ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Depois de reações positivas colhidas de França, Espanha e Alemanha, entre as maiores economias da União Europeia, a proposta de criação de um imposto global sobre grandes fortunas, defendida por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, foi recebida com menos entusiasmo na Itália.
Em Roma, onde participou nesta quarta (5) de uma conferência no Vaticano, Haddad apresentou ao ministro de Economia e Finanças italiano, Giancarlo Giorgetti, sua ideia de cobrar 2% sobre o patrimônio de cerca de 3.000 bilionários pelo mundo.
Os recursos seriam destinados para ações de combate à fome e às mudanças climáticas.
Após ouvir o pedido de apoio de Haddad à proposta, apresentada em fevereiro no âmbito da presidência rotativa do G20, o italiano afirmou que gostaria de entender melhor a ideia e ponderou que na União Europeia é difícil obter consenso entre os 27 países membros, o que faz com que decisões do tipo se arrastem.
A Itália, que ocupa a presidência do G7, cuja reunião de cúpula acontece na semana que vem, seria uma aliada importante para impulsionar a proposta entre os países mais ricos do mundo. Os Estados Unidos já manifestaram ceticismo em relação à iniciativa.
Nas redes sociais, o petista, ao comentar o encontro, disse que a proposta de taxar os super-ricos “implica numa cooperação global para além das relações bilaterais entre blocos e países”.
Ocorrida na sede do ministério italiano, a reunião durou cerca de 30 minutos. Haddad deixou o local de carro pouco depois das 13h (horário local), sem dar declarações.
Em comunicado, Giorgetti classificou a conversa como “cordial e construtiva”, a qual, além da taxação de grandes fortunas, tratou de investimentos e projetos de bancos multilaterais para países pobres e da situação geopolítica. O italiano confirmou sua presença na reunião do G20 que acontece em julho, no Rio de Janeiro.
Giorgetti é filiado à Lega, partido de ultradireita liderado pelo vice-premiê Matteo Salvini, que tem slogans como “menos impostos” e planos de “paz fiscal”, com anistia a devedores, entre as bandeiras políticas.
Um dia antes, em conversa com jornalistas, Haddad disse esperar que o processo de adesão à proposta vá ser lento, mas que considera que a ideia “veio para ficar”.
“Esse processo vai decantando aos poucos. Não é simples, é uma novidade no mundo sem precedentes”, afirma o ministro.
O tema do imposto mundial sobre fortunas também foi levado pelo brasileiro à conferência sobre a crise da dívida no Sul Global, promovida pelo Vaticano e pelo think tank IPD (Initiative for Policy Dialogue), ligado à Universidade de Columbia, nos EUA.
Em sua intervenção de cerca de dez minutos, Haddad defendeu que a iniciativa é um caminho de cooperação internacional para enfrentar a desigualdade. Com cerca de 50 participantes de vários países, o evento foi liderado pelo economista prêmio Nobel Joseph Stiglitz e pelo ex-ministro argentino Martín Guzmán.
No último compromisso antes de voltar ao Brasil, Haddad será recebido na manhã desta quinta-feira (6) pelo papa Francisco, em audiência privada. Na tradicional troca de presentes, o brasileiro levará uma cuia com bomba para chimarrão, como referência às enchentes do Rio Grande do Sul, às quais o papa prestou solidariedade com a doação de 100 mil euros (R$ 576,5 mil).
MICHELE OLIVEIRA / Folhapress