SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Justiça do Amazonas concedeu prisão domiciliar a uma das funcionárias do salão da ex-sinhazinha Djidja Cardoso.
Claudiele Santos da Silva ganhou direito a ir para casa por ser mãe de uma criança com menos de 12 anos. A decisão foi emitida pela Justiça na noite dessa quarta-feira (5).
Ela será monitorada por tornozeleira eletrônica. Além disso, a mulher foi proibida de entrar em contato com qualquer testemunha, suspeito ou familiar de envolvidos no crime pelo qual ela é investigada.
Expectativa da defesa é de que ela vá para casa na tarde desta quinta-feira (6). Ao UOL, o advogado de Claudiele afirmou que ela deve sair do Centro de Detenção Provisória Feminino (CDPF) às 13 h (14 h, no horário de Brasília).
Funcionária é suspeita de induzir pessoas a se associar ao grupo religioso ‘Pai, Mãe, Vida’. Além dela, outros dois funcionários, identificados como Verônica da Costa Seixas e Marlisson Vasconcelos Dantas, foram presos pelo mesmo motivo. A mãe da vítima, Cleusimar Cardoso, e o irmão dela, Ademar Cardoso, continuam presos por suspeita de comandar a seita.
Djidja foi encontrada morta dentro de casa em Manaus no dia 28 de maio. A suspeita é de que ela tenha sofrido uma overdose.
Família Cardoso já era investigada por liderar um grupo religioso. Seita forçava seguidores a usar cetamina para “transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação”, diz a polícia.
Grupo fazia “rituais com o uso indiscriminado de cetamina”, diz polícia. Droga tem efeitos alucinógenos. As investigações apontam que algumas vítimas passaram por violência sexual e aborto.
Investigações começaram com pai de vítima na delegacia. “O pai da companheira de Ademar resgatou a filha dopada e a levou à delegacia, relatando os fatos há cerca de 40 dias”, diz o delegado. Segundo a polícia, “seita” funcionava há pelo menos dois anos no bairro Cidade Nova, em Manaus.
Cleusimar e Ademar teriam se apresentado na delegacia como Maria e Jesus, diz advogado. “A mãe de Djidja se identificou como Maria, mãe de Jesus, e disse que o filho era Jesus, eles não tinham noção. Isso aconteceu logo depois da prisão, entrei na sala e eles falaram isso”, afirma Vilson Gomes Benayon Filho. “Eles também convidaram o delegado para experimentar, tomar conhecimento da espiritualidade”, afirmou.
Defesa negou a existência da seita. “Não existe esse negócio de ritual e de que funcionários e amigos eram obrigados ou coagidos a usar a droga. Não existia isso. Eles ofereciam sob efeito de drogas, com aquele argumento, com aquela alegação da transcendência da evolução espiritual”, argumentou a advogada Lidiane Roque.
“Não existe seita, não existe ritual macabro. Todas as declarações deles, os vídeos que circulam na internet, todas as provas que estão no inquérito são fruto de alucinações extremamente severas, de uma droga que está destruindo famílias”, disse Nauzila Campos.
As advogadas também cobraram a prisão do dono da clínica veterinária que fornecia a droga à família. “Os fornecedores de droga são os verdadeiros traficantes. E a gente questiona, cadê o dono dessa clínica veterinária que não foi preso até agora? A pessoa viciada, o dependente químico faz de tudo para alcançar a droga, e o dependente químico não é traficante. O traficante é um comerciante que precisa lucrar e faz de tudo e se aproveita da vulnerabilidade dos dependentes”, questionou Nauzila.
A defesa considera que a operação da Polícia Civil salvou a vida dos envolvidos. “A prisão salvou a família, salvou a vida deles. Se essa operação tivesse sido deflagrada algumas semanas atrás, a Djidja estaria viva. Ela estaria presa, mas estaria viva”, destacou Lidiane.
COMO ERA O LOCAL DOS RITUAIS
Cheiro ruim no espaço dos rituais. “A casa tinha cheiro de carne em estágio de putrefação”, disse o delegado. Segundo ele, os suspeitos tinham lesões na pele “tipo necrose por conta das aplicações”. A polícia esteve no local no dia em que Djidja Cardoso morreu e na ocasião das prisões preventivas.
Foram encontradas seringas, doses de cetamina, frascos vazios, medicamentos, computadores e documentos. Vítimas eram mantidas “despidas e sem se banhar durante todo período”, aponta investigação.
Duas vítimas identificadas até o momento. Cárcere privado e estupro de vulnerável estão entre os crimes apontados. A polícia identificou ao menos duas vítimas que teriam sido mantidas sob cárcere privado e sido estupradas sucessivas vezes por membros do grupo durante dias.
Redação / Folhapress