Itamar Vieira Junior estreia nos livros infantis com trama de crianças trabalhadoras

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O público infantil não deve ser poupado de conhecer essa realidade”, afirma Itamar Vieira Junior que em seu primeiro título infantojuvenil, “Chupim”, quer direcionar o olhar atento e curioso das crianças para a desigualdade social do Brasil.

No livro, o autor apresenta Julim, um menino cuja família vive e trabalha em uma plantação de arroz. O cenário não é estranho aos leitores de “Torto Arado”, pois também é num arrozal que se passa a história das irmãs Bibiana e Belonísia no best-seller publicado em 2019.

A narrativa, porém, não carrega a dureza das experiências de vida de um adulto, mas a leveza e a ingenuidade das impressões de um menino que precisa trabalhar, junto de outras crianças, espantando os chupins, pássaros pequenos e de penas escuras que querem comer os grãos da colheita.

As pinturas da artista plástica Manuela Navas, que fez telas em óleo exclusivamente para a narrativa, completam o livro que está em pré-venda no site Baião a partir desta sexta (21), com lançamento marcado para 9 de agosto.

“A criança tem um encantamento que talvez o adulto tenha perdido, ele [o Julim] está numa fazenda onde as pessoas trabalham, inclusive as crianças. Mas elas fazem esse trabalho como se fosse uma diversão, porque na cabeça delas é correr com os pássaros.”

Itamar diz ter sido desafiador contar a história do primeiro dia de trabalho de Julim no campo e que, para isso, precisou evocar a criança que ele mesmo foi para adaptar sua linguagem. Assim, poderia pensar como contrapor a visão dos adultos que vivem e trabalham no campo, que relata em “Torto Arado”, com a das crianças, que aparecem em uma das passagens daquele livro mas não têm sua subjetividade abordada.

Julim tem sua própria percepção do entorno, estabelece conexões com o local onde mora, observa os mais velhos e pensa em soluções para os problemas que enfrenta. “A ideia não é educar as crianças com essa história, mas estimulá-las a pensar, a refletir sobre o mundo a sua volta, sobre a relação que elas estabelecem com os animais e com o ambiente”, afirma.

A ave de penas escuras é apresentada ao protagonista como uma praga que precisa ser espantada. Mas Julim ao ver os chupins não os acha tão assustadores —vê apenas um pequeno ser que quer se alimentar. “Quando descobre que a praga é o pássaro, ele estabelece uma outra relação com esse personagem. O pássaro tem vida, tem filhos, tem família, é um ser que merece respeito. Para a criança isso é muito natural.”

“Chupim” é uma história que pode ter múltiplas interpretações, e pensar a diferença entre a relação das crianças e dos adultos com os animais é uma delas, segundo Itamar.

Outro ponto que quer abordar “sem rodeios” é a desigualdade social. “Assim como tem crianças que podem frequentar boas escolas para ter uma boa educação, tem crianças que coletam lixo, vendem bala em semáforo ou têm seu trabalho explorado no campo.”

O protagonista da história sabe que a família precisará sair daquela plantação em busca de uma nova moradia quando a colheita terminar, então pensa em uma solução que lhe parece simples, “assim como o é o desejo do pássaro de voar”.

Para ele, o chupim não é um inimigo, mas um aliado que, ao deixar cair outros grãos de arroz enquanto alça voo, pode ajudar a semear novos campos para que sua família viva neles.

“Essa vontade de sobreviver [do Julim] faz parte do cotidiano de milhares de crianças no Brasil, por não saber o que vai ser na semana seguinte. E se não tiver trabalho? Como vai ser para alimentar as famílias? Isso faz parte do cotidiano da maior parte das crianças.”

Itamar diz acreditar que temas como desigualdade social, racismo e aquecimento global não devem ser omitidos das crianças, mas reconhece que nem sempre precisam ser abordados nas obras infantis. Cabe a cada escritor escolher como se comunicar com seu público.

O autor também diz que se sentiu motivado pelo desafio de adaptar sua linguagem para um novo público. “Quem sabe não tem outras histórias por aí?”, diz, apesar de ainda não ter planos para novos títulos como “Chupim”.

CHUPIM

– Preço R$49,90; e-book R$34,90

– Editora Baião

– Link: https://baiaolivros.com.br/

CATARINA FERREIRA / Folhapress

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