Abandonado há 10 anos, Olímpico salva vidas enquanto outros estádios alagam

PORTO ALEGRE, RS (UOL/FOLHAPRESS) – O estádio Olímpico, antiga casa do Grêmio, está abandonado há dez anos. Seu último jogo foi em 2013, a estrutura ainda foi utilizada para treinamentos até 2014 e depois acabou relegada ao tempo. Mas durante a tragédia climática pela qual o Rio Grande do Sul passou, o ‘Velho Casarão’ retomou protagonismo. Virou polo de solidariedade e ajudou a salvar vidas. Enquanto isso, Beira-Rio e Arena estavam debaixo d’água.

A área do Olímpico está presa em um dilema jurídico envolvendo o Grêmio e a empresa que construiu a Arena. O complexo ainda está sob posse do clube, que mantém atividades apenas em parte da área.

Em outubro de 2022, o UOL mostrou a situação do estádio em uma reportagem especial. Na ocasião, a prefeitura de Porto Alegre tentava alinhar a demolição do estádio até 2023, algo que acabou não acontecendo pelo imbróglio legal no qual a área está envolvida.

Menos de dois anos depois, o estádio gremista, parcialmente demolido, ajudou a salvar vidas durante a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul.

POLO DE SOLIDARIEDADE

Em maio, com o avançar das chuvas e dos alagamentos, o Grêmio, por meio de seu departamento de responsabilidade social, com apoio do IGT (Instituto Geração Tricolor), foi orientado pelo presidente Alberto Guerra a abrir o Olímpico para receber doações.

Mesmo com outros pontos de arrecadação —como a Arena, até o alagamento, escolinhas e hotel—, o estádio histórico virou o local predileto dos torcedores. Bastou começar a receber donativos que o Olímpico se tornou polo da solidariedade gremista.

“Ninguém tinha noção da proporção que isso tomaria. A torcida procurou em peso o Olímpico. O que seria só um ponto de coleta virou um grande Centro de Distribuição (CD). Inicialmente, tínhamos voluntários, mas precisamos de auxílio de funcionários tamanha demanda”, disse Luiz Jacomini, diretor do departamento de responsabilidade social do Grêmio.

Mais de um mês depois do início da tragédia climática, o estádio gremista segue recebendo doações e com volume muito grande de entregas. Entre os serviços já prestados estão desde a entrega de alimentos (quentinhas) até colchões, ração animal, roupas, água, produtos de limpeza e higiene.

Além de receber e encaminhar doações, o estádio também serviu como heliponto para helicópteros que trabalharam em resgates e atendimentos a atingidos pela enchente. As aeronaves utilizaram o local onde antigamente ficava o gramado suplementar, usado para treinamentos do Tricolor.

Como o estádio está em escombros, as doações foram separadas na estrutura física da antiga capela e da loja Grêmio Mania, ambas logo na entrada do complexo. Dali partiam para entregas após separação.

NÚMEROS DO OLÍMPICO

* locais atendidos: 1.082

* água (em litros): 192.726

* refeições prontas: 54.925

* caixas de leite (uma caixa equivale a um litro): 2.092

* ração pet (em quilos): 11.208

* produtos de higiene e limpeza (em quilos): 10.788

* colchões/cobertores/travesseiros (em unidades): 4.676

* alimentos (em quilos): 15.099

* roupas/calçados (em quilos): 16.195

* manta térmica (em metros): 11.100

“Fizemos um mapeamento dos abrigos e entregamos direto para eles, seja marmita, itens, o que for necessário. Agora, as pessoas estão voltando para casa e iniciando um mapeamento de entregas. Enviamos produtos através de funcionários para cidades de Eldorado e Canoas, agora estamos focados no entorno da Arena, nos bairros Humaitá e Vila Farrapos”, afirma Luiz Jacomini, diretor do departamento de responsabilidade social do Grêmio.

POR QUE O OLÍMPICO NÃO ALAGOU?

A explicação para o Olímpico não ter alagado está em sua localização. Enquanto Beira-Rio e Arena ficam próximos ao leito do Guaíba, o antigo estádio do Grêmio está distante das zonas atingidas pela enchente.

QUASE VIROU CIDADE PROVISÓRIA

Quando mais de 10 mil pessoas estavam em abrigos durante as enchentes, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, chegou a considerar a utilização do Olímpico como uma local de médio a longo prazo para receber desabrigados. O plano seria a montagem de estruturas provisórias como moradia para diversas famílias.

No entanto, o assunto não avançou e acabou descartado pela prefeitura. O Olímpico tem muitos pontos repletos de escombros pela demolição parcial dos prédios. Além disso, a utilização pela prefeitura precisaria ser aprovada pelo Conselho Deliberativo do clube, algo que atrasaria o processo.

TRABALHO SOLIDÁRIO SEGUE

Com o recuo das águas, outras formas de trabalho solidário foram implementadas no Grêmio. A Arena, por exemplo, atualmente recebe um mutirão com atendimentos do exército, de serviços de saúde, da defensoria pública, da união e da secretaria de segurança pública. Um dos estacionamentos do estádio, também, está liberado para reunir entulho retirado das casas da região para facilitar o trabalho de retirada posterior pelo poder público.

O foco do departamento de responsabilidade social do clube está em auxiliar a comunidade do entorno do estádio. O Grêmio mantém o projeto Comunidade Tri, que mira atender famílias que moram nas redondezas e realiza diversas atividades, como uma cota de ingressos a cada jogo em casa para quem reside próximo da Arena e não tem condições de acompanhar as partidas, ações com escolas e visitações ao museu do clube

Enquanto tiver necessidade, vamos fazer, vamos ajudar. Entendemos que houve uma primeira onda de necessidade de abrigo, resgate, alimentos, mas agora vamos trabalhar em novas ações para atender todo mundo que precisa Luiz Jacomini

MARINHO SALDANHA / Folhapress

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