Após deixar prisão, Fujimori ingressa no partido da filha e volta à política do Peru

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-ditador do Peru Alberto Fujimori (1990-2000) anunciou que se filiou ao partido político Força Popular, liderado por sua filha Keiko. O retorno à política de Fujimori, 85, ocorre seis meses depois de deixar a prisão. Agora, já é cotado por membros de sua nova sigla a lançar candidatura à Presidência ou ao Senado em 2026.

Condenado a 25 anos de reclusão por crimes contra a humanidade devido a abusos de direitos humanos cometidos durante seu governo, Fujimori foi solto por razões humanitárias em dezembro de 2023, após ficar detido por mais de uma década, para cumprir o resto da pena em casa.

Uma das acusações contra ele se referia aos massacres em Barrios Altos (1991) e La Cantuta (1992). Na ocasião, um esquadrão da morte do Exército, o chamado grupo Colina, matou 25 civis, incluindo uma criança, em uma suposta operação antiterrorista contra a guerrilha Sendero Luminoso.

O anúncio do retorno de Fujimori à política foi feito por meio de publicação na rede social X, em que aparece ao lado de Keiko.

O subsecretário-geral nacional do Força Popular e porta-voz do partido, o ex-deputado Miguel Torres, disse ao jornal peruano El Comercio que uma candidatura de Fujimori em 2026 “seria extraordinária”.

“Se ele será candidato ou não é uma questão que ele e sua família devem avaliar. Para nós, é claro que isso seria extraordinário. Seria extraordinário para ele reintegrar-se plenamente na atividade política, mas agora não estamos definindo e nem lançando uma candidatura”, disse Torres.

Em maio, Fujimori afirmou nas redes sociais que recebeu o diagnóstico de um tumor maligno na língua, onde sofre de uma lesão cancerígena há mais de 27 anos.

“Justo agora que reconquistei minha liberdade, tenho que enfrentar uma nova batalha. Os resultados confirmam um novo tumor diagnosticado como maligno, motivo pelo qual vou iniciar um tratamento ao lado da minha família”, disse Fujimori à época, em vídeo publicado no X.

Em 2018, Fujimori revelou um tumor no pulmão. Ele também convive com problemas cardíacos e tem hipertensão.

O porta-voz do Força Popular declarou que a recuperação da saúde de Fujimori viria antes de qualquer plano político, mas afirmou que a filiação era um sinal de que o fujimorismo estaria “mais unido do que nunca”, reforçando que o partido “sempre teve Alberto Fujimori como expressão do que deveria ser um presidente da República”.

O ressurgimento da figura política mais forte do Peru nas últimas décadas ocorre em um momento de recorrente instabilidade política. Desde 2016, o país já teve seis presidentes, dos quais três foram depostos pelo Congresso. A atual líder, Dina Boluarte, 62, é dependente da bancada fujimorista. Altamente impopular, hoje é praticamente refém do Legislativo, que, por sua vez, tem 84% de desaprovação.

Boluarte vem sendo investigada por enriquecimento ilícito. Uma apuração aberta pela Procuradoria peruana encontrou em suas contas US$ 300 mil (cerca de R$ 1,6 milhão), além de três relógios Rolex e outras joias. Ela afirmou em audiência no Ministério Público que os relógios haviam sido empréstimos de um amigo, o governador de Ayacucho, Wilfredo Oscorima —este declarou que os objetos não lhe pertenciam e que já haviam sido devolvidos a seu dono.

Em abril, o jornalista Gustavo Gorriti, 76, tornou-se alvo de uma investigação da Procuradoria nacional, em um movimento visto como orquestrado por políticos ligados a Fujimori. Gorriti é conhecido por suas pioneiras reportagens sobre o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso e sobre a corrupção no Peru, que levaram alguns dos ex-presidentes do país à prisão.

A acusação é a de que Gorriti teria interferido e direcionado as investigações da Equipe Especial Lava Jato no Peru em troca de informações privilegiadas para publicar em seu site, o IDL-Reporteros. A apuração se estende também a dois promotores que fizeram parte da força-tarefa, Rafael Vela e José Domingo Pérez.

Redação / Folhapress

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