Universidades federais divergem sobre cancelamento de calendário acadêmico por greve

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As universidades federais atingidas pela greve de professores começam a repensar seu ano letivo, mais de dois meses após o início do movimento.

Parte delas decidiu suspender o calendário acadêmico, enquanto durar a paralisação, e admite terminar as atividades previstas para 2024 somente em 2025. Outras ainda não definiram o que fazer e enfrentam debates internos.

O Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior) consultou no início deste mês as 54 universidades em greve sobre a possibilidade de suspensão do calendário, visando evitar que estudantes sejam prejudicados. Mais de 30 responderam.

Algumas, como FURG (Universidade Federal do Rio Grande) e UFU (Universidade Federal de Uberlândia), resolveram cancelar seu planejamento deste ano. Outro grupo, composto por UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e UFPB (Universidade Federal da Paraíba), por exemplo, resolveu seguir com as atividades.

No caso paraibano, a resolução veio do reitor, Valdiney Gouveia. Os professores da instituição, em assembleia na última semana, haviam votado pela suspensão do calendário. Valdiney vetou na sexta-feira (14), desagradando a docentes e alunos, que protestaram.

Ainda há universidades que disseram ao Andes estarem deliberando sobre o ano letivo, sem data para definição dos rumos.

Noutra situação, a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), já fora da greve e com retorno às aulas no dia 10, decidiu readequar seu calendário e terminar as atividades previstas para este ano somente em fevereiro 2025.

Enquanto as instituições deliberam sobre o ano letivo, estudantes se dizem preocupados com o futuro.

Prestes a se formar em ciências contábeis na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Rodrigo Sousa, 23, não sabe se irá apresentar seu trabalho de conclusão quando agendado, para meados de novembro. A situação, relata, é “frustrante”.

A reportagem perguntou ao MEC (Ministério da Educação) sua posição sobre o calendário das universidades federais. O ministério de Camilo Santana respondeu com o link de uma notícia publicada sobre as negociações pelo fim da greve dos docentes, ignorando o questionamento.

GREVE ULTRAPASSA OS DOIS MESES SEM PERSPECTIVA DO FIM

A paralisação dos professores de universidades federais foi iniciada em 15 de abril. Eles pedem reajuste salarial e recomposição do orçamento dos centros de ensino.

Os servidores reivindicam aumento de 3,69% em agosto deste ano, 9% em janeiro de 2025 e 5,16% em maio 2026. Brasília oferece 9% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026.

O governo Lula (PT) oferece reajuste a partir de 2025 e afirma, através do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, não ter possibilidade de melhorar a proposta.

Segundo os grevistas, a greve não termina enquanto Brasília resistir ao acréscimo já neste ano. A gestão petista tenta acalmar os ânimos com outras propostas.

Em meio a cobranças, o governo lançou um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na segunda-feira (10) para as universidades federais e para os hospitais universitários, com previsão de R$ 5,5 bilhões em investimentos.

O ministro da Educação também anunciou um acréscimo de recursos para o custeio das instituições federais, em um total de R$ 400 milhões. Desse total, R$ 279,2 milhões serão para as universidades e outros R$ 120,7 milhões para os institutos federais.

Assim, o orçamento de 2024 dos centros de ensino chega a R$ 6,38 bi. O valor já é superior aos R$ 6,26 bi de 2023.

Os valores, porém, já eram previstos no orçamento deste ano e foram somente adiantados, como mostrou a Folha de S.Paulo.

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UNIVERSIDADES FEDERAIS AINDA EM GREVE*

1 – Universidade Federal do Rio Grande

2 – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira

3 – Universidade Federal do Ceará

4 – Universidade Federal do Cariri

5 – Universidade de Brasília

6 – Universidade Federal de Juiz de Fora

7 – Universidade Federal de Ouro Preto

8 – Universidade Federal de Pelotas

9 – Universidade Federal de Pelotas

10 – Universidade Federal de Viçosa

11 – Universidade Federal do Espírito Santo

12 – Universidade Federal do Maranhão

13 – Universidade Federal do Pará

14 – Universidade Federal do Paraná

15 – Universidade Federal do Sul da Bahia

16 – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

17 – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

18 – Universidade Federal de Rondônia

19 – Universidade Federal de Roraima

20 – Universidade Federal de São João del-Rei

21 – Universidade Federal de Pernambuco

22 – Universidade Federal de Catalão

23 – Universidade Federal do Oeste da Bahia

24 – Universidade Federal de Santa Maria

25 – Universidade Federal de Tocantins

26 – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

27 – Universidade Federal Fluminense

28 – Universidade Federal de Alagoas

29 – Universidade Federal do Agreste de Pernambuco

30 – Universidade Federal Rural de Pernambuco

31 – Universidade Federal de São Paulo

32 – Universidade Federal da Bahia

33 – Universidade Federal do ABC

34 – Universidade Federal Rural da Amazônia

35 – Universidade Federal Rural da Amazônia

36 – Universidade Federal de Campina Grande

37 – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

38 – Universidade Federal do Triângulo Mineiro

39 – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

40 – Universidade Federal do Acre

41 – Universidade Federal de Lavras

42 – Universidade Federal de São Carlos

43 – Universidade Federal de Goiás

44 – Universidade Federal de Santa Catarina

45 – Universidade Federal do Amapá

46 – Universidade Federal do Sergipe

47 – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

48 – Universidade Federal da Integração Latino-Americana

49 – Universidade Federal do Oeste do Pará

50 – Universidade Federal de Mato Grosso

51 – Universidade Federal de Uberlândia

52 – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

53 – Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri

54 – Universidade Federal do Piauí

*Segundo o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior)

BRUNO LUCCA / Folhapress

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