Maior morcego das Américas é fotografado em caverna no Amapá

MACAPÁ, AP (FOLHAPRESS) – Uma bióloga conseguiu fotografar um Vampyrum spectrum, considerado o maior morcego das Américas. O registro ocorreu no dia 5 do mês passado, durante uma incursão de um grupo de pesquisadores em uma caverna da cidade amapaense de Tartarugalzinho, a 163 quilômetros de Macapá.

A autora da imagem foi Jennifer Barros, gerente do Programa Brasil da ONG Bat Conservation International, que trabalha em prol da conservação de morcegos.

O animal foi fotografado em meio à inspeção de uma caverna, num terreno particular, onde se suspeitava haver uma grande colônia de outras espécies. O flash acabou sendo ativado por um sensor de movimento.

“Na hora que consegui a foto, eu estava fazendo a amostragem de uma das cavernas, onde realizamos filmagens, para que por meio de um software fizéssemos a contagem de quantos morcegos vivem lá”, relembra ela. “Era o segundo dia de trabalho quando fui pega de surpresa pela aparição dele.”

Na avaliação dela, o animal provavelmente estaria caçando alguma presa —essa espécie é carnívora e se alimenta de aves, roedores, pequenos marsupiais e outros morcegos.

Outros pesquisadores, segundo a bióloga, também notaram a presença do V. spectrum em razão de seu tamanho.

A espécie é identificada principalmente por sua dimensão, que pode variar entre 70 centímetros e um metro de envergadura, e por apresentar orelhas grandes, longas e arredondadas, além de focinho mais robusto, longo e estreito que o de outros morcegos.

O grupo de pesquisadores estuda cavernas no estado para catalogar locais de reprodução e habitat desses mamíferos, a fim de preservá-los. De acordo com Barros, o projeto tem como objetivo combater o avanço da presença de humanos, com interesses comerciais, em áreas de cavernas.

“Estamos em diálogo com a prefeitura para tratar de ações para manter a preservação do local. Também vou apresentar os resultados desse projeto no Congresso Latino-Americano de Morcegos, no Peru, em agosto.”

O pesquisador Isaí Jorge de Castro, biólogo do Iepa (Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá), estuda a espécie V. spectrum desde 2006 —ele não integra o grupo de pesquisadores de Barros. Desde então, em mais de mil trabalhos de campo, ele afirma ter conseguido exemplares vivos apenas em três oportunidades, em Calçoene, Itaubal e Cutias do Araguari.

“Encontrá-lo é o sonho de todo pesquisador que estuda morcegos. Se fosse um garimpeiro, seria como encontrar uma pepita de ouro gigante ou um diamante raro”, compara ele.

Segundo o biólogo, o animal se reproduz uma vez por ano e raramente é visto. Além disso, por ser um indivíduo grande, é difícil capturá-lo.

“Utilizamos redes de neblina, feitas com fios bem finos de seda ou náilon. Essas redes medem geralmente dez metros de comprimento por três de altura, mas existem redes com outras dimensões. Também são utilizadas armadilhas harpas, mas pouco aqui no Brasil. E ambas, na maioria das vezes, ainda são insuficientes para capturar um V. Spectrum.”

Monogâmicos, esses morcegos vivem em abrigos como o oco de árvores grandes, com uma família em torno de cinco indivíduos, sendo um casal e outros jovens.

Sua maior ocorrência se dá em áreas do Brasil central até o sul do México, em pontos de florestas próximos a cursos d’água.

No Amapá, sua presença é mais recorrente no noroeste do estado, em área de terra firme, sobretudo na divisa do país com o Suriname, na região conhecida como Platô das Guianas.

CAIO COUTINHO / Folhapress

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