Governador do Ceará cobra agilidade de Lula e diz que Ciro Gomes ajuda a direita

RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que o governo Lula (PT) precisa ter mais rapidez nas políticas públicas que impactam a população. O chefe do Executivo cearense disse que o presidente está no caminho correto, mas que o “povo tem pressa”.

Elmano também defendeu maior integração na política nacional de segurança pública e disse que um nome nordestino para a presidência do PT poderia oxigenar o partido. A atual presidente da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), deixa a função em 2025.

Elmano rebateu críticas do ex-ministro e Ciro Gomes (PDT), governador do Ceará de 1991 a 1994, à sua gestão e ao ministro da Educação de Lula, Camilo Santana (PT).

“A melhor resposta não é o que eu penso do que ele fala, é o que o povo cearense pensa do que ele fala”, diz o governador, ao citar a derrota de Ciro nas eleições de 2022, quando disputou a Presidência.

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Pergunta – Como o senhor vê os problemas de governabilidade do presidente Lula e as derrotas sofridas no Congresso?

Elmano de Freitas – As derrotas que o governo possa ter no Congresso fazem parte do processo democrático. A força política a que o presidente Lula pertence não tem maioria no Congresso, o que implica uma busca de diálogo e negociação permanente. Em boa parte delas, o governo conseguiu construir entendimento e consenso, e outras [vezes] não conseguiu, [algumas vezes] venceu, e [em] outras não conseguiu, perdeu. O que é importante é que, quando o Congresso não aprovou, ou quando aprovou, isso não gerou crise entre os Poderes.

P. – O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), chegou a defender recentemente mudanças no governo. O senhor também defende, por exemplo, uma reforma ministerial?

E. F. – [Sobre] montagem de equipe do presidente da República fala o presidente da República. Na relação com o Congresso, muitas vezes, certamente, a posição do presidente Lula, que ele gostaria de apresentar ao Congresso, era outra, mas ele tem que apresentar aquela porque é a que é possível, a que é viável na negociação. Foi assim na reforma tributária.

P. – O caminho para o governo é focar mais nas pautas econômicas do que nas pautas mais ideológicas?

E. F. – Eu não tenho nenhuma dúvida de que todo governo é avaliado pelo cidadão com a resposta a uma pergunta: a minha vida melhorou com esse governo ou não? E eu tenho uma opinião de que o presidente Lula caminha de maneira correta. Agora, efetivamente, precisa ter mais celeridade nas políticas públicas, porque o povo tem pressa.

P. – Tem uma corrente do PT que defende um nome nordestino para comandar o partido, inclusive Guimarães. O senhor corrobora essa tese?

E. F. – Acho que o companheiro Guimarães tem todas as condições de colocar o nome dele à disposição pelo grau de dedicação. Mas eu não estou muito envolvido no processo de decisão do partido. Acho que ainda é cedo, porque isso vai ser ano que vem. Mais importante do que o nome, temos que debater quais são as novas bandeiras que o PT tem que defender para o futuro.

Eu acho que seria muito bom. Na história do PT, nós só temos um companheiro que foi presidente do PT sendo [originário politicamente] do Nordeste. Não acho que é um critério fundamental, mas acho que é bom para o partido, oxigena.

P. – O ex-ministro Ciro Gomes tem feito duras críticas ao senhor e ao ministro da Educação, Camilo Santana. Ele disse recentemente que o senhor não tem a experiência necessária para governar o Ceará e acusou o seu governo de corrupção no ano passado. Diante isso, é inviável uma aliança com Ciro, como foi no passado?

E. F. – Na última eleição, Ciro teve 6% no Ceará, ficou em terceiro no estado e na sua cidade, Sobral.

A melhor resposta não é o que eu penso do que ele fala, é o que o povo cearense pensa do que ele fala. Em 2022, ganhamos a eleição no primeiro turno daqueles que achavam que eram donos do estado do Ceará.

As críticas que o Ciro Gomes fez são absolutamente mentirosas e irresponsáveis. Ele até hoje se esconde da interpelação judicial que fizemos. O oficial de Justiça não consegue encontrá-lo [para apresentar provas do que diz]. Tenho a impressão de que ele terá nas eleições municipais uma resposta ainda mais contundente nas urnas para as eleições de prefeitos e prefeitas.

Ciro cumpre esse papel, na verdade, de buscar ajudar a direita a deslegitimar o governo do presidente Lula e o nosso no Ceará.

P. – O PT trouxe Evandro Leitão para o partido —ele era do PDT— para ser candidato a prefeito de Fortaleza. Ele venceu as prévias do partido. Que garantias o partido tem de que ele irá defender profundamente as ideias do PT se eleito?

E. F. – Ele tem uma história na política cearense, no campo progressista, próximo do PT. Fui deputado estadual junto com o deputado Evandro Leitão, então líder do governo do Camilo. Ele defendeu todas as políticas públicas do governador do PT. Depois foi presidente da Assembleia, ajudando o nosso projeto a avançar. Então, apoiar Evandro é algo natural.

P. – Como está a sua relação com a ex-prefeita Luizianne Lins? O senhor chegou a conversar com ela recentemente, depois dessa derrota dela nas prévias do partido?

E. F. – Não, nós não conversamos ainda, nós temos uma convivência militante de mais de 30 anos. Estamos deixando a poeira baixar um pouco. Tenho por ela muito respeito, carinho e admiração.

P. – O senhor acredita que o apoio do governo federal na área da segurança pública está atendendo aos anseios dos governos estaduais?

E. F. – O governo tomou uma medida muito importante, que foi destravar o recurso do Fundo Nacional de Segurança Pública e do Fundo Penitenciário. Mas nós carecemos de uma maior integração. Penso que precisamos aperfeiçoar o sistema unificado de segurança pública, mas integrar muito, aumentar o investimento de segurança pública no país.

O investimento, o orçamento da Polícia Federal é aquém do que ela precisa para poder integrar com as nossas forças. Também, precisamos de mais [atuação] das Forças Armadas a respeito das nossas fronteiras para diminuir a entrada de drogas, controle de tráfico de armas. Acho a política pública mais desafiadora atualmente, a de segurança.

P. – O senhor fez uma troca no comando da Secretaria de Segurança, que tem um novo titular a partir desta semana. Que erros levaram o senhor a essa troca?

E. F. – Devemos fazer o processo para definição de uma nova inteligência para o estado. Mas o mais importante é que nós precisávamos garantir mais presença de polícia na rua para a população ter um sentimento de segurança. Aqui, em 2023, até setembro, outubro, os índices de homicídio, furto e roubo caíram. Mas a sensação de segurança ou de insegurança aumentou. Então nós vamos alterar essa estratégia para garantir que a ação da polícia seja percebida, e a população se sinta segura. Penso que talvez a principal questão é acelerar a integração com a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, com presença do Estado no território.

P. – Como o Ceará pode, por meio da educação, tentar conter a criminalidade?

E. F. – A política de escola em tempo integral que estamos construindo vai ajudar a reduzir os riscos de violência. Queremos ao final do nosso governo ter 100% dos jovens do Ceará em escola de tempo integral. Todos os estados do país têm uma meta de chegar em 80% das crianças alfabetizadas no segundo ano em 2030. O Ceará já alcançou, em 2023, 85%. Das 100 melhores escolas de ensino médio, 23 são do Ceará. Do ensino fundamental, das 100 melhores do Brasil, de escola pública, 87 são do Ceará.

O Ceará tem esses melhores índices [na educação] do governador Cid [que governou o Ceará de 2007 a 2015] para o governador Camilo [2015-2022], a governadora Izolda [2022-2023] e Elmano. Antes, não. Tem gente que fala muito da educação do Ceará e, quando governou o Ceará, os índices não eram esses.

P. – O senhor está falando de quem?

E. F. – De quem governou antes.

P. – Qual marca o senhor quer imprimir para as pessoas associarem no futuro ao seu governo?

E. F. – Abrir o caminho do estado do Ceará, do projeto de energia renovável de hidrogênio verde, que pode mudar historicamente a economia do Ceará. Com o hidrogênio verde, podemos atrair uma nova indústria que pode se instalar no estado, com base em energia limpa.

RAIO-X

Elmano de Freitas da Costa, 54

Governador do Ceará, é formado em direito pela UFC (Universidade Federal do Ceará). Foi secretário de Educação de Fortaleza entre 2011 e 2012 na gestão da então prefeita Luizianne Lins (PT). Em 2012, perdeu a disputa para prefeito de Fortaleza. Exerceu mandatos de deputado estadual entre 2015 e 2022, quando foi lançado candidato a governador, elegendo-se no primeiro turno com 53,69% dos votos válidos. Antes, foi derrotado na disputa para vice-prefeito de Fortaleza, em 2016, e para prefeito de Caucaia (CE), em 2020. É filiado ao PT desde 1989.

JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress

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