Pianista Erroll Garner, um dos maiores do jazz, tem filme no festival In-Edit

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – Quando o cineasta João Moreira Salles perguntou ao pianista Nelson Freire se tinha alguma frustração, o músico respondeu: “Eu tenho uma inveja incrível de quem sabe tocar jazz”.

“Uma coisa que eu adoraria seria chegar assim e, de repente, improvisar. Eu tenho fascinação pelo Erroll Garner.”

No documentário “Nelson Freire”, de 2003, dirigido por Salles, o pianista aparece sentado no sofá, assistindo, embevecido, a uma antiga apresentação de Garner na TV. “Eu nunca vi ninguém tocar com tanto prazer. Ele tinha a alegria de tocar”, disse Freire.

A alegria que Freire sentia com a música de Erroll Garner é uma sensação constante ao assistir a “Misty – The Erroll Garner Story”, documentário dirigido pelo francês Georges Gachot sobre o icônico pianista norte-americano Erroll Garner (1921-1977).

O filme será exibido no Cinesesc, em São Paulo, dentro do festival de documentários musicais In-Edit, no próximo sábado (15), dia em que Garner completaria 103 anos. A sessão terá a presença do diretor, Georges Gachot, e do escritor e biógrafo James M. Doran, autor do livro “The Most Happy Piano”, ou o piano mais feliz, que serviu de base para o documentário. Uma segunda sessão acontece na Cinemateca Brasileira, na quinta (20), às 18h.

O título do documentário cita “Misty”, um “standard” do jazz e certamente a canção mais popular escrita por Garner. Diferentemente de muitos artistas famosos do jazz que sofreram durante a carreira com a falta de reconhecimento do público, Garner sempre fez sucesso de crítica e venda. Seus discos vendiam muito e ele foi, durante muito tempo, um dos jazzistas mais bem pagos do mundo.

Garner era um tipo peculiar —baixinho, com 1,57 metro, autodidata e improvisador. Foi o caçula de seis filhos de uma família pobre de Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, e aprendeu piano sozinho. Numa antiga entrevista mostrada no filme, Garner conta que um professor de piano foi à casa da família dar aula para um irmão. O pequeno Erroll ouviu a aula e imediatamente começou a tocar.

Garner nunca aprendeu a ler partituras e se dizia pouco preocupado com a técnica. Seu negócio era o sentimento que a música transmitia. Recusava-se a ensaiar com seus grupos. Nos shows, não havia repertório definido. Ele sentava ao piano e começava a tocar o que lhe dava na telha.

“No início era bem assustador”, diz no filme um contrabaixista que tocou por anos com Garner. “A gente tinha de ficar de olho nele e sair correndo atrás. Com o tempo, nos acostumamos.” A obsessão pelo improviso era tamanha que Erroll Garner não definia anteriormente o repertório sequer na gravação de seus discos. “Houve uma sessão em que Erroll gravou o suficiente para três LPs inteiros”, diz uma antiga namorada.

Georges Gachot diz que conheceu a música de Garner quando era criança e começou a aprender piano. “Meu irmão Pierre e eu éramos loucos pelos discos de Garner”, conta o cineasta, que dedicou o filme ao irmão. Para Gachot, Garner representa a total liberdade criativa do jazz.

“Ele era um artista que botava todo o sentimento, tudo que pensava, em sua música”, diz Gachot. “Ele não era um artista que revelava muito em entrevistas, mas quem ouvia seus concertos percebia o que ele estava sentindo”.

Há uma reveladora entrevista de Garner no filme em que o apresentador pergunta se ele havia sofrido, na carreira, algum tipo de racismo, e Garner diz que não. A declaração de Garner é contestada por vários depoimentos de parceiros e familiares, que relatam inúmeros casos em que o artista teria sido vítima de preconceitos.

“Quando você queria saber como Erroll estava se sentindo, era só ouvir a maneira como ele tocava em determinada noite. Havia noites em que ele estava muito feliz e outras em que você sentia a melancolia saindo de dentro dele”, diz um músico.

Gachot é um obcecado por música brasileira que já fez filmes sobre Maria Bethânia, Nana Caymmi e João Gilberto, mas diz que “já pode morrer” depois de terminar um filme sobre Garner, seu grande ídolo.

E depois de Garner, será que Gachot não pensa em filmar a vida de outro artista brasileiro? “Eu adoraria fazer algo com o Djavan, amo a música dele. Vou a Belo Horizonte ver um show de Djavan e espero que algo bom aconteça.”

MISTY – THE ERROLL GARNER STORY

Quando Sáb. (15), às 18h, no Cinesesc; Qui. (20), às 18h, na Cinemateca Brasileira

Onde Cineses – r. Augusta, 2075, São Paulo. Cinemateca Brasileira – Largo Senador Raul Cardoso, 207, São Paulo

Preço R$ 10 no Cinesesc; grátis na Cinemateca Brasileira

Link: https://br.in-edit.org/filmes/misty-the-erroll-garner-story/

ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress

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