SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo da Espanha desaprovou a nova visita do presidente da Argentina, Javier Milei, programada para esta sexta-feira (21) ao país. Em maio, em uma primeira viagem, o líder sul-americano provocou uma crise diplomática ao fazer críticas à esposa do premiê Pedro Sánchez durante evento da ultradireita em solo espanhol –e se recusar a pedir desculpas.
O Ministério das Relações Exteriores da Espanha aponta o que chama de “desvio das normas diplomáticas esperadas” de Milei, que decidiu evitar encontros com os principais funcionários do governo espanhol durante a estadia dele no país.
Após o tom pouco diplomático do argentino, Madri considerou óbvio que ele não fosse recebido pelo rei Felipe 6º nesse retorno. “Acho que é lógico, o rei é o chefe de um Estado no qual o presidente Milei desrespeitou o governo”, disse a ministra da Defesa da Espanha, Margarita Robles, ao canal Telecinco nesta quinta-feira (20).
Milei deve desembarcar na sexta-feira na base aérea de Torrejón de Ardoz, nos arredores de Madri. O argentino receberá um prêmio no Instituto Juan de Mariana, um think tank libertário dedicado à promoção de políticas de livre mercado, economia liberal e defesa das liberdades individuais –pautas prioritárias do presidente argentino.
Ele também será agraciado com uma medalha da líder regional conservadora de Madri, Isabel Díaz Ayuso, uma opositora ferrenha de Sánchez.
Não estão previstas reuniões com o premiê espanhol, nem com o rei, nem com o chanceler do país. “É surpreendente e atípico que um presidente estrangeiro não solicite, em nenhuma de suas primeiras visitas à Espanha, uma reunião institucional com seu homólogo, como todos os chefes de Estado do mundo fazem”, disse a diplomacia de Madri em comunicado.
“Isso destaca um desvio das normas diplomáticas esperadas e sugere uma falta de prioridade nas relações formais entre Estados”, acrescentou. O ministério expressou a esperança de que Milei respeite as instituições espanholas nesta visita, evite gestos considerados rudes em Madri e alinhe suas ações com “o vínculo histórico e fraternal entre os dois países”.
Durante sua primeira visita à Espanha no mês passado, Milei também recusou ter reuniões com autoridades de alto escalão. Durante um discurso em um comício de ultradireita em Madri naquela viagem, Milei chamou a esposa de Sánchez, Begoña Gómez, de “mulher corrupta” e descreveu o socialismo como “amaldiçoado e cancerígeno”.
O presidente argentino estava fazendo eco às críticas da direita espanhola contra a esposa de Sánchez, que foi alvo de uma investigação por supostos tráfico de influência e corrupção.
Com a crise diplomática iniciada em maio, o governo espanhol retirou sua embaixadora de Buenos Aires. O governo argentino descartou uma resposta a esse gesto, dizendo que a crise não é “entre países”, mas “entre pessoas”.
O encontro com Ayuso, uma figura em ascensão na direita e a face visível da ala linha-dura do Partido Popular, também engrossa o caldo de controvérsias da viagem de Milei.
De acordo com fontes da chancelaria espanhola, que falaram sob anonimato à agência de notícias AFP, o encontro demonstra deslealdade de Ayuso em relação às instituições espanholas, uma vez que ela não teria informado o Ministério das Relações Exteriores com antecedência sobre seu encontro com um líder estrangeiro, conforme exigido por lei.
Ayuso defendeu nesta quinta seu encontro com Milei e disse que é uma honra recebê-lo em Madri.
O presidente argentino, na última terça-feira (19), chamou Sánchez de covarde durante uma entrevista a um canal argentino. Segundo Milei, o premiê espanhol enviou “todos os seus ministros para insultá-lo”. A origem do conflito está nos comentários feitos pelo ministro dos Transportes da Espanha, Óscar Puente, no início de maio, que sugeriu que Milei tomava drogas ao fazer seus discursos, ao que o líder argentino respondeu assegurando que o governo de Sánchez estava trazendo “pobreza e morte” ao seu povo.
Redação / Folhapress