Barbara e Carol vão às Olimpíadas duas décadas após primeira vez juntas

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Carol Solberg já era uma jovem estrela do vôlei de praia quando Bárbara Seixas foi escalada para jogar com ela um Campeonato Mundial Juvenil na Tailândia. Ganharam a prata, que repetiriam no ano seguinte, na Itália.

Aquelas pouca semanas juntas não marcaram a trajetória nem de uma, nem de outra. Carol ganhou outras mais de 50 medalhas em torneios FIVB. Bárbara, uma prata olímpica. Só dezesseis anos depois elas se reencontram como parceiras, e desta vez para um trabalho já inesquecível, uma vez que as levará à Olimpíada de Paris.

“A gente se conheceu quando jogou na quadra juntas, no Flamengo, quando a gente devia ter 13 anos”, Carol começa a puxar pela memória. “Uns 15, eu acho”, interrompe Bárbara. Talvez elas tenham se cruzado até antes, no pediatra ou no parquinho. Elas só não têm exatamente a mesma idade porque Bárbara nasceu três dias antes, no mesmo Rio de Janeiro.

São contemporâneas de tempo e de espaço. “Volta a meia jogávamos brasileiro de base. A gente se conheceu como qualquer outro jogador que joga vôlei de praia, você cruza sempre com as mesmas pessoas, né? Quem ganhava o Brasileiro automaticamente se classificava para o Mundial e depois tinha duas indicações do técnico escolhido para o torneio. Eram quatro atletas, e formavam os times que achavam que deveriam sido formadas”.

“Tudo era muito novidade, a gente era quase criança. Você viaja de avião, hotel, congresso técnico, é tudo novo”, recorda Carol, que já tinha boa experiência fazendo tudo isso, mas em outro papel, como filha de Isabel, que muitas vezes viajou para o Circuito Mundial com os filhos a tiracolo. Quando Carol e Maria Clara se tornaram atletas, a mãe é que passou a viajar com elas, como técnica, inclusive naqueles Mundiais de Base.

MUITA AREIA DEPOIS…

As parceiras não tiveram muito tempo para criar intimidade naqueles Mundiais Juvenis, mas dependiam de um entrosamento inexistente. “Eu lembro da cantada dela da bola. Até ela terminar a cantada eu já tinha colocado a bola lá longe”, ri Bárbara, enquanto Carol faz cara de quem não se lembra de nada daqueles jogos.

Entre 2004 e 2020, cada uma seguiu seu rumo, que virava e mexia se cruzavam, nos cantos mais diversos do mundo. O Brasil tinha direito a um número limitado de vagas na chave principal dos torneios do Circuito Mundial, e as demais precisavam jogar entre si no chamado “country cota”, uma fase preliminar ao qualifying.

Isso fez com que as duplas de um segundo escalão nacional se enfrentassem diversas vezes na temporada, valendo muito. Todas pagavam para ir ao Japão, por exemplo, mas só uma avançava. “Isso criou uma competividade muito grande entre as jogadoras da nossa geração, era todo mundo querendo a mesma coisa”.

Bárbara, que até então tinha uma carreira mais inconstante, chegou onde todo mundo queria chegar: os Jogos Olímpicos. Mais do que isso: foi prata na Rio-2016, com Ágatha. Carol, não. A parceria com a irmã foi prorrogada por mais tempo do que deveria, no entender da própria jogadora, que só foi respirar novos ares em 2016. Jogou com Rebecca, Ágatha, Juliana e Maria Elisa até o primeiro convite da nesta segunda-feira (17) parceira.

“Eu tinha acabado de fechar com a Talita, e segui no projeto com ela. Estava tentando mudar de posição, para a defesa, que era uma coisa que eu tinha um desenho. Mas vi que era um processo demorado, e eu não tinha muito tempo a perder. Passou um tempo e eu liguei de volta para a Bárbara”, lembra Carol.

No vôlei de praia existem duas posições, definidas pela posição defensiva: bloqueio, normalmente ocupada pela mais alta, e defesa. Carol e Bárbara têm estatura mediana para os padrões da modalidade, mas Carol tem os braços compridos, e por isso jogou a maior parte da carreira no bloqueio.

Naquele final de 2020, aos 33 anos, entendia que não tinha muito tempo a perder. Lembrou da oferta de Bárbara, que vinha com um brinde: trabalhar pela primeira vez com Letícia Pessoa, treinadora multicampeã, três vezes medalhista olímpica, e a quem conhecia desde criança.

ELA SEMPRE ACREDITOU

Letícia havia chegado ao “time Bárbara” para substituir o próprio marido da jogadora, Rico Freitas, filho de outra lenda do vôlei (Bebeto de Freitas), e técnico da prata olímpica no Rio. O casal havia encerrado a relação profissional, mantendo só a pessoal.

“Eu queria muito viver isso também, trabalhar com a Leti, então acho eu acabei indo para onde a Bárbara estava treinando”, explica Carol.

Na primeira conversa entre as novas companheiras, o papo não foi sobre Olimpíada. “Muito pelo contrário. A gente falou: ‘Cara, vamos ver qual é’. Só que a gente tinha uma técnica que a gente confiava muito, e ela acreditava que a gente poderia chegar longe como time”, continua a filha de Isabel.

O processo não foi fácil. “A gente foi jogar no México, três torneios, e foi terrível. Aí eu vi a provação, porque dava tudo errado. Lembro da gente no aeroporto, voltando, e eu pensando: ‘Será que isso vai dar certo. Meu Deus, será que eu ainda quero passar por isso? Será que ainda dá para jogar vôlei, meu Deus. Era uma porrada atrás da outra. Em uma a gente ficou em último, no outro não passou do country cota. Só que acho que isso fortaleceu muito a gente, também. É muita porrada, e você tem que manter a cabeça firma. Perder, perder, perder e continuar treinando. Sem patrocínio, a gente bancado. Isso fez da gente um time, foi nos dando força”, diz Carol.

No vôlei de praia, via de regra, as jogadoras contratam equipe multidisciplinar e pagam pelas viagens, cobrindo as despesas com patrocínio e premiação. Com resultados ruins, Carol e Bárbara não tinham nem uma coisa nem outra. E quando mesmo os resultados melhoraram, seguiram sem patrocínio.

A coisa só começou a melhorar recentemente. As jogadoras e a treinadora foram contratadas pelo Pinheiros em janeiro, vão a Paris no “Time Petrobras” e nesta segunda-feira (17) rodam o Circuito Mundial às custas da CBV, já que passaram a estar entre as três melhores duplas do país.

Agora, chegam a Paris em bom momento, como quartas colocadas do ranking mundial. “O que eu quero é que a gente se divirta como a gente conseguiu se divertir o ciclo inteiro. Os problemas que tiveram foram todos que estavam longe do nosso alcance, de saúde e de patrocínio. O tempo todo, na saúde e na doença a gente se divertiu. Eu só quero que a gente dê o máximo e se divirta lá”, diz Letícia.

DEMÉTRIO VECCHIOLI / Folhapress

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