’13 Sentimentos’, filme de Daniel Ribeiro, celebra a paixão dos ‘emocionados’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – João acreditava ter a vida resolvida. Tinha um relacionamento de dez anos, um roteiro prestes a virar filme e planos sobre como o futuro deveria ser. Até que tudo começou a dar errado. O namoro acabou, o filme empacou e as certezas se esfacelaram.

O protagonista de “13 Sentimentos”, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, é um homem em crise com as próprias idealizações. Primeiro longa de Daniel Ribeiro desde o celebrado “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, lançado há uma década, a produção acompanha as desventuras amorosas de João, interpretado por Artur Volpi.

Assim que termina o namoro, ele entra em um aplicativo de relacionamento e dá match com um homem que o convida para fazer sexo a três. João aceita, mas se frustra. No apartamento do casal, ele não consegue embarcar na empreitada em razão de bloqueios emocionais. No entanto, o que poderia ter terminado como um fracasso sexual se mostra uma oportunidade profissional.

Um dos cônjuges pede que o cineasta assuma a posição de voyeur e registre a transa dos dois para o Onlyfans, a plataforma em que os atores pornô têm criado canais pagos para lucrar com seus vídeos. Depois que a gravação faz sucesso, João se torna quase que por acaso diretor de filmes sexuais caseiros.

A nova carreira se desenvolve em paralelo à busca do protagonista por um novo amor. João, afinal, é um romântico inveterado. “Ele usa esse voyeurismo como um mecanismo de defesa”, diz Volpi. “Ele vive o sexo por meio do trabalho. Para mim, é um sinal muito claro de que existe uma questão.”

Outro sintoma desse problema é a dificuldade que o protagonista têm de viver na realidade. Ele se perde em devaneios e cria fantasias sobre os homens com os quais se encontra. É uma tentativa de controlar a própria vida como se ela fosse um roteiro.

“De repente, ele se depara com um futuro cheio de descontrole”, diz o diretor. “A idealização é uma forma de se apegar a um passado de segurança.”

Idealizar relações, aliás, foi algo que o próprio diretor fez quando ficou solteiro. “A história parte um pouquinho da minha experiência pessoal, mas acho que todo mundo faz isso também”, diz ele. “É um processo de tentar elaborar certas experiências por meio do filme.”

Foram justamente essas experiências que serviram de matéria-prima para Volpi construir o personagem. Na tela, ele mostra a timidez e a ingenuidade de quem começou a vida sentimental há pouco tempo. Também pudera. Foram dez anos de relação monogâmica.

“João parou no tempo”, diz o ator. “As referências dele são de dez anos atrás, mas o filme traz mudanças que aconteceram nos últimos 15 anos nas formas de se relacionar, o que acaba gerando desafios.”

Um deles é buscar por relações profundas em um mercado afetivo que despreza os emocionados —termo pejorativo usado para definir quem se apega facilmente. “Mas acho que João vai se conectar com o público exatamente por esse romantismo que pode parecer meio datado”, diz Ribeiro.

Sexo é outro assunto do longa. Com sua câmara, João registra diferentes práticas, das mais românticas, com olho no olho, às mais performáticas, nas quais o objetivo é seduzir o espectador. Para o diretor, as cenas de maior voltagem sexual representam uma forma de discutir as idealizações em torno do sexo.

“A formação sexual de homens acontece por meio da pornografia. Então, tudo acaba sendo muito falso”, diz o Ribeiro, acrescentando que as pessoas tendem a reproduzir em seus cotidianos o que veem na pornografia. “Sexo bom não é o performático, em que você está ali transando com alguém, mas parece que está fazendo para outra pessoa assistir.”

Nos últimos anos, a indústria teve debates acalorados sobre como filmar o sexo. As discussões ganharam fôlego em 2013, com o sucesso do filme “Azul é a Cor Mais Quente.” A atriz Léa Seydoux afirmou que as cenas de sexo que precisou fazer para o longa foram humilhantes e que tanto ela quanto Adèle Exarchopoulos se sentiram como prostitutas.

Para evitar essas situações, os produtores de “13 Sentimentos” apostaram no diálogo com os atores para entender quais eram seus limites. “Tivemos espaço para participar do processo criativo das cenas. Como a gente construiu isso juntos, tivemos segurança e ficamos confortáveis”, diz Artur.

Sexo não foi o único tópico delicado com o qual eles tiveram que lidar. Quando o trailer do filme foi divulgado, em maio, internautas criticaram aquilo que consideraram um retrato pouco diverso do universo gay. “O trailer é só um recorte, mas o filme traz mais diversidade”, diz o diretor.

Ribeiro, alçado à fama com um filme sobre um adolescente com deficiência visual que se apaixona por um colega de escola, deve lançar no ano que vem outro longa com temática LGBTQIA+, desta vez centrado em um casal trans.

O cineasta diz que narrativas como essas são importantes para criar novos paradigmas. “Faltam referências de romance, sexo e até de términos para a gente”, diz ele, para quem “13 Sentimentos” é uma celebração do romantismo. “Não precisa ter vergonha. Está cheio de romântico por aí. Procure o seu e sejamos românticos juntos.”

13 SENTIMENTOS

– Quando 13 de junho nos cinemas

– Classificação 16 anos

– Elenco Artur Volpi, Julianna Gerais, Marcos Oli e Michel Joelsas

– Direção Daniel Ribeiro

MATHEUS ROCHA / Folhapress

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