SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) admite acelerar a definição do vice na chapa, após manifestações públicas do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em apoio à escolha do ex-coronel da Rota Ricardo Mello Araújo (PL).
Segundo o entorno do emedebista, é possível que o nome seja sacramentado nas próximas duas semanas -o coronel é o franco favorito.
Até segunda-feira (10), aliados do prefeito ainda falavam em protelar a escolha, idealmente até o período das convenções partidárias, em julho. Eles se preocupam que Mello Araújo seja um nome muito radical, que possa afastar os eleitores de centro.
Na última segunda-feira, Tarcísio disse à imprensa que apoia o nome escolhido por Bolsonaro e cobrou agilidade na definição. “Vou estar fechado com o presidente Bolsonaro e entendo que, até pela mudança de cenário, é mais do que nunca importante fazer esse acerto o mais rápido possível.”
Depois da fala de Tarcísio, que é hoje o principal cabo eleitoral do prefeito, a campanha entendeu que não será mais possível adiar a decisão por muito tempo. Os dois devem almoçar nesta sexta-feira (14) e discutir o assunto.
Na quarta-feira (12), questionado por jornalistas, Nunes disse que o nome de Mello ganhou força e reforçou que sempre tem falado sobre o peso do PL, de Bolsonaro, na escolha.
“Estou recebendo agora no WhatsApp pessoas do Ceagesp [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo] me mandando vídeos e falando que ele acabou com a corrupção lá (…) Começa o processo das pessoas falarem positivamente”, afirmou.
O prefeito disse também que a decisão terá que ser conjunta e que está conversando com outros partidos.
“Conversei com Ciro Nogueira [PP], Renata Abreu [Podemos], Kassab [PSD], Paulinho da Força [Solidariedade] (…) Alguns deputados do PP já acham que não tem que ser [o coronel Mello]. É um processo da verdadeira democracia. Se todo mundo falasse amém não seria democracia”, afirmou.
O PSD de Gilberto Kassab, secretário de Tarcísio, delegou a decisão do vice para ele, assim como o Republicanos, partido do governador. Eles não irão se opor ao nome que for definido entre Tarcísio e Nunes.
Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, no início da semana, uma ala do PP chegou a manifestar descontentamento com o nome de Mello. Com o passar dos dias, porém, o clima está mais pacificado. Reservadamente, parlamentares da sigla já dizem que irão aceitar o nome do coronel -ressalvam, porém, que não vão dividir palanque com ele.
Aliados de Nunes avaliam que as demais legendas da coligação não devem criar grandes problemas, mas afirmam que será preciso “conversar um a um”.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a pressão para que Nunes escolha um vice bolsonarista e, assim, amarre o apoio do ex-presidente, cresceu depois que o coach Pablo Marçal (PRTB) entrou na disputa pela Prefeitura de São Paulo, ameaçando trazer para si o voto da direita conservadora e flertando com o apoio de Bolsonaro.
Após o surgimento de Marçal, bem colocado na última pesquisa Datafolha (a depender do cenário, entre 7% e 9%), o ex-presidente disse à Folha de S.Paulo que tem um compromisso com a reeleição de Nunes, mas voltou a cobrar a indicação de Mello Araújo para a chapa.
Mesmo depois da fala de Bolsonaro, Nunes evitou se comprometer com a escolha do ex-policial, que foi nomeado pelo ex-presidente para comandar a Ceagesp durante seu governo. O prefeito, porém, fez elogios a ele.
“É um nome que ele [Bolsonaro] tem muito apreço. Eu também tenho apreço, porque ele fez um trabalho muito importante na Ceagesp sobre um tema que todos nós combatemos, que é a corrupção. Ele pôs ordem naquilo”, disse o prefeito na semana passada.
A pré-campanha de Nunes teme que a indicação de Mello Araújo possa afastar eleitores mais ao centro. Eles avaliam que a radicalização seria prejudicial para o prefeito, considerando que o presidente Lula (PT) obteve 53% dos votos na capital no segundo turno de 2022.
Aliados também têm receio de que a escolha do coronel leve o eleitor a associar a pauta da segurança pública a uma responsabilidade do prefeito, e não do governador. Como mostrou o Datafolha, para 23% dos paulistanos, o maior problema da cidade de São Paulo é a segurança. Nunes quer evitar ser fustigado com base no tema.
Por outro lado, o entorno do prefeito pondera que a escolha de Mello Araújo como vice também pode ter o efeito contrário -eleitores preocupados com a segurança podem ficar satisfeitos com a escolha do coronel.
Políticos do estado avaliam que não há outro nome forte que empolgue para a vice.
Secretário de Relações Internacionais da prefeitura, Aldo Rebelo (MDB) era visto como uma boa opção para a vice –Tarcísio chegou a pedir que ele se filiasse ao Republicanos com esse objetivo.
Rebelo, porém, decidiu seguir no MDB, mesmo partido de Nunes, o que dificultou sua indicação. Segundo a lei eleitoral, ele precisaria ter deixado o cargo até a última quinta-feira (6) para poder ser vice do prefeito, o que não ocorreu.
Com Aldo fora do baralho, outras opções são as vereadoras Sonaira Fernandes (PL) e Rute Costa (PL).
Embora seja próxima de Bolsonaro e de Tarcísio, de quem foi secretária, a evangélica Sonaira tem um porém aos olhos do prefeito: foi contra a reforma da Previdência proposta por Nunes na Câmara e já fez críticas públicas a ele.
Rute Costa, mulher e evangélica, tem a vantagem de não desagradar muito a ninguém. Seu nome é defendido por uma ala do chamado “PL raiz”, anterior à chegada de Bolsonaro à sigla. Essa parcela do partido de Valdemar Costa Neto também cita a delegada Raquel Gallinati como opção, embora cada vez com menos frequência.
Outro concorrente a vice é o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos), que, no esforço para ocupar a vaga, tem acompanhado Nunes aqui e ali –de um jogo do Palmeiras à visita ao papa no Vaticano. Abduch, porém, contrariou os interesses de Tarcísio ao não aceitar deixar a Assembleia Legislativa para ser secretário e, sem o apoio do governador, dificilmente será escolhido vice.
ANA LUIZA ALBUQUERQUE E ARTUR RODRIGUES / Folhapress