de água do Sistema Cantareira, que abastece o conjunto de reservatórios do estado de São Paulo. No ano, o total de água tratada foi de cerca de 18,6 bilhões de metros cúbicos.
A pesquisa foi divulgada nesta quarta-feira (5) pelo Instituo Trata Brasil. O levantamento, intitulado “Estudo de Perdas de Água 2024 (SNIS, 2022): Desafios na Eficiência do Saneamento Básico no Brasil”, traz informações sobre a situação do saneamento básico no país em 2022, com base em dados do Sistema Nacional.
O volume de água perdido na distribuição em 2022 abasteceria o Rio Grande do Sul por cinco anos. O estado sofreu com falta de água potável durante a tragédia climática que atingiu os gaúchos durante o mês de maio.
No auge da tragédia climática, 906 mil gaúchos ficaram sem água potável por prejuízo com a enchente. O dado foi divulgado pela Corsan, concessionária que administra a distribuição hídrica no estado. O Rio Grande do Sul tem cerca de 10,9 milhões de habitantes.
Leila Figueira, aposentada moradora de Guaíba (RS), ficou uma semana sem acesso a água potável. Apesar de não ter sua casa atingida pela enchente, ela trata um câncer de mama e teve que racionar água para sobreviver.
“Pela minha condição foi ainda mais desafiador. Eu e minha família tivemos que correr para um mercado que não foi afetado para comprar um galão de 20 litros e garrafas pequenas para durar a semana toda. Muitos fornecedores já não tinham. Foi uma corrida, mas acabou dando certo. Tivemos que racionar”, disse Leila Figueira, aposentada.
BRASIL MELHOROU ÍNDICE, MAS AINDA PERDE MUITA ÁGUA
Brasil conseguiu reduzir o volume de água perdido em distribuição, mas ainda mantém níveis altos de desperdício. De acordo com diretrizes do SNIS, o ideal seria reduzir a perda para 25%. No entanto, o Brasil perdeu 37,78% de todo volume de água potável antes de chegar às residências em 2022.
Perdas são ocasionadas por vazamentos, erros de medição ou consumos irregulares. De acordo com a Portaria 490/2021, do Ministério do Desenvolvimento Regional, o nível aceitável de perda de água deve ficar em, no máximo, 25% -este nível é alcançado em países desenvolvidos.
De acordo com dados do SNIS, em 2022, 32 milhões de brasileiros não tinham acesso ao abastecimento de água regular. Com o volume que se perde no ano, seria possível abastecer aproximadamente 54 milhões de brasileiros.
É possível ter zero de perda de água? De acordo com especialistas do Trata Brasil, não. Isto pelo fato de haver limites técnicos, como falta de tecnologia e problemas rotineiros de ferramentas, logística e materiais. O que é possível é otimizar o processo para perder o menor volume possível.
“São mais de 7,6 mil piscinas de água desperdiçadas todos os dias. Além de afetar o abastecimento dos habitantes, esse desperdício resulta em impactos ambientais, uma vez que os efeitos das mudanças climáticas, como vemos na tragédia vivida no Rio Grande do Sul, estão cada vez mais presentes no país, afetando diretamente a disponibilidade hídrica para a população. Esforços em redução de perdas de água são necessários para mitigar os impactos climáticos, promover maior segurança hídrica e fortalecer a infraestrutura das cidades”, disse Luana Pretto, especialista em Saneamento Básico e presidente-executiva do Instituto Trata Brasil.
RIO GRANDE DO SUL DESPERDIÇOU 39,5% DE SUA ÁGUA EM 2022
Rio Grande do Sul, em 2022, perdeu 39,5% de água tratada. O número é maior que o volume médio nacional. De acordo com a Corsan, que foi privatizada em 2023 e atua no saneamento básico de 317 das 495 cidades gaúchas, investimentos em infraestrutura estão sendo feitos para reduzir o desperdício.
A empresa citou a “contratação de um satélite para identificar vazamentos”, “medidas ágeis de reparo” e “célere combate às fraudes” como métodos para melhorar a eficiência no estado.
Estados do Norte lideram ranking de desperdício de água na distribuição. O Amapá tem perda de 71,14% de suas águas, seguido pelo Acre, com 66,6% e Rondônia, com 59,8%.
Menores índices de desperdício são em Goiás (28,3%), Rio de Janeiro (32%) e Mato Grosso (33,2%). Apesar de estarem abaixo do índice de perda nacional, ambos os estados ainda estão acima do ideal estipulado pelo SNIS.
“Com perdas de água na casa dos 40% no Brasil, onde muitas regiões ultrapassam esse valor, fruto de vazamentos e de gestão ineficaz, é crucial investir em infraestrutura, tecnologia e políticas públicas eficazes. A combinação de infraestrutura inadequada com frequência cada vez maior de eventos climáticos extremos permite que situações como a do Rio Grande do Sul se repitam, resultando em prejuízos incalculáveis. Há uma lição a ser aprendida desta situação: a importância de ações concretas e imediatas, visando garantir a segurança hídrica e o atendimento às metas (…) de modo a prevenir futuras tragédias”, disse Gesner Oliveira, docente EAESP-FGV e sócio da consultoria GO.
UESLEY DURÃES / Folhapress