RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou à Polícia Federal em sua delação premiada que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, não sabia do planejamento para a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).
A declaração contraria investigação da própria PF que levou Suel à prisão em julho do ano passado. Ele foi acusado de atuar no planejamento do homicídio com base na delação do ex-PM Élcio Queiroz, que dirigia o carro para Lessa realizar os disparos contra a vereadora e o motorista Anderson Gomes.
O ex-PM confirmou que o ex-bombeiro foi o responsável por disponibilizar o carro clonado utilizado na emboscada. Disse, porém, que a entrega foi feita para a preparação de um outro homicídio no qual Suel estaria envolvido, crime que acabou não se concretizando.
Lessa também isentou Suel de participação no descarte de peças de armas que mantinha escondidas num apartamento. O ex-bombeiro, nesse caso, já foi condenado com pena de 6 anos e 9 meses de prisão transitada em julgado quando não há mais possibilidade de recursos.
A advogada Fabíola Garcia, que defende Suel, afirmou em nota que “sempre acreditou e confiou na palavra de seu cliente, de que não teve qualquer envolvimento no homicídio de Marielle Franco e Anderson Gomes”.
“Após a delação premiada de Ronnie Lessa, mesmo a defesa tendo acesso somente ao relatório final da Policia Federal e não à integra da delação está aguardando autorização do ministro Alexandre de Moraes, restou de forma indubitável que Maxwell Simões Correa não teve qualquer participação com o crime de homicídio propriamente dito.”
Ronnie Lessa firmou um acordo de colaboração premiada com a PF no qual reconheceu ter sido o responsável pelos disparos contra a vereadora e seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Ele apontou o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão e o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) como os mandantes do crime. Eles negam.
Como a Folha revelou, Lessa também usou a colaboração para isentar o ex-vereador Cristiano Girão pela responsabilidade de um homicídio e negar ter atuado como segurança do bicheiro Rogério Andrade.
As investigações apontam que Suel foi o responsável por manter o envio de dinheiro para a família de Lessa e Élcio após suas prisões, em março de 2019.
Em sua delação, Lessa confirma que Suel foi o responsável por disponibilizar o veículo usado para a emboscada, mas diz que ele não sabia que Marielle seria um alvo. O ex-PM também o aponta como envolvido na destruição do carro após o crime.
A prisão de Suel foi anunciada pelo então ministro da Justiça, Flávio Dino, atualmente no STF. “O senhor Maxwell compareceu nas investigações, na preparação, inclusive na ocorrência de campana, de vigilância de acompanhamento da rotina da vereadora Marielle, e posteriormente no acobertamento dos autores do crime”.
Lessa, porém, nega que Suel soubesse que a vereadora era um alvo.
“Em momento algum ele soube da morte da Marielle. Ele só soube da morte da Marielle após o crime, horas depois. Horas não, talvez menos de uma hora depois”, disse ele à PF.
Ele afirma que Suel providenciou o carro com placa clonada para a execução de outro crime: a morte da então presidente da escola de samba Salgueiro Regina Céli. A emboscada acabou não sendo concretizada.
O delator afirma que o ex-PM Edmilson de Oliveira, conhecido como Macalé, era o único que estava envolvido nas duas “missões”. O carro era usado no planejamento dos dois crimes.
Segundo Lessa, Regina Céli seria o alvo da emboscada que Élcio Queiroz acreditava ter sido a primeira tentativa de matar Marielle, em 2017. O ex-PM não deu detalhes sobre o episódio em sua delação.
Apesar de envolvido na trama criminosa, a mudança de alvo pode alterar a situação jurídica de Suel. O ex-bombeiro responde pelo crime de Marielle na 4ª Vara Criminal e pode ser levado a júri popular no caso.
Se a Justiça entender que ele não teve participação direta no homicídio, ele pode responder apenas pela ocultação de provas. É o que ocorre com Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, que auxiliou na destruição do Cobalt, segundo Élcio.
No caso dos preparativos para a morte de Regina Céli, não há ação penal em curso sobre o caso. Para que haja denúncia, é preciso provas de que eles de fato tentaram executar o crime.
Lessa também afirmou que Suel não participou do recolhimento de peças de armas no apartamento na Pechincha (zona oeste) um dia após ser preso, em março de 2019. De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, seis pessoas participaram da retirada do material e jogado no mar.
Quando questionado sobre a participação de Suel no episódio, Lessa respondeu: “Olha, sinceramente que eu saiba nenhuma. Também soube recentemente que nenhuma.”
“É até uma coisa interessante que a gente está falando que, para mim, com essas informações que eu tive até bem recente, podem até novamente mexer sobre isso, trabalhar sobre isso. Porque eu tenho a dinâmica de que o Márcio [Mantovano, condenado no caso] e não o Suel colaborou”, disse ele.
“O Suel acabou pagando por isso, foi condenado nisso, e pelo que eu soube bem recentemente o Suel nunca nem soube disso.”
Lessa confirmou que explorava junto com Suel uma rede clandestina de fibra ótica em área de milícia desde 2015 até 2019, três meses após ser preso.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress