VENÂNCIO AIRES, RS (FOLHAPRESS) – O impacto da devastação causada pela enchente do rio Taquari no começo de maio aparece logo na entrada de vila Mariante, distrito do município gaúcho de Venâncio Aires, a 110 km de Porto Alegre.
Faltam pedaços do telhado ou das paredes em casas que não foram totalmente arrancadas pela fúria da água. Cães e gatos perambulam pelas ruas sem tutores por perto.
Enquanto isso, camadas de barro tomam conta do chão de salas de aula do endereço onde funcionava uma escola estadual de ensino médio. Galhos foram arrastados para dentro do local. As janelas do colégio estão sem os vidros, e a cerca de proteção do terreno caiu.
“Nada é comparável a esta enchente. Foi coisa de outro mundo”, resume Joel Fernando Garcia da Rosa, 30, sócio de um supermercado local.
Na manhã de domingo (9), a família do comerciante trabalhava na limpeza do estabelecimento, que perdeu em torno de 90% dos produtos com a cheia do Taquari. O plano era finalizar tudo em dois ou três dias, segundo Rosa.
“Aqui a água pegou uns 4 metros de altura”, disse, apontando para marcas da inundação na parede do supermercado.
Assim como ele, outras pessoas aproveitaram o domingo para limpar o que restou das casas ou dos comércios da vila Mariante. A tentativa de retomada ocorre em meio a incertezas sobre o futuro da comunidade.
Com a tragédia ambiental, a Prefeitura de Venâncio Aires já sinalizou a intenção de remover famílias da vila para áreas consideradas mais seguras.
No domingo, porém, moradores relataram à Folha que não pretendem deixar o local devido a dificuldades financeiras ou ao apego à comunidade. “Acho que o pessoal vai voltar aos poucos para cá”, afirma Rosa.
No dia 4 de junho, a administração municipal projetou que receberia, em até duas semanas, laudos técnicos de uma vistoria feita em 511 residências da região. Segundo a prefeitura, o trabalho deve orientar os moradores sobre a possibilidade de retorno seguro às suas casas ou de reconstrução das moradias.
Mariante fica a cerca de 28 km do centro de Venâncio Aires, conhecida como a capital nacional do chimarrão, bebida típica dos gaúchos. O acesso pode ser feito pela rodovia RSC-287.
Cerca de 1.500 pessoas viviam na vila, que tradicionalmente sofre com enchentes. As construções ficam próximas ao rio Taquari.
Ao caminhar pelo distrito de Venâncio Aires é possível observar as marcas da água nas paredes das construções ou do que restou delas.
Um dos moradores que já retornaram para Mariante é Augusto Schneider, 53, que foi resgatado de helicóptero na enchente. A família dele tem um açougue e uma ferragem na comunidade.
“Tem pessoas com história aqui, com uma vida toda aqui. Não é simples sair”, diz. Ele estima um prejuízo na faixa de R$ 500 mil com a cheia.
“Aqui no açougue, só de carne, tivemos que jogar uns 500 quilos fora”, lamenta. “Na questão da mercadoria, foi perda total.” O açougue já foi limpo e voltou a funcionar.
De acordo com o comerciante, a água chegou ao nível de 3,5 metros no estabelecimento em maio. A título de comparação, em uma enchente registrada em setembro do ano passado, o patamar havia sido de 0,5 metro, aponta Schneider.
LEONARDO VIECELI / Folhapress