SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para filmar seu novo longa de ficção, que recebeu o prêmio do público na última edição do Festival Mix Brasil, Ricardo Alves Jr. partiu de alguns elementos reais. Suas quatro protagonistas Bramma, Aisha, Will e Igui , têm fora das telas o nome das personagens que interpretam, e trazem para a cena a amizade que mantêm longe das câmeras, além de suas relações genuínas com a quinta personagem, a cidade de Belo Horizonte.
“Tudo o que Você Podia Ser” é um filme queer diferente. Não é a história idílica do amor em ambiente seguro, como um “Me Chame Pelo seu Nome”, e também não é mais um longa trágico sobre LGBTfobia, ou tampouco sobre se assumir. Não que o preconceito não esteja lá, ele está, mas longe do centro do filme, uma história de acolhimento dentro de um grupo de amigas que se inventou como uma família.
A trama acompanha momentos das amigas, pessoas trans, travestis e não binárias, por Belo Horizonte. Enquanto elas se reúnem para comer, dançar e conversar, o filme explora o que acontece na vida de cada uma das quatro a partir de cenas cotidianas, quase banais. Como em um “Antes do Amanhecer”, é o diálogo que carrega o filme.
Aisha, personagem da atriz Aisha Brunno, vai deixar a capital mineira após passar entre os primeiros lugares de um vestibular para cursar ciências sociais. Igui, uma pessoa não binária interpretada por Igui Leal, foi aprovada para um doutorado em Berlim, apesar de ainda não saber como vai custear a oportunidade.
Bramma, interpretada por Bramma Bremmer, enfrenta questões familiares e aprende que existe vida após o diagnóstico de HIV. Acompanhando as jornadas das amigas, Will, feita por Will Soares, tenta entender seu lugar no mundo.
Segundo o diretor, o projeto do filme surgiu em 2020, em meio à pandemia e durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, período de crescimento de uma onda reacionária e dos ataques à comunidade LGBTQIA+.
Ele, que também dirige para os palcos, convidou Bremmer, que já conhecia da cena teatral da capital mineira, e ela reuniu seu grupo de amigas. A experiência delas com o teatro contaminou as gravações pela improvisação, uma das apostas do diretor para tentar espelhar a amizade das artistas para as câmeras.
“Comecei a pensar em fazer um filme que apontasse para um outro tipo de representação dessas personagens”, afirma o diretor. “Os filmes que marcaram minha geração sempre trabalhavam com a morte, num lugar da culpa colocada na nossa sexualidade. Como a gente pode construir uma narrativa em que essas personagens exijam um futuro para elas?”
Bramma Bremmer destaca que ela, como suas amigas, esteve no projeto como atriz. Apesar de seu gênero ser importante para a identificação com a personagem, ela não está lá só por causa dele, mas pelo seu ofício. Essa preocupação em não ser reduzida a uma única característica também permeou a trama do longa.
“Isso era uma fala de todas nós. Não queríamos falar mais uma vez sobre gênero e sexualidade em primeiro plano”, ela diz. “Essas questões já estavam em nós, nossos corpos já estavam presentes, queríamos mesmo falar de outras coisas que fazemos como qualquer outra pessoa a gente ama, chora, trabalha, bebe cerveja.”
“Cada pessoa trans, como cada pessoa cis, é diferente. A gente não nega os dramas, essa parte também está presente, mas mostra que as pessoas dentro dessa identidade não são todas iguais, cada uma tem sua personalidade.”
TUDO O QUE VOCÊ PODIA SER
Quando Estreia nesta quinta (20) nos cinemas
Classificação 16 anos
Elenco Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Igui Leal e Will Soares
Produção Brasil, 2023
Direção Ricardo Alves Jr.
DIOGO BACHEGA / Folhapress