LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Portugal estreia na Eurocopa da Alemanha nesta terça-feira, dia 18, sob o impacto dos dois últimos amistosos preparatórios. Contra a Croácia, em Lisboa, o time criou e desperdiçou dezenas de oportunidades e perdeu o jogo por 2 a 1. Contra a Irlanda, em Aveiro, o bombardeio foi parecido –mas desta vez o time ganhou por 3 a 0. A diferença entre um jogo e outro: a presença de Cristiano Ronaldo. Contra a Irlanda, ele fez dois gols, um deles com sua assinatura inconfundível: ginga na frente do zagueiro e disparo reto e preciso no ângulo.
Ronaldo, que tem 39 anos, chega à sua sexta Eurocopa logo depois de ver o próprio nome em duas listas importantes. Ele é hoje o atleta mais bem pago do mundo de acordo com a revista americana Forbes, após ter ganho 240 milhões de euros (R$ 1,3 bi) ao longo de 2023 –algo como R$ 115 milhões por mês, quase R$ 4 milhões por dia. Também foi considerado o maior jogador europeu de todos os tempos pela revista britânica FourFourTwo, à frente dos lendários Johan Cruyff e Franz Beckenbauer.
Portugal tem alguns dos meio-campistas mais talentosos e criativos do futebol europeu, mas carece de bons finalizadores. Para ter sucesso na Eurocopa, conta com a eficiência de Ronaldo, o maior goleador da história do esporte, com 895 tentos (na estatística da Fifa, que contabiliza apenas jogos oficiais, ele está à frente de Pelé, que marcou em 767 oportunidades). Ronaldo também ganhou cinco vezes a Champions League europeia, principal torneio interclubes do mundo, e é detentor de cinco bolas de ouro de melhor jogador do planeta.
São dados impressionantes –mas não explicam inteiramente os números financeiros e esportivos que Ronaldo ainda ostenta, apesar de já ter passado de seu auge. Ele conquistou sua última bola de ouro em 2017, quando foi tricampeão europeu com o Real Madrid. Hoje Ronaldo joga no Al-Nassr de Riad –atuando no milionário, porém irrelevante, campeonato da Arábia Saudita.
“Ronaldo é um dos poucos esportistas a atingir a aura de popstar”, diz a pesquisadora Sofia Kousi, especialista em marcas da Nova SBE, uma das principais faculdades de economia da Europa de acordo com o ranking do jornal Financial Times. “Ele seguiu a trilha aberta pelo inglês David Beckham, o primeiro jogador a extrapolar o mundo do futebol e se constituir como uma marca relevante.”
Kousi vê algumas semelhanças entre Ronaldo e Beckham. “Ambos cuidam da imagem com o mesmo afinco que cuidam da forma física e são maridos de celebridades em suas respectivas áreas.” Beckham é casado com a cantora Victoria, que fez sucesso na virada do milênio com o grupo Spice Girls. A espanhola nascida na Argentina Georgiana Rodríguez, que vive com Ronaldo desde 2016, é uma das supermodelos europeias com mais seguidores nas redes sociais.
O valor das marcas dos atletas se tornou um novo campo de pesquisas na área acadêmica. Um estudo recente mostrou que a fama de determinados esportistas pode, entre outras coisas, trazer visitantes para seus países de origem. O tenista Novak Djokovic, por exemplo, ajudou a transformar a Sérvia em destino turístico na região dos Bálcãs. Quem visita a Ilha da Madeira, onde Ronaldo nasceu, pode tirar uma selfie ao lado de uma estátua de bronze do craque.
O sucesso dos atletas também influencia a imagem dos países. “Eu venho da Grécia, que como Portugal é uma nação do sul da Europa, e esses países costumam ter uma imagem humilde, nem sempre positiva”, diz Kousi. “Ronaldo mudou essa percepção ao mostrar um Portugal líder, vitorioso, vencedor.”
De acordo com Kousi, a administração da carreira de um jogador de ponta, nos dias de hoje, se assemelha à gestão de marcas. “Quando ele vai para um clube, são duas marcas que se associam. No auge da carreira, Ronaldo sempre esteve ao lado de grifes como Manchester United, Juventus, Real Madrid”, afirma Kousi. O astro francês Kylian Mbappé recentemente trocou o Paris Saint Germain pelo Real Madrid ganhando um salário menor. “Faz sentido, pois ele ganha mais ao se juntar a uma marca mais forte.”
Dos 240 milhões de euros que Ronaldo fatura por ano, aproximadamente 55 milhões –mais de R$ 300 milhões– vêm da publicidade, segundo a Forbes. Ronaldo faz propaganda de perfumes, academias de ginástica e cuecas, entre outras coisas. Ele ainda criou a grife “CR7 Lifestyle”, ao se associar a uma rede de hotéis. Quando vai a Madrid, cidade onde é ídolo, hospeda-se em seu próprio hotel, na Gran Vía –e a principal artéria do centro da capital espanhola se congestiona com fãs em busca de uma selfie.
Com 14 gols marcados, Ronaldo é também o maior goleador da história dos campeonatos europeus de seleções. Nesta Eurocopa, pretende ampliar a estatística. Portugal é dono do terceiro elenco mais valioso entre as seleções europeias, atrás apenas de Inglaterra e França, de acordo com um levantamento da revista britânica The Economist. Para confirmar os bons prognósticos de seus compatriotas, a seleção portuguesa precisa do poder artilheiro de Cristiano Ronaldo.
JOÃO GABRIEL / Folhapress