PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A política francesa se misturou de vez com a Olimpíada de Paris. Nesta segunda-feira (17), a ministra dos Esportes e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, Amélie Oudéa-Castéra, aproveitou o ensaio da cerimônia de abertura, no rio Sena, para elogiar o pronunciamento feito na véspera por Kylian Mbappé, maior ídolo do futebol do país.
“Kylian falou de forma absolutamente exemplar. Com suas palavras, quis falar à juventude, em um momento totalmente inédito e decisivo para o futuro do nosso país”, disse a ministra à reportagem.
“Estamos vendo os extremos às portas do poder”, declarou Mbappé em entrevista coletiva da seleção francesa em Düsseldorf, na Alemanha, na véspera do jogo contra a Áustria pela Eurocopa. “Conclamo todos os jovens a irem votar. Cada voto conta. Espero que no dia 7 a gente faça a escolha certa e continue se orgulhando de vestir esta camisa”, acrescentou.
Nos dias 30 de junho e 7 de julho a França realiza eleições parlamentares, convocadas pelo presidente Emmanuel Macron após a derrota de seu partido, Renascimento, no pleito para o Parlamento Europeu.
As pesquisas indicam forte possibilidade de vitória da extrema-direita, que assumiria o poder três semanas antes do início dos Jogos Olímpicos. Oudéa-Castéra, cujo cargo está ameaçado, garantiu que isso não afeta a organização. “Nossa equipe está concentrada na missão, prosseguindo o trabalho para que os Jogos deem certo”, desconversou.
Cada comentarista político interpretou à sua maneira a menção genérica de Mbappé contra os “extremos”. Para a ministra, o craque se referia tanto à extrema-direita quanto à extrema-esquerda. O partido dela e de Macron é considerado de centro.
Mbappé tem uma boa relação com o presidente francês. Em fevereiro, foi convidado por Macron a um jantar em homenagem ao emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al Thani, no Palácio do Eliseu, residência presidencial.
Outros jogadores da França também se pronunciaram sobre as eleições. Marcus Thuram foi explícito: “É preciso lutar para que o RN não passe”, disse, referindo-se ao Reunião Nacional, maior partido de extrema-direita. Ousmane Dembélé deu a entender o mesmo, sem citar partidos. Mais cautelosos, Olivier Giroud e Benjamin Pavard apenas incentivaram os eleitores a não se absterem.
Segundo os responsáveis pela cerimônia de abertura dos Jogos, marcada para 26 de julho, o ensaio desta segunda-feira foi bem-sucedido. Ao todo, foram usados 55 das cerca de 90 embarcações que transportarão os atletas. “Hoje a precisão foi quase de um segundo exato”, garantiu Thierry Reboul, diretor de cerimônias dos Jogos.
Reboul disse à reportagem que foi testado o chamado “plano A”, em que os barcos farão um percurso de 45 minutos e 6 quilômetros entre as pontes de Austerlitz e Iéna, da Biblioteca Nacional até a Torre Eiffel. Segundo ele, porém, também são trabalhados cenários menores, “de contingência”, por razões meteorológicas e de segurança.
A ministra Oudéa-Castéra afirmou que só se trabalha com o “plano A, com A maiúsculo”, apesar do temor de um atentado.
Em maio, o governo francês anunciou ter desbaratado um plano terrorista visando o estádio de Saint-Étienne, uma das sedes do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress