Ex-Rota indicado a vice de Nunes reage a fogo amigo e diz que imagem negativa com pobres é narrativa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O nome indicado para vice da chapa de Ricardo Nunes (MDB), o ex-comandante da Rota Ricardo Mello Araújo (PL), rebateu nesta segunda-feira (24) fogo amigo que o acusa de dificultar a campanha à reeleição do prefeito de São Paulo na periferia.

Postagem de Mello Araújo resgata uma ação social feita por ele quando estava à frente da Ceagesp, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), e se refere ao que chama de narrativas.

“Vamos lembrar, principalmente para aqueles que falam que tenho problemas com a população mais carente, para aqueles que criam narrativas”, escreveu.

No vídeo, uma mulher agradece a Mello Araújo pela entrega de alimentos para uma comunidade que sofreu um incêndio, em Ermelino Matarazzo, periferia da zona leste de São Paulo.

“Agradeço ao presidente Bolsonaro, à família Ceagesp, aos permissionários em uma época em que fazíamos a diferença em nosso país. Fizemos diversas ações como esta, sempre visando ajudar ao próximo”, acrescentou o policial.

Um seguidor respondeu à postagem: “O sistema não quer o senhor como vice-prefeito, se mantenha forte e resiliente!”.

As críticas ao policial da reserva partem de aliados de Nunes que, nos bastidores, levantam frase sobre abordagens na periferia e sua passagem pelo batalhão policial conhecido pela letalidade como fatores que podem fazer com que a respingar na imagem do prefeito.

O clima no entorno do pré-candidato à reeleição é de velório diante da indicação do policial militar, visto como alguém que trará mais ônus do que bônus à campanha.

Para alguns, ainda é possível reverter até agosto a escolha, imposta pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, com endosso do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O nome do oficial havia sido levado pelo prefeito no começo do ano, mas a esperança da campanha era escolher um vice mais moderado.

Mello Araújo ganhou força apenas após a entrada do coach Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, pois, até então, o prefeito havia se mantido como o único candidato associado ao campo da direita. Bolsonaro se manteve irredutível sobre o nome do ex-Rota, e o governador passou a endossar o padrinho político e tomar as rédeas da definição.

A confirmação da indicação a vice ocorreu na última sexta-feira (21), em anúncio feito por Tarcísio, ao lado do prefeito.

A reportagem conversou com diversos integrantes de partidos da coligação que citam, principalmente, um grande receio sobre o impacto da presença do coronel da reserva na periferia. Aliados se preocupam, inclusive, se o crime organizado permitirá que Mello Araújo faça campanha em certos locais dominados pelo tráfico.

Para criticar a chapa, a oposição usará uma declaração de Mello Araújo na qual defendeu a diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins (área nobre de São Paulo) e na periferia.

“É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”, disse o ex-Rota ao UOL em 2017.

Outro receio é que a escolha leve o eleitor a associar a pauta da segurança pública a uma responsabilidade do prefeito, não do governador. Como mostrou o Datafolha, para 23% dos paulistanos, o maior problema da cidade é a segurança. Nunes quer evitar ser fustigado com base no tema.

Em seu primeiro evento público após o anúncio do coronel como seu vice, Nunes ouviu críticas à aliança, segundo a coluna Painel, da Folha de S.Paulo.

Ele participou, no sábado (22), de inauguração de um campo de futebol na Vila dos Andrades, na zona norte da capital.

No palco, ao lado de Nunes, Guilherme Corrêa, líder comunitário e membro do movimento Salve Periférico, disse que viu no noticiário que Bolsonaro estava indicando Mello Araújo.

“Nós, que somos favela, não aceitamos mais armas na comunidade. A gente quer livros, Bíblia, pessoas com o olhar social. Favela é tudo menos arma. Favela não tem vagabundo”, disse Corrêa.

ARTUR RODRIGUES / Folhapress

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